Coluna mariana retorna à Cidade Velha de Praga
Alina Tufani – Cidade do Vaticano
“Acompanho a construção da Coluna Mariana que começou hoje com a oração!”, anunciou na segunda-feira, 17, em sua conta no Twitter o cardeal Dominik Duka, arcebispo de Praga, comemorando o início dos trabalhos prévios à construção do monumento. O post do cardeal mostra a foto da área da praça onde, pela manhã, um grupo de trabalhadores municipais isolou uma área de 7,5 x 7,5 m² e começou a remover os paralelepípedos, o que permitirá o devido estudo arqueológico antes da construção.
Da controvérsia à reconciliação
Desde 1989, após a queda da União Soviética, a restituição da imagem mariana à Praça da Cidade Velha de Praga tem sido objeto de duras controvérsias, encerradas em 23 de janeiro, quando a maioria dos vereadores aprovou o projeto várias vezes apresentado pela Sociedade para a Renovação da Coluna Mariana e apoiado pela arquidiocese e pelo cardeal Duka.
De fato, no dia em que o prefeito de Praga finalmente aprovou a moção, o cardeal Duka publicou um tweet de agradecimento à cidade: “Gostaria de expressar minha gratidão ao Conselho da Cidade de Praga por sua decisão. Essa coluna mariana será erguida como um símbolo de reconciliação e cooperação ecumênica das Igrejas cristãs na República Tcheca e também como uma demonstração de respeito pela Mãe de Jesus Cristo.”
As duas faces do monumento
Embora na última sexta-feira, alguns meios de comunicação tenham anunciado o início dos trabalhos a partir da segunda-feira, a notícia, como sempre, foi tomada com cautela, pois, em várias ocasiões, a disputa em andamento entre aqueles que veem a coluna como Símbolo da vitória dos católicos sobre os suecos - protestantes e aqueles que a identificam com o domínio da Monarquia dos Habsburgo – o havia levado à anulação de qualquer tentativa de restituir o monumento ao seu local de origem.
A coluna é uma realização do escultor tcheco mais representativo do barroco Jan Jiří Bendl, em 1650, por ordem do rei Fernando III em ação de graças pela vitória sobre as tropas suecas e protestantes durante a Guerra dos Trinta Anos. Porém, no século XIX, a corrente nacionalista tcheca que se considerava herdeira do movimento protestante hussita, identificava a coluna mariana como submissão ao Império Austro-Húngaro e, portanto, ao catolicismo.
Assim, seis dias após a criação da Tchecoslováquia, em 3 de novembro de 1918, em meio a um comício político de trabalhadores e organizações socialistas no país, uma multidão de manifestantes derrubou o monumento. Desde então, os escassos restos de uma das colunas marianas mais antigas e famosas da Europa foram depositados no lapidário do Museu Nacional, onde estão ainda hoje.
No outono, a inauguração
A réplica, feita pelo escultor Petr Váňa, permaneceu por alguns anos no porão de um navio ancorado às margens do rio Vltava. O artista começou a trabalhar na cópia em 2008, e a última tentativa da Associação para instalá-la foi em 2015, quando escavou na praça com uma pá mecânica que foi imediatamente bloqueada pela polícia municipal. Como a original, a estrutura tem cerca de 14 metros de altura e no topo está a imagem da Imaculada Conceição com o dragão derrotado sob seus pés.
Enquanto isso, o estudo arqueológico tenta alcançar as placas da base original, que deve estar cerca de 48 centímetros abaixo da superfície atual. Váňa explicou à televisão checa (CTV) que eles poderiam encontrar uma primeira pedra original de 1650, sob a qual deveria haver uma placa de fundação. Segundo o artista, a construção deve começar depois da Páscoa e estar pronta em meados de setembro.
Nem vitórias nem derrotas
Para alguns, a restituição do monumento mariano à Praça da Cidade Velha pode ser um teste de tolerância e respeito pelos valores e crenças de cada cidadão da nação. Além disso, leva-se em conta que, por três anos, desde 1915, compartilhou o mesmo terreno sem controvérsia com o majestoso monumento ao teólogo e escritor da Idade Média, Jan Hus, um dos precursores da Reforma Protestante. Para outros, a imagem mariana será um símbolo de polarização, embora talvez possa motivar reconciliação e perdão ou simplesmente lembrar uma passagem na história tcheca que não será apagada pela ausência ou presença de um monumento.
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