Japão, 75 anos da bomba atômica. Bispos: enfrentar passado olhando para o futuro
Vatican News
“Certamente são os seres humanos que causam a guerra, mas não somos também nós os que podemos detê-la? ... Esta é nossa convicção inabalável, aprendida a caro preço.”
A mensagem com a qual, no último mês de junho, os bispos japoneses quiseram lembrar o 75º aniversário de uma das batalhas mais ferozes e sangrentas de toda a campanha do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, inspira-se nas palavras escritas pelos sobreviventes de Okinawa no Museu Memorial da Paz.
Um aniversário que ofereceu aos prelados a oportunidade de oferecer alguns elementos para reflexão sobre o tema da paz e apresentar linhas de ação para o futuro, num momento em que o mundo, 75 anos após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, está vivendo “uma nova Guerra Fria, uma forte instabilidade na Ásia Oriental, novas ameaças nucleares e uma crise ecológica global”.
Compromisso da Igreja japonesa com a paz
A mensagem retoma alguns passos-chave do compromisso da Igreja japonesa com a paz, começando com o premente apelo contra a guerra e em favor do desarmamento nuclear lançado em 25 de fevereiro de 1981 por São João Paulo II em Hiroshima, durante sua histórica visita ao país.
Daquele apelo surgiu a iniciativa “Dez dias pela paz” – promovida todos os anos pela Conferência episcopal no aniversário da primeira bomba atômica – para rezar e refletir sobre o tema da paz e dos direitos humanos, recordam os prelados.
Uma iniciativa - ressaltam - que ressoa nas palavras de Francisco em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2017, dedicada ao tema da não-violência como “estilo de uma política para a paz”.
Palavras do Papa contra a simples "posse" de armas nucleares
Em seguida, os bispos japoneses lembram as fortes palavras do Papa também contra a simples “posse” de armas nucleares. Palavras pronunciadas pela primeira vez em novembro do mesmo ano no Congresso Internacional realizado no Vaticano sobre “Perspectivas por um mundo livre de armas nucleares e pelo desarmamento integral”, convocado após a assinatura do Tratado para a proibição das armas atômicas.
Naquela ocasião – observam os bispos nipônicos – Francisco havia citado, entre outras coisas, o testemunho dos 'Hibakusha', os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, e o que São João XXIII escreveu na Carta encíclica “Pacem in Terris” sobre o desarmamento nuclear como o único verdadeiro dissuasor da guerra.
Sobre estes conceitos – recordam ainda os bispos japoneses –, o Papa Francisco insistiu em Hiroshima e Nagasaki, durante sua visita ao Japão em novembro passado, quando afirmou que a “posse” de armas atômicas é tão “imoral” quanto o “uso” da energia atômica para fins bélicos, reafirmando o incansável compromisso da Igreja com a eliminação total das armas nucleares.
“Uma esperança comum, mais forte do que a vingança”
Em resposta ao apelo do Papa, em dezembro passado a Conferência Episcopal Japonesa dirigiu uma carta ao primeiro-ministro Abe pedindo que o Japão assinasse e ratificasse o Tratado de 2017 para a proibição de armas nucleares.
Por fim, a mensagem lembra o 70º aniversário do início da Guerra da Coréia em 1950, uma tragédia – observa-se – à qual não são alheios os 35 anos de domínio japonês no país e que continua ainda hoje sendo uma causa de instabilidade na região.
“Pela forma como contribuímos para a construção da paz na Ásia Oriental, demonstraremos se, como a Igreja no Japão, podemos seguir as palavras do Papa Francisco. Para isso, renovamos nossa determinação a enfrentar o passado sem reticências e continuamos assumindo a responsabilidade pelo futuro”, concluem os bispos japoneses, lembrando, com as palavras do Papa em sua Mensagem para o 52º Dia Mundial da Paz, que “o processo de paz é um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e que se abre, passo a passo, a uma esperança comum, mais forte do que a vingança”.
Vatican News Service – LZ/RL
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