Reencontro de famílias coreanas separadas, em agosto de 2018 Reencontro de famílias coreanas separadas, em agosto de 2018 

A ferida ainda está aberta. É hora da reconciliação, diz arcebispo no 70º aniversário da Guerra da Coreia

O dia de oração pela reconciliação foi instituído em 1965 pela Conferência Episcopal e é celebrado todos os anos em 25 de junho, data em que, em 1950, cem mil sul-coreanos mal armados ofereceram fraca resistência a quase duzentos mil norte-coreanos, que conquistaram Seul em três dias e em menos de dois meses, quase toda a península.

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"...e reconciliá-los ambos com Deus, reunidos em um único corpo pela virtude da cruz, aniquilando nela a inimizade".

É inspirada em Efésios 2, 16 a mensagem do presidente da Comissão Episcopal para a Reconciliação do Povo Coreano, Dom Peter Lee Ki-heon, para o dia de oração pela unidade nacional, celebrada todos os anos em 25 de junho, data em que, há 70 anos, teve o início o conflito entre as duas Coreias.

Momento de superar ódios ideológicos

 

"A dor da guerra ainda está viva - escreve o prelado - precisamente porque o conflito foi devastador e muitas pessoas testemunharam episódios terríveis que foram transmitidos por narrativas de geração em geração".

Segundo Dom Peter, "setenta anos mais tarde, chegou a hora de superar o ódio ideológico que contrapôs as partes e impediu que ambos os países crescessem e se desenvolvessem livremente".

 

O bispo recordou as inúmeras tentativas feitas nos últimos anos para alcançar a paz, mas "tudo sem sucesso." As esperanças estavam depositadas na "Declaração de Panmunjom", de abril de 2018, quando o presidente sul-coreano Moon Jae-in e o líder do norte Kim Jong-un se comprometeram solenemente em um encontro de cúpula em assinar até o final do ano um tratado de paz para acabar definitivamente com a guerra e alcançar a desnuclearização completa da península.

“Foi um encontro emocionante que alimentou a esperança de um novo começo. Mas aquela reunião de cúpula ainda não produziu frutos. E a responsabilidade deve ser atribuída também àqueles que têm interesse no confronto entre nossos países", denuncia o bispo Peter Lee Ki-heon.

Povo coreano deve ser o protagonista de um caminho comum

 

A mensagem destaca as dificuldades de uma nação, "a única no mundo dividida em duas partes e onde a guerra ainda não acabou", que vê seus habitantes convivendo com "fortes limites" no âmbito democrático.

Para isso "urge um imediato acordo de paz, mesmo que não seja uma tarefa fácil devido à tensão entre as grandes potências. Mas o artífice principal para a construção de um caminho comum deve ser o povo coreano. Temos que trabalhar juntos e cooperar".

 A partir das paróquias ser apóstolos da paz

 

O presidente da Comissão Episcopal para a Reconciliação fala então da situação da Igreja que, precisamente por causa da divisão, viu-se obrigada a não dar passos significativos em frente, sobretudo no norte. O prelado pede ajudas e "novas formas de intercâmbio" com o sul para ajudar a Igreja norte-coreana.

 

“Neste meio tempo, rezamos muito pela reconciliação, dedicando uma intenção especial todos os dias às 21h. Mas devemos ser capazes de perdoar e superar as hostilidades. Devemos fazer isso intensificando os esforços. A partir das nossas paróquias, somos chamados a nos tornar todos apóstolos da paz".

Falando sobre a pandemia, Dom Ki-heon recordou que a Coreia do Sul se destacou em nível mundial por ter coibido com eficácia a disseminação do vírus: "Será importante que o Norte conte com o conhecimento, os programas e os instrumentos de que dispõe Seul."

Trabalhar pelo reencontro das famílias

 

Considerados os anos transcorridos, muitas famílias separadas pela guerra não poderão mais se encontrar. "Estão envelhecendo e as oportunidades de se abraçar novamente serão cada vez menores. Temos o dever de multiplicar essas oportunidades."

Segundo o prelado, a paz também passa pela retomada das conexões, como a "ferrovia intercoreana", a valorização de Kaesong - o distrito que emprega milhares de norte-coreanos em face dos investimentos feitos pelas empresas do sul - e a retomada do turismo na região do Monte Geumgang, um dos lugares sagrados onde se diz que o espírito do povo coreano habita, mas que após 1953 permaneceu "do outro lado". É considerada uma das paisagens montanhosas mais espetaculares do mundo, com nove bacias em forma de dragão que dão nome a uma cachoeira de 150 metros de altura.  "Obviamente, a isso deverá seguir um autêntico tratado de paz e novas relações internacionais”, conclui o bispo.

 

Um dos conflitos mais sangrentos da história

 

O dia de oração pela reconciliação foi instituído em 1965 pela Conferência Episcopal e é celebrado todos os anos em 25 de junho, data em que, em 1950, cem mil sul-coreanos mal armados ofereceram fraca resistência a quase duzentos mil norte-coreanos, que conquistaram Seul em três dias e em menos de dois meses, quase toda a península.

Foi um dos conflitos mais sangrentos da história após as duas guerras mundiais. De fato, estima-se que em três anos de luta morreram um milhão e quatrocentos mil civis sul-coreanos, meio milhão de soldados norte-coreanos e "voluntários" chineses, 225.784 soldados sul-coreanos, 33.629 soldados estadunidenses e 3.143 membros das forças armadas das outras 15 nações que participaram da guerra sob a bandeira das nações unidas para salvar a Coreia do Sul da invasão.

A longa e sangrenta guerra terminou em 27 de julho de 1953 com um armistício que sancionou a divisão do país em dois Estados, ao longo do 38º paralelo.

Vatican News -  DD

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O reencontro de famílias separadas pela guerra em setembro de 2018, na zona desmilitarizada
02 junho 2020, 10:57