Cardeal Eusébio Scheid testemunhou com a vida e ministério que Deus é bom
Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro
Logo que assumi a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, como sucessor do Cardeal Scheid, o convidei para que residisse dentro do território de nossa Arquidiocese. Ele mesmo me disse que já havia adquirido uma residência própria na cidade de São José dos Campos, SP – onde exerceu seu bispado pela primeira vez e instalou aquela importante Igreja Particular – e que queria fixar residência naquela cidade do Vale do Paraíba. Lá viveu até ser chamado por Deus, hoje, no Hospital São Francisco, em Jacareí, SP, onde foi internado depois de ter tido alta de outro hospital e permanecer em sua residência bem assistido pelas irmãs e enfermeiros, quando pude também visita-lo no início deste mês. Por desejo expresso do Cardeal Scheid, transmitido às religiosas do Instituto do Bom Conselho que cuidaram, com esmero e dedicação de sua emeritude, o seu sepultamento se deu na cripta da Catedral de São Dimas, em São José dos Campos, SP. Em conversa telefônica com Dom César Teixeira, Bispo de São José dos Campos, SP, Sua Excelência me disse que essa era o entendimento da Diocese de São José dos Campos, além da observância do protocolo deste tempo de pandemia. Foi um rápido sepultamento, sem velório, com poucas pessoas na cripta pois o acesso era restrito ao sepultamento, com todas as regras de segurança impostas pelo poder público, sendo que depois do sepultamento teriam as celebração da Santa Missa na Catedral de São Dimas em sufrágio da alma do saudoso purpurado. Aqui no Rio de Janeiro, neste dia do seu falecimento, celebramos a primeira missa em sufrágio da alma do Cardeal Scheid, às 18h10, dentro do sétimo dia da Trezena de São Sebastião, na Capela de São Sebastião, em Inhoaíba exatamente no horário de seu sepultamento.
Pelas mãos do Papa São João Paulo II, Dom Eusébio se tornou Cardeal em 21 de outubro de 2003, durante o Consistório Ordinário Público, que também criou 30 novos cardeais. Foi lhe dado o título de Cardeal Presbítero, com o título de Santos Bonifácio e Aleixo. Primeiro bispo da Diocese de São José dos Campos, quando governou aquela Diocese até 23 de janeiro de 1991, foi transferido para Arcebispo Metropolitano de Florianópolis. No dia 25 de julho de 2001 foi nomeado Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, tomando posse no dia 22 de setembro do mesmo ano. Governou a Arquidiocese até o dia 27 de fevereiro de 2009, quando fui nomeado pelo Papa Bento XVI seu sucessor. Assim que se tornou emérito passou a viver no interior paulista, no Vale do Paraíba, na cidade de São José dos Campos, SP, sua primeira Diocese da qual ele é também o primeiro bispo. Com gratidão e amor daqueles que tiveram a graça de compartilhar sua espiritualidade elevada, celebrou o Jubileu de Diamante de sua Ordenação Presbiteral recentemente, em 3 de julho de 2020.
Trajetória como arcebispo do Rio de Janeiro
Plano de Pastoral
Ele aprovou, em novembro de 2004, com cinco capítulos e validade para o quadriênio 2005 a 2008, o 10º Plano de Pastoral de Conjunto, com o tema “Ninguém te ama como eu!”. Entre as prioridades pastorais, estava a Iniciação Cristã, que depois resultou na publicação do Diretório da Iniciação Cristã para Jovens e Adultos.
Criação de paróquias
Para uma ação pastoral mais eficaz, Dom Eusébio criou 10 novas paróquias. São elas: Nossa Senhora da Conceição, em Campo Grande (2001); Santa Luzia, em Gardênia Azul (2003); Nossa Senhora dos Navegantes, em Padre Miguel (2005); Nossa Senhora Aparecida, na Ilha do Governador (2006), Nossa Senhora Aparecida, na Penha Circular (2006), São Judas Tadeu, em Senador Camará (2006), e Nossa Senhora da Conceição, na Pavuna (2008).
Ministérios
Dom Eusébio criou os ministérios do Acolhimento e da Visitação e elevou à categoria de ministério o trabalho da Pastoral da Consolação e Esperança. Também se empenhou na formação da Pastoral da Comunicação nas paróquias e no fortalecimento da Pastoral da Família, lutando pela valorização da vida, a partir de sua concepção.
Ordenação de bispos
Sucessor dos apóstolos, ordenou nove bispos para a Igreja no Brasil, entre eles, seis como seus auxiliares. Em 2003: Dom Assis Lopes (Bispo auxiliar emérito de São Sebastião do Rio de Janeiro), Dom Dimas Lara Barbosa (Arcebispo de Campo Grande, MS) e Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ (Arcebispo de Florianópolis, SC); e, em 2005: Dom Edson de Castro Homem (Bispo de Iguatú, CE), Dom Antônio Augusto Dias Duarte (Bispo Auxiliar) e Dom Edney Gouvêa Mattoso (Bispo Emérito de Nova Friburgo, RJ).
