Pastoral da Terra alerta para aumento de conflitos contra povos do campo na Amazônia
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
A Amazônia Legal, que compreende nove estados do Brasil, é a região que concentra o maior número de conflitos e violência contra os povos do campo no país. Os dados fazem parte do último relatório sobre o tema da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 2019, divulgado na sexta-feira, 17 de abril, Dia Mundial de Luta Camponesa e data que lembrou os 24 anos do assassinato de 21 trabalhadores sem-terra, em Eldorado dos Carajás, no Pará.
Dom José Ionilton, vice-presidente da Comissão e bispo de Itacoatiara/AM, comenta os dados recentes divulgados no relatório produzido pelo Centro de Documentação “Dom Tomás Balduino” – e publicados anualmente pela CPT desde 1985, com o título: “Conflitos no Campo Brasil”:
“Neste caderno são apresentados dados bem concretos sobre a nossa Amazônia, por exemplo: 84% dos assassinatos que aconteceram no ano passado, 27 de 32 se deu aqui na Amazônia; 73% das tentativas de assassinato, ou seja, 22 das 30 tentativas aconteceu na Amazônia; 79% dos ameaçados de morte, isto é, 158 de 201 pessoas ameaçadas foram aqui na Amazônia; e 84% das famílias que sofreram alguma invasão de terra ou casa se deu aqui na Amazônia.”
Relatório já está disponível online
O relatório anual é um serviço pastoral que está na sua 34ª edição e pode ser acessado pela internet através do site e da página no Facebook da CPT. O Centro de Documentação cumpre as normas e procedimentos estabelecidos cientificamente para a coleta, o tratamento e a organização de documentos e dados.
Devido à pandemia do Covid-19, a publicação teve lançamento online pelo site e redes sociais da Comissão. No mesmo horário foi realizada uma live com a participação do coordenador nacional, Paulo César Moreira; da professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maria Cristina Vidotte; e eo jornalista e colaborador da CPT, Antônio Canuto.
Conflitos e violência no campo crescem em 2019
Os dados revelaram que, além da situação na Amazônia Legal ter se agravado, os conflitos no campo e as violências sofridas pelos trabalhadores em 2019 – que incluem indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais – sofreram aumento em todo o país em relação ao ano anterior: 14% mais assassinatos, 7% mais casos de tentativas de homicídio e 22% mais ameaças de morte.
De acordo com os dados do Centro de Documentação, o ano de 2019 também registrou o maior número de assassinatos de lideranças indígenas dos últimos 11 anos. De 9 indígenas assassinados em conflitos no campo, 7 eram líderes de comunidades. Os conflitos pela água bateram novamente recorde: foram registrados 77% casos a mais em relação a 2018.
“2019 foi marcado por grandes tragédias no campo. Isso é também outro dado que aparece aqui no caderno: em janeiro de 2019, 272 pessoas foram enterradas vivas em Brumadinho e isso a gente considera também uma violência no campo; em 10 de agosto, aquela tragédia do fogo aqui na Amazônia, também é considerado um ato de violência contra o trabalhador no campo; e, no final do ano, óleo invade o litoral do nordeste e isso também aparece como sendo uma violência, porque esse óleo se espalhou por diversas comunidades ribeirinhas e de pescadores artesanais, prejudicando enormemente as pessoas que viviam no campo. Portanto, pessoas que sofreram nesse caso aí também, um ato de violência e isso está constando nesse caderno que hoje foi lançado pela CPT.”
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