Religiosa brasileira em missão na África
Ricardo Gomes - Diocese de Campos
Desafios de ser missionaria na África. Ir Elisabete Corazza na África. Religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas está em Angola pela segunda vez: de 2001 a 2005 esteve pela primeira vez no Continente Africano retornando ao Brasil. Trabalhou no Serviço de Animação Bíblica e 10 de abril de 2018 voltou as terras angolanas.
“Acredito que os grandes desafios da evangelização em uma terra diferente é não pensar que tudo é a mesma coisa e estar em um outro país requer de nós uma abertura maior e um nascer de novo e ao mesmo tempo morrer para poder dar espaço a uma nova cultura, aprender com esse povo. E mais que se doar é o que recebo. Uma experiencia incrível, um banho de fé, de solidariedade e vida de oração, com um povo acolhedor e muito simples e muito sofrido, porque foram muitos anos de guerra e tudo muito recente pela questão da independência”, disse irmã Elizabete.
Relata a questão da adaptação. Primeiro é conhecer um país, e a África é um continente com quase 55 países e Angola é um desses países: são várias Áfricas. Angola por ser sociável foi mais fácil a adaptação e não teve tantas dificuldades.
"Com a alimentação não tive dificuldade. A dificuldade que encontrei realmente foi entender como as pessoas se expressam. Há uma sensibilidade muito grande do povo porque há muito sofrimento, foram muitos anos de guerra e tudo isso tem de se levar em conta porque o acordo de paz e depois a independência só aconteceu após quase 30 anos de guerra. Essas questões são muito recentes e requer que tenhamos essa delicadeza em lidar com as pessoas. Um desafio muito grande são as superstições, a questão do feitiço, essa crença e como se dá esse elemento... e aqui a crença é muito complicado e leva muitas pessoas a morte”, conta a irmã.
Angola viveu décadas de sua história em guerra. De 1961 a 1974 contra o poder colonial português e a partir de 1975 uma guerra civil até 2002. A guerra civil chegou ao fim com o acordo de paz assinado no dia 4 de abril entre o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola e a União Nacional para a Independência Total de Angola as duas formações políticas que tinham mais influência no país. O português é a língua oficial de Angola: tem mais de 37 línguas e 50 dialetos.
“A cultura é muito rica. É da cor da dança e um povo que traz no sangue o ritmo dos batuques. A mulher faz parte da experiencia de fé, da luta e da persistência. E a mulher tem um papel primordial e o trabalho é informal que sustenta a casa são feitos pelas mulheres: e elas colocam nas cabeças as bacias com frutas, verduras e outros utensílios domésticos e saem para as ruas vendendo e assim sustentam os filhos, colocam eles para estudar. A mulher é muito guerreira e é realmente quem consegue o sustento do lar. Uma questão muito particular é a importância do filho e as filhas são muito submissas e têm de dar logo um filho. Dificilmente se tem um casamento sem que se tenha um filho para demonstrar que é possível gerar. É um desafio para a Pastoral do Matrimônio de trabalhar isso nas paroquias. Por outro lado, o que é muito forte é a consciência das pessoas em relação à comunhão. As pessoas são fiéis e têm uma consciência do sacramento”, pontua.
Segundo Ir Elizabete o clericalismo e o marxismo são elementos desafiantes e muito cultural, mas a mulher participar de decisões é muito difícil. É preciso um trabalho de conscientização da valorização da mulher.[ Photo Embed: Africanas]
Experiencias de fé do povo africano
Em Luanda o trabalho atual é a implantação do Projeto Bíblia em Comunidade, com um curso sistemático de formação Bíblica que proporciona a experiência e o conhecimento da Palavra de Deus. Em Luanda já está na quinta turma de uma visão global da Bíblia que é a primeira etapa desse projeto.
“Eu tive a graça de trabalhar numa região aqui perto. Eu ia uma vez por mês e pude preparar as lideranças. O povo africano é muito voltado à oralidade, à transmissão da fé de forma oral e eu aprendi muito sobre a Bíblia com o povo africano”, destaca a religiosa.
Maioria de cristãos e os desafios
Cerca de 90% da população de Angola é cristã e deste percentual 45% é de católicos. E nesta Pandemia irmã Elizabete conta a experiência no Santuário Nacional Mãe do Coração onde há a feira do livro e não possui estrutura de hotelaria. Uma experiencia muito forte e muito bonita. Um país muito devastado com a guerra.
“Nas feiras do livro a gente dorme como eles em barracas, leva a comida, tendas e barracas, leva carvão e assim vivemos numa peregrinação. Aqui não encontramos estrutura, se formos viajar pelo interior não temos uma lanchonete, um banheiro e aqui é muito difícil a gente encontrar”, conclui.
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