Seminário Propedêutico
Dom Eusébio foi protagonista de uma novidade no campo da formação dos futuros sacerdotes na Arquidiocese do Rio. Foi de sua iniciativa o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, criado na Solenidade da Imaculada Conceição, dia 8 de dezembro de 2003, com o objetivo de preparar, no período de um ano, os jovens vocacionados para ingressarem na vida acadêmica, a formação presbiteral de nível superior.
Escola diaconal
Em uma nova etapa na história do diaconato na Arquidiocese do Rio, Dom Eusébio criou, no dia 12 de fevereiro de 2003, a Escola Diaconal Santo Efrém. Como complemento, aprovou, no dia 20 de maio de 2004, os estatutos da Comissão Arquidiocesana dos Diáconos Permanentes (Cadiperj).
Nos primeiros anos, a escola funcionou na Paróquia São Joaquim, no bairro Estácio, num espaço próprio de formação. Dom Eusébio ordenou 75 diáconos, em cinco turmas, de 2003 a 2008. Atualmente, a escola funciona no complexo do Seminário São José.
Santuário Cristo Redentor
Na Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro de 2006, Dom Eusébio criou o Santuário Cristo Redentor, no morro do Corcovado. Sinal da sensibilidade pastoral, foi o presente que ele deu à Igreja no Rio de Janeiro pelo aniversário de 75 anos do monumento, inaugurado em 1931, pelo seu predecessor, o então Cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra.
Vicariatos episcopais
Dom Eusébio foi responsável pela criação de três vicariatos episcopais na Arquidiocese do Rio: um territorial e dois não territoriais, com a finalidade de colaborar com o governo diocesano, de forma descentralizada, organizando melhor as relações e atividades pastorais. São eles:
Caridade Social
O Vicariato Episcopal para a Caridade Social foi constituído no dia 30 de abril de 2002. O vigário episcopal escolhido foi o cônego Manuel de Oliveira Manangão, que na época era responsável pela Pastoral do Trabalhador, e pároco na Rocinha, à frente da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem.
Comunicação Social
Durante a reunião do Conselho Presbiteral, no dia 17 de junho de 2005, Dom Eusébio anunciou a criação do Vicariato Episcopal para a Comunicação Social (Vicom), com o objetivo de integrar todos os segmentos de comunicação da arquidiocese.
Vicariato Jacarepaguá
A criação de novas comunidades paroquiais fez surgir o Vicariato Episcopal Jacarepaguá, em 1º de abril de 2006. A maioria das paróquias do novo vicariato pertencia aos vicariatos Suburbano e Sul. Ficaram integradas ao sétimo vicariato da Arquidiocese, paróquias situadas nos bairros da Barra da Tijuca, Itanhangá, Jacarepaguá, Recreio dos Bandeirantes, Rocinha, São Conrado e Vargem Grande.
Sucessor dos Apóstolos
Foi eleito bispo de São José dos Campos (SP), no dia 18 de fevereiro de 1981, pelo Papa João Paulo II, quando adotou o lema “Deus é bom”. Sua ordenação episcopal foi em São José dos Campos, no dia 1º de maio de 1981, pelas mãos de Dom Carmine Rocco, núncio apostólico no Brasil, Dom Geraldo Maria de Morais Penido e Dom Honorato Piazera, SCJ. Nesta diocese, fundou o Instituto de Filosofia Santa Teresinha e instalou a residência teológica Padre Rodolfo Komorek.
Em 23 de janeiro de 1991 foi transferido para a Arquidiocese de Florianópolis, onde permaneceu por dez anos. Nesta arquidiocese, onde tomou posse no dia 16 de março do mesmo ano, criou o Seminário de Teologia Convívio de Emaús e o Seminário de Filosofia Edith Stein, inaugurou o Instituto Social João Paulo II e instituiu a Escola de Ministérios. Também presidiu a criação das dioceses de Criciúma e Blumenau.
Arcebispo do Rio de Janeiro
No dia 25 de julho de 2001 foi transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, sucedendo o Cardeal Eugenio de Araujo Sales. Tomou posse em 22 de setembro do mesmo ano. Tornou-se cardeal em 21 de outubro de 2003. Foi criado cardeal presbítero, com o título da Basílica dos Santos Bonifácio e Aleixo.
