Reabre o Caminho de Santiago, voltam os peregrinos
Francesca Sabatinelli – Vatican News
Qualquer que seja a razão por detrás da escolha de tomar um caminho, ao segui-lo abre-se a novas considerações e descobertas, alimentadas pelas condições de vida a que a própria peregrinação obriga. O Caminho de Santiago é o mais famoso, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985, e se estende por mais de 800 quilômetros. É composto por uma série de rotas de diferentes lugares da Espanha, França e Portugal, realizadas a cada ano por milhares de pessoas. Um caminho percorrido desde a Idade Média, que leva ao santuário de Santiago de Compostela, na Galícia, onde se encontram as relíquias do Apóstolo Tiago Maior. As primeiras peregrinações datam do século IX, quando os restos mortais do santo foram descobertos. É uma rota a ser realizada a pé, de bicicleta ou mesmo a cavalo, com uma rede de albergues que conta, até o momento, com cerca de três mil leitos.
O fechamento reforçou o sentido do Caminho
"O Caminho nunca tinha sido fechado, ainda que em tempos de guerras ou pragas o seu uso tivesse sido limitado", explica ao Vaticano News Dom Paolo Giulietti, Arcebispo de Lucca, até 2019 assistente espiritual da Confraria de São Tiago de Compostela em Perugia. Porém, para Dom Giuletti este fechamento total poderia lançar as bases para "uma forte recuperação, ainda maior para esta viagem, entendida como um lugar de busca e respostas às perguntas que a vida coloca". O arcebispo conta que ele mesmo descobriu a peregrinação graças ao Caminho de Santiago, e depois a viveu em muitos outros caminhos. Santiago, no entanto, permanece "uma espécie de universidade de peregrinação, porque é assim que se entende o que significa um caminho de fé".
Encontrar o sentido da vida percorrendo antigos caminhos
"É necessário redescobrir o sentido da vida e encontrá-lo forçando o corpo e a mente a refazer antigos caminhos, a buscar o que vai além do Aqui e do Agora". São palavras do historiador e ensaísta católico Franco Cardini, em 2008, ao falar de sua decisão de enfrentar o Caminho de Santiago. Sua caminhada deu origem a uma série de transmissões radiofônicas. Ele fez o trecho Burgos-Leon. Ao Vatican News conta: "É uma das regiões mais cheias de história da Espanha é um planalto, portanto é muito quente no verão e muito frio no inverno, mas está cheia de testemunhos humanos históricos, é uma viagem muito intensa. Cardini explica que há duas razões da necessidade de redescobrir o sentido da vida, percorrendo estradas e caminhos antigos: "Porque sabemos muito pouco sobre nosso passado e usamos esse pouco muito mal, com distrações, exagerações, autocensuras, e também porque a viagem é uma espécie de eremitismo”.
O historiador Cardini: o físico trabalha, mas a viagem é interior
Cardini cita o historiador Cinzio Violante, que falou da peregrinação como "eremitismo itinerante". "Ele estava certo, durante a viagem há sempre o momento em que se brinca, ri, come, bebe, há o momento em que se reza, se emociona, o momento em que se fala e discute, viajando aprende-se muitas coisas, faz-se discussões mais sérias, a viagem requer uma certa concentração por isso fala-se menos de coisas fúteis e mais de coisas importantes, e também há os silêncios. A viagem a pé é muito especial, porque inclui o exercício físico, um dos muitos elementos que "ajudam a concentração, uma filosofia de corpo e mente trabalhando juntos e esta é a peregrinação, a viagem é sempre interior". Portanto, segundo o historiador, a razão pela qual uma viagem como a de Compostela deve ser empreendida é porque "ela nos ajuda a recuperar a consciência do espaço ao nosso redor, da complexidade, variedade e beleza do espaço ao nosso redor", e também porque existe o elemento tempo, "a peregrinação ajuda a reentrar em uma dimensão temporal que geralmente foi esquecida".
A peregrinação para recuperar o sentido da busca da felicidade
Para Cardini, que já percorreu o Caminho de Santiago mais de uma vez, a peregrinação ajuda a "reconciliar-se consigo mesmo", a redescobrir a relação com o Supremo, a trazer à tona remorsos e arrependimentos, a refletir sobre o que se faz, a recuperar a posse do espaço e do tempo. Pode-se dizer que é a conclusão, é um momento de encontro: "Com o diabo que carregamos dentro de nós, o de nossa vida cotidiana, mas também com os anjos da guarda". E aprende-se a ver a maravilha nas coisas do dia a dia, a redescoberta da vida cotidiana, e recupera-se o sentido da busca da felicidade: é a alegria perfeita de Francisco de Assis".
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