Cardeal Sako: no Iraque ataques aéreos e pobreza, o futuro é incerto
Andrea De Angelis e Amedeo Lomonaco - Vatican News
“Não tenham medo, não tenham medo, tapem os ouvidos”. São as palavras que um pai dirigiu, em aramaico, a seus filhos na tentativa de apaziguar seu choro, dissipar o medo e fazer com que os ruídos dos bombardeios realizados no domingo passado (21/06) em sua região, o Curdistão iraquiano, pela força aérea turca, fossem, na medida do possível, menos assustadores. As palavras deste pai e as lágrimas de seus filhos ressoaram no mundo inteiro pelas redes sociais, depois dos ataques aéreos por parte de militares turcos. A região do norte do Iraque é habitada por comunidades cristãs, caldeias e assírias.
O objetivo dos ataques era o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) em território iraquiano. Particularmente a área de Zakho. Nesta cidade nasceu o Patriarca caldeu, o cardeal Louis Raphael Sako. Na entrevista o cardeal fala particularmente sobre a situação desta região, do norte do Iraque.
Cardeal Sako: O governo iraquiano tomou as medidas certas e agora a segurança melhorou. Também estão sendo feitos esforços para resolver a situação econômica. Mas é preciso um milagre. É um país marcado por 17 anos de divisões. Há muitas coisas negativas. Para a Turquia, grupos de combatentes curdos tem suas bases nas montanhas, e estando perto da fronteira, lançam ataques em território turco. Este não é um fenômeno novo. Mas dessa vez a Turquia atacou sem informar as autoridades iraquianas. Os últimos ataques atingiram uma área maior e alguns vilarejos, incluindo os cristãos, foram bombardeados. Pelo menos 10 civis já morreram. Eu não sei se há cristãos entre as vítimas. Mas devemos lembrar que cidadãos iraquianos morreram. Também foi bombardeado um cemitério caldeu cristão.
As pessoas têm mais medo nestas últimas semanas?
Cardeal Sako: Sim, é uma população que já sofreu muito, já foi deslocada e teve que fugir. E isso aconteceu muitas vezes, não apenas no período ligado ao chamado Estado Islâmico. Nesta região, há vários anos, não há estabilidade duradoura. Agora as pessoas dos vilarejos afetados pelos ataques foram deslocadas novamente. Estes são problemas que se arrastam há anos. Mas devem ser resolvidos com um diálogo sério e não pela via militar.
Com a pandemia a situação deve ter piorado...
Cardeal Sako: Sim, piorou porque o governo anterior deixou o Iraque sem recursos. Não há economia. O novo primeiro-ministro havia prometido 300 milhões de dólares. Mas só para pagar salários são necessários pelo menos 5 bilhões de dólares. Por causa da pandemia, o número de pessoas infectadas está aumentando. Há escassez de médicos e medicamentos. Não há dinheiro. Há grupos e partidos políticos que se aproveitam da situação há 17 anos: os recursos foram roubados. O futuro do Iraque não está claro. Mas esperamos que, com o novo governo, sejam tomadas as medidas certas.
Portanto temores por segurança e dificuldades econômicas preocupam a comunidade cristã no Iraque...
Cardeal Sako: Nós fazemos parte do mosaico iraquiano. Não buscamos privilégio ou prestígio. Existem algumas leis discriminatórias, mas podemos resolver tudo isso. Este cenário difícil afeta toda a população. Mesmo no sul do país, a situação continua grave.
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