Formador
Antes de ser ordenado bispo, o Cardeal Scheid foi professor no Seminário Cristo Rei e Seminário Regional do Nordeste, Recife, em Pernambuco (1964-1965); professor de Teologia Dogmática e Liturgia no Instituto Teológico de Taubaté-SP (1966-1981) e Aparecida; coordenador da Catequese de Taubaté-SP (1970-1974); diretor da Faculdade de Teologia em Taubaté-SP; professor convidado da PUC-SP, para lecionar Cultura Religiosa (1966-1968).
A serviço da Igreja
Como bispo, realizou os seguintes serviços: Bispo de São José dos Campos (1981-1991); arcebispo de Florianópolis (1991-2001); presidente do Regional Sul 4 – CNBB (1994-1998); membro da Comissão Episcopal de Doutrina da CNBB durante 12 anos; ordinário para os fiéis de Rito Oriental sem ordinário próprio (2001); responsável pela Pastoral Familiar no Regional Sul 1 durante 8 anos.
No Vaticano foi conselheiro da Pontifícia Comissão para a América Latina, em 25 de novembro de 2002; membro do Pontifício Conselho de Comunicação Social, em 29 de novembro de 2003; Legado Papal, de S. Santidade Bento XVI, ao XV Congresso Eucarístico Nacional, em Florianópolis (SC), de 18 a 21 de maio de 2006.
Na CNBB, foi membro do Conselho Permanente; membro da Comissão Episcopal para o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida; presidente do Regional Leste 1 – CNBB (2003-2007).
Também foi membro do Conselho de Cardeais para o estudo dos problemas organizacionais e econômicos da Santa Sé em 17 de janeiro de 2007. Foi o ordenante principal de nove bispos, a maioria, auxiliares no Rio de Janeiro.
Obras
Dom Eusébio possui os seguintes livros publicados: Tese de láurea sobre a Cristologia de Ubertino da Casale em seu contexto histórico; Preparação para o Casamento e para a Vida Familiar; Introdução à Pastoral Familiar; e Ministério do Acolhimento.
Nossa oração pelo seu eterno descanso!
É uma perda dolorosa, que se soma aos padres e bispos brasileiros que tiveram suas vidas interrompidas nesta pandemia, que já se transformou em uma tragédia incalculável que afeta direta ou indiretamente todas as famílias. Centenas de religiosos e religiosas também se infectaram, muitos deles durante o trabalho pastoral incansável para anunciar o Evangelho e levar a mensagem de Cristo a todas as pessoas sem distinção, como manda seus ensinamentos. Apesar de todos os cuidados adotados pela Igreja no Brasil, como o distanciamento social, celebrações online, não deixamos de evangelizar e levar a palavra das sagradas escrituras aos nossos irmãos e irmãs.
Dom Eusébio, em seus 60 anos de ministério presbiteral e 40 anos dedicados à vida episcopal, participou ativamente da história e deixa o seu legado à Igreja. Nascido em Luzerna, no estado de Santa Catarina, no dia 8 de dezembro de 1932, o religioso da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Dehonianos, fez a sua Profissão Religiosa em 02 de fevereiro de 1954. Conforme relatos históricos da Diocese de São José dos Campos, dom Eusébio estudou Filosofia em Brusque, SC, (1954) e na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, Itália (1955-1957), onde também estudou Teologia (1957-1964). Foi ordenado presbítero no dia 03 de julho de 1960, em Roma. Continuou os estudos de pós-graduação e recebeu os títulos no grau de Mestre e Doutor em Cristologia. Foi eleito bispo de São José dos Campos em 11 de fevereiro de 1981, onde ocorreu a sua ordenação episcopal em 1º de maio de 1981. Em 23 de janeiro de 1991 foi transferido para a Arquidiocese de Florianópolis. Em 2001 foi transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Missas em sufrágio de sua alma
- Missa com o clero do Rio de Janeiro – na missa do Rio Celebra, dia 16 de janeiro, às 9h, na Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.
- Missa de 7º Dia – na Igreja da Candelária, no dia 19 de janeiro, às 18h.
Ambas as celebrações serão transmitidas: a primeira pela Rede Vida de Televisão e a segunda pelas mídias da Arquidiocese, e pela Web TV Redentor.
Legado e ação de graças
Com uma vida intensa e incansável, marcada pela preocupação na formação do clero, no incentivo à evangelização e na organização da pastoral, sua morte não deve ser motivo para contrariedades humanas, mas sim, para compreendermos o projeto de Deus para nós, a promessa da vida eterna ao lado de Cristo.
Que São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, conforte seus familiares, amigos e todos aqueles que tiveram a graça de sua convivência. Agradeço a Deus pelo dom da vida do Cardeal Eusébio Oscar Scheid – SCJ e por todo o trabalho realizado em nossa Arquidiocese e em todos os lugares que serviu.
Que nos unamos em orações pelo descanso eterno de Dom Eusébio e de todos os nossos irmãos e irmãs que partiram vítimas da Covid-19.
São Sebastião, rogai por nós!
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