Em Kojo, distrito de Sinjar, funeral coletivo em 6 de fevereiro, de 106 vítimas do Estado Islâmico. (Foto Zaid Al-Obeidi/AFP) Em Kojo, distrito de Sinjar, funeral coletivo em 6 de fevereiro, de 106 vítimas do Estado Islâmico. (Foto Zaid Al-Obeidi/AFP) 

A Ajuda da Igreja aos yazidis esquecidos

Há sete anos, 250.000 sobrevivem no Curdistão iraquiano após serem expulsos de sua terra natal, Sinjar. Em meio à indiferença substancial da comunidade internacional e dos grandes meios de comunicação, o Serviço Jesuíta para Refugiados no Iraque os apoia, material e psicologicamente. Padre Joseph Cassar: “A maior dor deles é não poder voltar à pátria”. Muitos, desesperados, tentam tirar a própria vida.

Federico Piana- Cidade do Vaticano

Fantasmas existem no Curdistão iraquiano. Eles têm o rosto de homens, mulheres e crianças Yazidi, que conseguiram escapar e salvar suas vidas da fúria do Estado Islâmico que, em 2014, começou a perseguir sua comunidade religiosa, varrendo-os de Sinjar, sua tão amada terra do norte Iraque, até a fronteira com a Síria. Há sete anos eles vivem no mais completo esquecimento, esquecidos por todos. Comunidade internacional e grandes meios de comunicação não falam mais de seus sofrimentos diários, alimentados pela pobreza e pelo crescente analfabetismo, não prestam mais atenção ao seu grito desesperado na tentativa de finalmente poderem retornar à sua terra ancestral.

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Campos de refugiados: a única 'pátria'

 

Esses fantasmas, de acordo com os dados mais confiáveis, são pouco menos de 250 mil e sobrevivem em vários campos de refugiados administrados principalmente por voluntários de associações não governamentais. Muitos deles são assistidos também pela Igreja Católica, que não hesita em responder às suas necessidades mais urgentes. Em Sharya, uma cidade da Província de Duhok, há quem cuide dos yazidis, que sequer conseguiram colocar os pés em um campo de refugiados. São 17.000 pessoas atendidas pelo Serviço Jesuíta para Refugiados no Iraque, que lhes apoio material e conforto psicológico.

A dor de não poder voltar

 

O Padre Joseph Cassar, por seis anos, responsável pelo grupo de ajuda jesuíta, conhece bem a situação política e social e tem uma ideia concreta de porquê os Yazidis não podem recuperar a posse das suas terras em Sinjar.

“Um dos dos motivos - diz ele - é a falta de segurança. Nesses locais existem grupos armados que combatem entre si. O segundo motivo é a destruição da cidade de Sinjar e das aldeias nas cercanias do distrito de Sinjar. Ainda existem casas arrasadas e algumas estão totalmente minadas”. Depois, falta eletricidade, água potável, até um nível mínimo de assistência médica.

Casas destruídas e campos minados

 

“A desminagem de casas - admite o sacerdote - será um trabalho que demorará muitos anos. Assim como limpar os campos das minas exigirá um esforço enorme, longo e complicado. Uma maldição para uma população que se dedica principalmente à agricultura”. O paradoxo é que, em tal situação, a matança continua mesmo após a aparente cessação do conflito. Que porém – precisa o sacerdote – não terminou: "Há dois dias - explica - em Sinjar ocorreram alguns bombardeios da Força Aérea turca com o objetivo de destruir supostas posições do PKK, o Partido dos trabalhadores do Curdistão”.

A esperança de solidariedade

 

A missão dos jesuítas ao lado dos yazidis pode resumir-se basicamente a um verbo: acompanhar. “Mas também - acrescenta padre Cassar - continuar a ser um sinal de esperança. E fazemos tudo isso por meio de nossos projetos que podem ser agrupados em algumas ações principais: visitar as famílias dos deslocados levando ajuda material, resgatar os direitos graças à intervenção de um advogado, dar educação po rmeio de uma escola para mais de duzentas crianças e preocupar-nos com a saúde mental das pessoas provadas por uma existência insustentável ”. São muitos, de fato, os Yazidis que, desesperados, a cada ano tentam tirar a vida. Tudo diante de um silêncio geral ensurdecedor.

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25 agosto 2021, 12:49