A Igreja Católica em Chipre
A Igreja em Chipre
Cerca de 80% da população cipriota é cristã, pertencente a diversas confissões, mas com uma clara predominância ortodoxa, enquanto os muçulmanos (a maioria sunitas), representam cerca de um quinto dos habitantes, concentrados na parte turco-cipriota. Os católicos (na sua maioria do rito latino), são 38 mil, o que representa 4,47% da população.
Católicos, ortodoxos e protestantes têm boas relações de colaboração. Em particular, entre a Santa Sé e a Igreja Ortodoxa de Chipre foi instaurada uma relação de cordialidade fraterna e um profícuo diálogo na busca da plena comunhão. Uma relação que se consolidou com a assinatura no Vaticano de uma Declaração comum entre Bento XVI e o arcebispo ortodoxo de Chipre, Sua Beatitude Chrisostomos II, em 16 de junho de 2007, e por ocasião da Viagem Apostólica de Bento XVI a Chipre (4 a 6 de junho de 2010), que foi seguida por uma segunda visita no Vaticano de Chrisostomos II, em 2011.
A Igreja Católica
A cipriota é considerada uma “Igreja Apostólica”. A sua fundação remonta de fato aos primeiros dois primeiros grandes evangelizadores da Igreja das origens: São Paulo e São Barnabé, aos quais se une, em um segundo momento, São Marcos Evangelista. O primeiro chegou na ilha em 46, acompanhado por São Barnabé (originário precisamente de Chipre e morto como mártir em 61) que é considerado o fundador da Igreja cipriota. A essa Igreja particular foi reconhecida uma ampla autonomia pelo III Concilio Ecumênico de Éfeso (431), confirmada pelo Concílio Quinisesto (692) e mantida nos séculos sucessivos. A Igreja Católica cipriota é composta hoje principalmente por fiéis latinos, que são maioria, e por maronitas (1,5%), aos quais se soma uma pequena comunidade armênio-católica (0,3%).
Os latinos
Os latinos chegam a Chipre quando o rei franco de Jerusalém, Guy de Lusignan, adquire a ilha de Ricardo Coração de Leão (1192) que a havia ocupado no ano anterior. Em 1196, foi ereta a Arquidiocese Latina de Nicósia com três Diocese sufragâneas (Famagosta, Limassol e Paphos, que foram sucessivamente suprimidas) e chegam várias ordens religiosas (Franciscanos, Carmelitas, Beneditinos, Cisterciense, Agostinianos, Dominicanos, etc.), os Cavalheiros do Santo Sepulcro e os Templários. Para lá se dirigem fiéis provenientes de de Aragão, Florença, Gênova, Marselha, Nápoles, Pisa, Veneza, mas também da Catalunha, de Provença e do Oriente Médio. São edificados numerosos locais de culto (a Abadia de Bellapais, em estilo gótico, as Catedrais de Santa Sofia e Santa Catarina, o Mosteiro agostiniano de Santa Maria, a Catedral dos Santos Pedro e Paulo), além de prédios administrativos e várias fortificações.
Em 1570 Chipre caiu nas mãos dos Otomanos. Milhares de católicos da nobreza e do clero são massacrados e igrejas transformadas em mesquitas. A Igreja Latina é suprimida, a ortodoxa restaurada e muitos fiéis latinos, que até aquele momento representavam 15-20% da população, são obrigados a converter-se à Ortodoxa ou ao Islã, ou a emigrar. O clero latino consegue no entanto manter um uma presença na ilha, em particular por meio dos mosteiros franciscanos, entre os quais aquele da Santa Cruz, construído no Oriente no século XVII. Em 1646, os próprios franciscanos abriram em Nicósia o Colégio da Terra Santa.
A politica de tolerância religiosa que caracteriza o período da dominação britânica a partir de 1878, fortalece a comunidade latina, cujas escolas se multiplicam nas várias cidades da ilha, permitindo a integração dos latinos na sociedade cipriota. A independência da ilha, conquistada em 1960, marca um ulterior passo à frente na emancipação da comunidade católica romana que, junto com a comunidade maronita e católica armênia, é reconhecida pela Constituição (Artigo 2 § 3) e obtém uma cadeira no parlamento. Apesar da invasão turca em 1974, que recolocou muitas famílias católicas sob o status de refugiados, esta comunidade continuou a crescer e fortalecer a sua contribuição ao desenvolvimento da ilha, sobretudo na área da educação. Hoje conta com cerca de mil fiéis nativos, aos quais se somam outros milhares, entre residente permanentes não cipriotas e residentes temporários (da Europa Central, do Sudeste Asiático e da América Latina).
