Frei Bartolomeu dos Mártires: um novo santo português
Rui Saraiva – Porto
No passado mês de julho foi acolhido com júbilo em Portugal o anúncio do Vaticano sobre a aprovação da canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires. A Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou em nota que o novo santo português é “um grande modelo para a renovação da Igreja”.
Celebração em Braga
No próximo domingo, dia 10 de novembro, a Catedral de Braga acolherá uma Solene Eucaristia na qual será lido o decreto através do qual o Papa Francisco promulgou a canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires. Uma decisão por critério equipolente, ou seja, dispensada de milagre.
A presidir a esta celebração eucarística estará em Portugal o Cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos. Uma celebração que será concelebrada por D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, D. Anacleto Oliveira, Bispo de Viana do Castelo e pelo Superior da Ordem Dominicana, Frei José Nunes.
A procissão de início da Eucaristia, em direção à Catedral de Braga, terá início na Igreja de S. Paulo, no Seminário Conciliar de Braga, que foi fundado, precisamente, por Frei Bartolomeu dos Mártires quando foi bispo de Braga entre 1559 e 1582.
Frei Bartolomeu dos Mártires
Recordemos que em 2014 assinalaram-se os 500 anos do nascimento de Frei Bartolomeu. Nessa ocasião a Conferência Episcopal Portuguesa pronunciou-se realçando que o antigo bispo da região onde hoje estão as dioceses de Bragança-Miranda, Braga, Viana do Castelo e Vila Real, viveu “em tempos de uma enorme crise epocal” e foi “testemunha” de que “as reformas na Igreja não só são necessárias como possíveis”.
Destaque para as palavras de D. Manuel Clemente Cardeal-Patriarca de Lisboa que assinalou em 2014, à Agência Ecclesia, que Frei Bartolomeu dos Mártires desenvolveu uma notável formação do clero e do povo de Deus e de grande proximidade, sendo um dos “exemplos mais estimulantes” de trabalho pastoral na história da Igreja em Portugal.
Também em 2014, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, sublinhou o contributo de D. Frei Bartolomeu no Concílio de Trento não tendo medo de enfrentar o tempo que viveu de crise profunda da Igreja.
D. Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo, que levou a efeito um ano jubilar por altura do cinquentenário de Frei Bartolomeu, em 2014, assinalou, também à Agência Ecclesia, a sua figura marcante e muito querida dos diocesanos de Viana.
Bartolomeu Fernandes nasceu a 3 de maio de 1514 em Verdelha, Mártires, na região de Lisboa, no seio de uma família humilde. Ingressou na Ordem Dominicana a 11 de Novembro de 1528. Só começou o seu primeiro curso de Teologia em 1542, aos 28 anos de idade. É desse ano a referência aos seus primeiros trabalhos sobre a Suma Teológica de São Tomás de Aquino. Em 1551 recebeu em Salamanca o grau de Mestre em Teologia. Em 1552, foi chamado a Évora a fim de exercer a função de Mestre de D. António, futuro Prior do Crato e pretendente à coroa portuguesa.
Em 1557 torna-se Prior do Convento de Benfica, mas permanece no cargo por pouco tempo. Em 1558, D. Frei Baltasar Limpo, até então arcebispo de Braga morre, sendo necessário nomear um substituto para a mais antiga diocese do reino. Frei Bartolomeu foi o escolhido.
Na diocese de Braga, preocupado com a pouca preparação do clero e a falta de conhecimento da doutrina católica por parte dos fiéis, D. Frei Bartolomeu dos Mártires escreveu um catecismo. Este foi distribuído a todos os clérigos do Arcebispado de Braga. Estava dividido em duas partes: na primeira uma exposição do Pai Nosso, da profissão de fé, dos Dez Mandamentos, dos pecados capitais e dos sacramentos. A segunda parte possuía práticas e sermões a serem lidos aos fiéis aos domingos e nos dias de festa. Uma obra que se difundiu por todo o país.
Com este catecismo, Frei Bartolomeu conseguiu atingir também as camadas mais simples da população, abordando a doutrina cristã em modo acessível. Bartolomeu foi um dos defensores do princípio da correção fraterna, adotando a correção dos hereges em segredo, ao invés de enviá-los para o Santo Ofício, ou de julgá-los em tribunais episcopais; com isso, tornava-se possível poupar o indivíduo de uma pena mais dura e da exposição pública.
Arcebispo de Braga
Muito importante no percurso de Frei Bartolomeu, arcebispo de Braga, foram as visitas pastorais. Realizou mais de 90 visitas em todas as 1260 paróquias que faziam parte da Arquidiocese de Braga.
Destacou-se por aplicar um verdadeiro programa de reforma pastoral em Braga do qual se destacam alguns vetores essenciais: o ensino da doutrina cristã e a obrigatoriedade da homilia.
S. Bartolomeu dos Mártires viveu num tempo de crise na Igreja no século XVI. A sua atuação durante o Concílio de Trento foi notável como defensor de um tempo de renovação e disso foi testemunha.
Esteve presente nas reuniões de 1562 e 1563, na qual apresentou 268 petições. Defendeu a primazia bracarense em oposição ao Arcebispo de Toledo. Procurou aplicar as normas de Trento através do Sínodo Provincial de 1566. Encontrou resistência nas conservadoras estruturas eclesiásticas de Braga. Mas isso não o impediu de privilegiar a formação dos futuros presbíteros com a fundação de um seminário.
Frei Bartolomeu dos Mártires foi um bispo popular, preocupado com as questões sociais e empenhado nas obras de caridade. Resignou em 1582. A 16 de julho de 1590 faleceu em Viana do Castelo no Convento de Santa Cruz. Por sua vontade foi nesse convento que foram depositados os seus restos mortais. No coração do povo ficou conhecido como “arcebispo santo, pai dos pobres e dos enfermos”.
Bartolomeu dos Mártires foi declarado venerável a 23 de março de 1845 pelo Papa Gregório XVI e beato a 4 de novembro de 2001, por João Paulo II. Em 2016, o Papa Francisco autorizou a canonização do beato Bartolomeu dos Mártires sem a atribuição de um milagre e a 5 de julho deste ano de 2019 promulgou o decreto de canonização.
Na Solene Eucaristia de domingo, 10 de novembro, na Catedral de Braga, será anunciada a santidade de Frei Bartolomeu dos Mártires. Na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dos bispos de Portugal e da Galiza e de autoridades civis, militares e académicas. Portugal tem um novo santo: S. Bartolomeu dos Mártires.
Laudetur Iesus Christus
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