Arcebispo de Rabat: estamos no mesmo barco, não há espaço para egoísmo e individualismo
Tiziana Campisi - Cidade do Vaticano
"Escrevo a vocês sobre a situação causada pelo coronavírus no mundo ... pensando no bem comum e na saúde de todos". Desta forma o arcebispo de Rabat, cardeal Cristóbal López Romero, começa sua carta dirigida aos fiéis marroquinos, pedindo a colaboração de todos.
Por determinação das autoridades, desde segunda-feira, 16, foram suspensos cursos e todas as atividades educacionais, desde creches até universidades. Para a Igreja Católica, envolve fechar todas as escolas do Ecam (Eenseignement Catholique Au Maroc), do Instituto Al Mowafaqa e dos centros culturais, mas também de interromper a catequese, o catecumenato e vários encontros. O Ministério do Interior proibiu reuniões com mais de 50 pessoas.
Gesto de solidariedade por toda humanidade
Neste contexto, o cardeal López Romero especifica que as regras devem ser observadas não por medo, mas por amor. "Devemos agir respeitando estritamente as regras (...) para não infectar os outros, ou seja, por amor aos outros - diz o cardeal. Devemos pensar no bem de todos (...). A suspensão dos encontros (...) e da Missa dominical (...) devem ser vistos como um ato de solidariedade por toda a humanidade e como um gesto de amor ao próximo, aos nossos vizinhos, aos nossos colegas."
A partir do próximo domingo, todos os católicos no Marrocos estão dispensados da observância do preceito da Missa dominical. Os sacerdotes, que irão celebrar sozinhos, "rezarão por toda a comunidade e por todo o mundo", informa o arcebispo de Rabat.
Algumas pessoas poderão estar junto com o sacerdote, como por exemplo, os catecúmenos que serão batizados na Páscoa deste ano - acrescenta o purpurado - assim como outros religiosos ou padres concelebrantes, mas os outros devem ficar em casa.
Será possível, neste sentido, acompanhar a celebração eucarística dominical pela TV ou por outros meios. Os fiéis também são convidados à criatividade e a rezarem em família, especialmente o Rosário.
Um jejum que nunca havíamos pensado: a privação involuntária da Eucaristia
"Esta Quaresma que estamos vivendo - continua o cardeal na mensagem - nos convida a um jejum ao qual nunca havíamos pensado: a privação involuntária da Eucaristia". Mas tudo isso pode literalmente levar ao convite de Jesus em relação à oração onde ele diz: "Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo".
O arcebispo de Rabat exorta então à esmola e à ajuda recíproca, e assegura que padres, religiosos e agentes pastorais estarão disponíveis para auxiliar os doentes, para lhes levar consolo, a Palavra de Deus e a comunhão.
Em sua carta aos fiéis, o cardeal López Romero fala então sobre os ensinamentos que podem ser tirados da situação que está sendo vivida. “Devemos aprender a ler esse acontecimento à luz da Palavra de Deus, sabendo que Deus é capaz de tirar o bem até mesmo de nossos pecados e do mal que cometemos - explica o purpurado. O coronavírus nos recorda que somos mortais, que somos fracos, que o homem não é onipotente, que a tecnologia e a ciência não podem resolver tudo".
Oportunidade para sentir-se cidadãos do mundo e membros da única família que é a humanidade
Para o arcebispo de Rabat, é uma lição de humildade para todos, pois "o vírus não respeita fronteiras e não faz distinção entre um país e outro. E as medidas que um país toma têm repercussões imediatas em outros, na economia mundial, no comércio e nas comunicações".
"Não há espaço para o egoísmo e o individualismo: estamos no mesmo barco", enfatiza o cardeal López Romero, que intui na realidade de hoje "uma oportunidade para viver e mostrar solidariedade, uma oportunidade para sentir-se cidadãos do mundo e membros da única família que é a humanidade".
Seria uma blasfêmia dizer que é castigo de Deus
Por fim, o cardeal adverte que não devemos acreditar que o coronavírus seja um castigo de Deus, seria uma blasfêmia. "Não responsabilizemos Deus por aquilo que é nossa responsabilidade, responsabilidade do nosso modo de vida, do nosso modo de agir", destaca o arcebispo de Rabat.
"Retornemos a Deus na oração, para pedir a Ele que nos liberte desse flagelo, mas assumindo nossas responsabilidades ... A pandemia nos faz parar, nos obriga a ficar em casa, nos dá tempo para nós mesmos e para a família". Mas o importante, é viver tudo isso no contexto da fé.
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