Manaus lembra os 500 mil mortos pela Covid-19, momento de Memória e Justiça
Padre Modino - CELAM
Com os últimos raios de sol começou uma celebração de memória e Justiça onde foi lembrado que cada pessoa é uma história, uma rede de relações, uma fonte de muitas lembranças. Como foi enfatizado nos primeiros momentos do ato, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o nome “Toda Vida importa”, nossa dor é coletiva, insistindo em que a solidariedade supera o isolamento.
No ato, presidido por Dom Leonardo Steiner, estavam presentes algumas lideranças da diocese, padres, vida religiosa, leigos e leigas das paróquias, áreas missionárias, pastorais e movimentos que fazem parte da vida da arquidiocese de Manaus. Segundo o arcebispo, foi “um momento celebrativo de grande significado, pois desejamos fazer memória”. Ele insistiu em que “memória não é apenas recordar, memória é guardar, é trazer a luz”, tanto “o caminho da nossa sociedade, mas também o caminho da nossa Igreja”.
Mas o arcebispo de Manaus também enfatizou que aquele era também “um momento de justiça, justiça porque quando falarmos de justiça estamos falando daquilo que é equânime, aquilo que pertence a todos”. Segundo dom Leonardo, “neste momento, a dor pertence a todos nós, a separação pertence a todos nós, a morte está pertencendo a todos nós, porque nós os vivos desejamos recordar os mortos”. Mas também, é justiça “porque neste momento queremos recordar a irresponsabilidade das autoridades no cuidado do tempo pandêmico”.
Segundo dom Leonardo, “queremos fazer deste momento luz”. Acender 500 velas diante da Catedral, que o arcebispo lembrou que é “nossa Igreja mãe da arquidiocese de Manaus”, quis simbolizar a presença de todos aqueles que vieram a óbito em Manaus, na arquidiocese, mas também no Estado do Amazonas, onde o número de falecidos já supera os 13.200 e no Brasil 500 mil.
Refletindo sobre as mortes provocadas pela pandemia, o arcebispo afirmou que “a partir da fé, nós sabemos que participamos de uma mesma comunhão, de uma mesma vida. Eles nos acompanhem e nos ajudem a trilhar os passos, a fazer o caminho neste tempo de pandemia”. Por isso ele insistiu em “que cada vela acessa seja um pequeno sinal da nossa esperança, esperança de um Brasil melhor, esperança de que nós estamos dispostos a lutar, esperança de um Brasil mais justo, esperança de um Brasil onde todas as pessoas tenham mais oportunidade”. E junto com isso pediu “que este momento celebrativo, de justiça e de memória, nos ajude a sermos pessoas ativas na nossa sociedade e também na nossa Igreja”.
Durante o ato foram lidos nomes de pessoas falecidas diante da falta de assistência, de oxigênio, de uma coordenação nacional de medidas sanitárias. Pessoas conhecidas, dado que como foi lembrado “em Manaus vivemos os piores dias das nossas vidas, nos picos da primeira e da segunda onda”. Por isso foi denunciado que “nós amazonenses não somos cobaias, merecemos respeito”. A partir daí, mais uma vez, como sempre tem feito a Igreja de Manaus, foi reforçado o chamado a todos a se vacinarem. Não podemos esquecer que nosso Deus é um Deus da Vida, toda vida importa.
Somos desafiados a apontar soluções, apontar caminhos a serem seguidos para superar essa catástrofe, como foi sublinhado no ato. Também se insistiu no papel fundamental da CPI no Senado para buscar responsáveis pela catástrofe. Num estado que foi laboratório, segundo foi lembrado, há a necessidade de os políticos fazerem seu trabalho de fiscalização para que as vidas que se foram não tenham ido em vão. Também foi pedido pelos profissionais da saúde, verdadeiros heróis neste tempo de pandemia.
Após rezar juntos a oração elaborada pela CNBB para este momento, dom Leonardo Steiner destacou a necessidade de “continuar muito unidos e muito solidários para podermos continuar a enfrentar este tempo pandêmico, mas também para podermos enfrentar este momento em que temos que exigir das autoridades maior cuidado e maior entrega de vacinas”.
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