Crucifixo do pai da escultura italiana Donatello Crucifixo do pai da escultura italiana Donatello 

Legnaia. Antigo crucifixo da igreja é obra de Donatello

O crucifixo levado em procissão durante durante séculos com a devoção de muitos fiéis em epidemias, como a peste do século XV, é obra do pai da escultura italiana Donatello, realizado entre 1461 e 1466

VATICAN NEWS

Uma descoberta inesperada. Os paroquianos da Igreja de Santo Ângelo Legnaia, nos arredores de Florença, jamais teriam imaginado que o crucifixo que carregam há séculos na procissão pelas ruelas da cidadezinha fosse uma obra do grande artista Donatello, pai da escultura italiana do século XV. O crucifixo foi submetido a uma restauração em 2014 financiada pela Superintendência Especial dos Museus florentinos e da cidade de Florença para confirmar a intuição do historiador de arte Gianluca Amato. O profissional, estudioso de escultura da Renascença dedicou a sua tese de doutorado à obra, e através de análises técnicas de execução, comparação de materiais e de técnicas de trabalho, reconduziu a peça à produção final do grande Mestre.

Obra-prima na procissão

“O crucifixo – explica ao Vatican News padre Giancarlo Lanforti, pároco da igreja de Santo Ângelo em Legnaia – ficou oito anos fora da paróquia. Considerada a descoberta do valor da obra, temíamos que tivesse que ser transferida para um museu. Ao invés, para a nossa grande satisfação, voltou para a nossa comunidade”.

O crucifixo foi recém recolocado na sua parede original, o Oratório da Companhia de Santo Agostinho para ser restituído à sua antiga função litúrgica; é datável entre 1461 e 1466, com 89 centímetros de altura, 82,5 de largura e pesa pouco mais que 3 quilos, excluindo a cruz, não original. Seu peso deve-se ao tipo de madeira com o qual foi esculpido: álamo. A leveza da obra, atribuída também pela presença de partes internas ocas, tinha como objetivo, de fato, facilitar o transporte da mesma na procissão.

Devoção em tempos de epidemias

“O crucifixo – prossegue padre Lanforti – era levado em procissão nos períodos de calamidade e durante as epidemias, como a peste do século XV. Certamente foi um objeto de devoção durante muitas quaresmas. Junto com uma imagem de Nossa Senhora venerada em um cruzamento do nosso bairro e uma relíquia de Santo Aurélio conservada em Legnaia, este crucifixo representa para todos um ponto de referência nos momentos de dificuldade”.

O crucifixo de madeira com muita probabilidade é o que está documentado na Companhia de Santo Agostinho, congregação dedicada a atividades caritativas que antigamente estava no Oratório Santo Aurélio, adjacente à igreja de Santo Ângelo. Depois de uma divisão interna da comunidade, a peça de madeira foi quase certamente colocada na sede atual.

Apresentação cancelada pelo Coronavírus

A apresentação ao público desta excepcional descoberta, teria a presença do cardeal arcebispo de Florença, Giuseppe Betori, e seria realizada no dia 6 de março. Por causa da emergência do coronavírus foi adiada para uma data não definida. “Neste momento de apreensão pela epidemia do Coronavírus – conclui o padre Lanforti – este crucifixo recorda a todos a importância da oração nos momentos difíceis. Como não será possível realizar as procissões por motivos de segurança, difundimos as imagens desta obra-prima a todos os paroquianos, acompanhadas pela oração do Papa Francisco para o momento difícil que estamos vivendo”.

   

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17 março 2020, 08:25