Desde 1847 está presente em Chipre um Vigário Patriarcal latino que reside em Nicósia, sob a autoridade do Patriarcado de Jerusalém, ao qual pertencem quatro paróquias da ilha. O Patriarcado administra a Paróquia de São Paulo em Paphos, enquanto as outras três (Santa Catarina, Santa Maria das Graças e Santa Cruz), são administradas pelos franciscanos presentes em Chipre desde a origem da Ordem, no século XIII. O atual vigário é o padre Jerzy Kraj, O.F.M.. Junto com os franciscanos trabalham os sacerdotes diocesanos e religiosos e religiosas de diversas Congregações comprometidas nas escolas, na pastoral, na catequese e na assistência aos pobres, imigrantes e idosos. (Conferir também o site do Patriarcado Latino de Jerusalém).
Os maronitas
Os maronitas chegaram em Chipre em ondas sucessivas a partir do século VII-VIII, após as perseguições sofridas no Oriente Médio. Em 1090 construíram o Mosteiro de São João Crisóstomo em Koutsovendis. Novos refugiados chegaram no final do século XIII e em 1316 é ereta a Arquieparquia maronita. Nessa fase, os maronitas se tornam a mais numerosa comunidade de cristãos orientais depois da grega.
Após a conquista da ilha pelos Otomanos depois da quarta guerra turco-veneziana (1570-1573), a presença dos maronitas se reduz drasticamente. Em 1570, as tropas otomanas massacram 30 mil maronitas em Famagusta e Pentadhaktylos. A política declaradamente anticatólica do Império Otomano e as conversões forçadas, reduzem novamente o número de fiéis. Muitos emigram em direção ao Libano em 1596 e o arcebispo maronita é forçado a deixar a ilha.
Em 1686 existiam apenas oito povoados maronitas cujo cuidado pastoral foi confiado aos franciscanos e capuchinhos que residem na ilha. Quando chegaram os britânicos em 1878, havia apenas 1.300 fiéis em seis povoados (Kormakitis, Asomatos, Ayia, Marina, Karpasha, Vuono e Kanbyli). O domínio britânico marca uma grande virada graças à tolerância religiosa e os maronitas empreendem como primeira iniciativa a renovação da sua Igreja Nossa Senhora das Graças, em Nicósia (1886), reabrem escolas, criam grupos de escoteiros, constroem igrejas e fundam a primeira sociedade cooperativa da ilha (1928). A comunidade maronita contava em 2019 com 13 mil batizados (1,5%), concentrados sobretudo em Nicósia e sob a jurisdição da Arquieparquia de Chipre dos Maronitas, atualmente conduzida por Dom Selim Jean Sfer, e cujo território engloba toda a ilha. Entre os maronitas residentes na República de Chipre existem também diversos libaneses fugitivos da guerra. Em Chipre do Norte permaneceram por outro lado poucos fiéis nos povoados de Kormakitis, Asomatos, Karpasha e Ayaia Marina.
Os armênios
Os armênios chegaram em Chipre a partir de 579, quando 3.350 prisioneiros foram transferidos para a ilha pelo general Maurício da Capadócia. Seguem novas ondas de armênios em 717, 965 e em 973 é ereta a Arquidiocese armênia em Nicósia. Casamentos entre os nobres dos dois países ligam progressivamente as famílias reais de Chipre e da Sicília. Ondas de refugiados chegam em Chipre no final do século XIII e depois os ataques dos Sarracenos (1322), dos Mamelucos (1335) e 1345) e a ocupação otomana (a partir de 1403), progressivamente, o armênio se torna uma das línguas oficiais de Chipre. A grande maioria dos armênios pertencia a Igreja Apostólica Armênia, com uma presença reduzida de fieis da Igreja Armênia Católica. Com a chegada dos britânicos em 1878, a situação melhora também para a comunidade armênia e Chipre acolhe cerca de 9 mil refugiados durante o massacre perpetuado pelos Otomanos entre 1915 e 1923. Novas ondas de refugiados chegam depois da separação da Palestina (1948) e durante a guerra no Líbano (1975-90). A comunidade armênio-católica conta hoje com cerca de 3.500 fiéis concentrados em muitos locais da capital Nicósia.
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