Cardeal Sergio da Rocha: A importância do diálogo
Cardeal Sergio da Rocha - Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Estamos vivendo num tempo em que o diálogo se torna cada vez mais necessário na construção da paz e para a convivência fraterna. O diálogo se torna tarefa irrenunciável num contexto sociocultural marcado, de um lado, por tanta agressividade e intolerância, de outro, pela indiferença egoísta. Precisamos dialogar mais no dia a dia e nos vários âmbitos da vida social. Contudo, é preciso aprofundar a compreensão que temos sobre o diálogo para poder concretizá-lo. A capacidade de dialogar serve de termômetro para avaliar a vivência da fraternidade e do respeito ao outro. A recusa ao diálogo pode expressar fechamento sobre si e a recusa de escutar.
O diálogo exige primeiramente a escuta, a disponibilidade em aprender com o outro que pensa diferente. Exige proximidade, disposição para aproximar-se do outro para escutar, compreender e respeitar; não somente para falar. Não há espaço para o diálogo quando alguém se aproxima do outro apenas para convencê-lo de que está errado. Por isso, ao invés do orgulho ensimesmado, é necessário admitir as próprias limitações no conhecimento da verdade, para estabelecer diálogo.
Entretanto, a atitude de respeito às convicções do outro não exclui a coerência com a própria identidade e a sinceridade. O autêntico diálogo não anula a identidade, não se confunde com a busca interessada do consenso fácil, nem pode ser ditado pela procura de vantagens. Somente quem tem sua própria identidade preservada poderá oferecer uma contribuição própria no diálogo entre diferentes.
Em geral, a palavra diálogo logo faz pensar no relacionamento entre duas pessoas ou entre participantes de um pequeno grupo. É inegável a importância do diálogo entre duas pessoas, como por exemplo, na vida de um casal, ou entre os membros de uma família, ou de um pequeno grupo. È necessário, porém, que a prática do diálogo aconteça também em outros campos da vida social, especialmente, nos exigentes campos da política, da cultura e da educação, como caminho privilegiado de construção da fraternidade e da paz.
As Igrejas e instituições da sociedade civil desempenham papel fundamental na promoção do diálogo amplo e sincero, não somente no interior de cada uma delas, mas no relacionamento com a sociedade. A opção pelo diálogo contribui para superar fundamentalismos e radicalismos que causam violência e dor. O Papa Francisco tem enfatizado em seus pronunciamentos a importância do encontro e do diálogo para uma nova cultura. Na sua carta encíclica Fratelli Tutti, encontramos uma abordagem profunda do “diálogo social”. O diálogo ecumênico e o diálogo inter-religioso têm sido promovidos por lideranças religiosas na construção da paz.
O diálogo com Deus, expresso na oração, permite-nos dialogar mais com o próximo nas diversas situações e ambientes em que vivemos. Ao mesmo tempo, o diálogo com o próximo nos permite rezar melhor.
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