A percepção de Maria e o Senhor Jesus, o melhor vinho
Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
No segundo domingo do tempo comum, lemos as bodas de Caná onde ocorreu um casamento com a participação de Maria, de Jesus e os seus discípulos. Naquela festa teve a falta de vinho, de modo que a percepção de Maria foi imediata, dirigindo-se para o seu Filho Jesus Cristo, para que ele realizasse o milagre na falta do vinho naquela festa nupcial. O Senhor disse que a sua hora ainda não tinha chegado, mas ele atendeu ao pedido de sua mãe, pois a sua hora será a sua doação na cruz. O vinho novo, o melhor vinho chegou ao fim, justamente com a transformação da água em vinho. Jesus foi a atenção de todos, por ser o melhor vinho que possibilitou vida nova naquela ocasião. Vejamos o seu significado bíblico desta passagem e as considerações de alguns padres da Igreja sobre a transformação da água em vinho, por parte de Jesus.
A mãe de Jesus e a atuação de Jesus
O evangelista João se de um lado, falou em mãe de Jesus, e por outro lado, Jesus a chamou de mulher, isto é, esposa, símbolo da comunidade da nova aliança. O vinho veio a faltar de modo que esse era elemento importante na festa de matrimônio. Maria referiu o caso logo para Jesus. O Senhor não negou o pedido de sua mãe. Maria em seguida envolveu os servos para que tudo ocorresse da melhor forma. O vinho bom, o melhor é o próprio Senhor Jesus que deu a alegria ao banquete, fez o encontro entre Deus e o seu povo. O milagre foi a prefiguração da nova e definitiva aliança de Deus com o seu povo em Jesus Cristo, realizado pela sua morte gloriosa e ressurreição. O início dos sinais manifestou a glória de Jesus, recebida por Deus Pai[1].
A água que se torna vinho bom
Santo Ildefonso de Toledo, da Espanha, bispo do século VII afirmou que Cristo deu vida nova ao acontecimento das bodas de Caná, através de Maria. O liquido da água transformou-se em vinho, na qual mudou a cor, atraiu o sabor, tornou o cheiro gostoso, mudou a qualidade porque o vinho novo viu-se naquela festa. As coisas foram dadas no estupor, na alegria das coisas que o milagre da transformação da água em vinho foi dado pelo Senhor Jesus Cristo[2].
O primeiro milagre do Senhor
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V afirmou que Jesus fez o primeiro milagre em Caná em força de sua divindade, colocando em realce a sua natureza divina. Maria percebeu a falta do vinho, e por isso ela recorreu a Jesus, que por ser o Filho de Deus encarnado poderia realizar o milagre, o que de fato ele ocorreu pela divindade do Verbo. O bispo de Hipona criticou os maniqueus porque eles negavam que Maria fosse a Mãe de Jesus, de modo que o evangelista João chamou por duas vezes, segundo o bispo de Hipona, Maria como Mãe de Jesus[3].
Natureza humana do Senhor
Ainda em Santo Agostinho, ele afirmou que a palavra do Senhor em dizer a Maria, que ainda não chegou a sua hora tinha o significado do reconhecimento do Filho como mãe da sua natureza humana. E esta hora virá no momento da crucificação. Na cruz Jesus reconhecerá em Maria a Mãe de sua humanidade sofredora e ele se preocupou de confiá-la ao discípulo amado, João[4].
Obra de Deus
Santo Agostinho também falou que a mudança da água em vinho por parte de Jesus foi obra de Deus. A água que foi colocada naquelas talhas mudou-se em vinho por obra de Deus, no seu Filho Jesus Cristo. O Senhor mostrou através de coisas maravilhosas o louvor, a adoração. Os milagres que ele fez colocam que Jesus é Deus e Deus ele mesmo, como nos fala o prólogo de São João (Jo 1,1). Jesus Cristo como homem e como Deus realizou a mudança da água em vinho, alegrando o povo naquela festa de casamento em Caná da Galileia[5].
O vinho melhor veio ao fim
São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV afirmou que Jesus participou daquela festa de uma forma humilde, mas ele deu a sua vida naquela ocasião tornando a água em vinho, de modo que toda a coisa se transformou em melhor no fim, na vida dos seguidores de Jesus Cristo[6].
Jesus nasceu de Maria
São Cirilo de Alexandria, bispo no século V afirmou que Jesus nasceu na carne vindo do ventre de Maria. Ele uniu a si a nossa humanidade para abençoar a o início de nossa existência. Do momento em que o Senhor enxugou as lágrimas de toda a face (Is 25,8), Jesus se uniu à humanidade para dar-lhe a vida nova. Por este motivo o Senhor Jesus pela economia abençoou as núpcias e sendo convidado, foi para Caná da Galileia junto com seus apóstolos[7].
A perfeição com a vinda de Cristo Jesus
São Fausto de Riez, bispo no Sul da Gália (França) afirmou que a intervenção de Cristo, a água que se transformou em vinho, possibilitou que a lei cessasse e sucedesse a graça, como diz o Apóstolo Paulo que o mundo velho desapareceu e tudo agora é novo (2 Cor 5,17), de modo que a água contida nas talhas nada perde do que era e iniciou o que não era, pelo fato de que a lei não deixou de existir mas esta se aperfeiçoou com a vinda de Cristo[8].
O milagre da transformação da água em vinho mostrou o poder de Jesus como Filho de Deus para que a festa ocorresse da forma melhor, em virtude também de sua mãe, Maria. Ela interveio junto ao seu Filho Jesus Cristo, de modo que Jesus fez o seu primeiro milagre em festa de matrimônio, demonstrando o seu amor pela humanidade. O matrimônio é valorizado uma vez que o Senhor realizou o seu primeiro milagre junto de uma família que estava para iniciar. O Senhor abençoe a todas as famílias.
[1] Cfr. La Bibbia. Edizione Piemme, Borgaro Torinese (TO), 1995, pgs 2522-2523.
[2] Cfr. Ildefonso di Toledo. La perpetua verginità di Maria, IX. Introduzione, traduzione e note a cura di Luigi Fatica. Città Nuova Editrice, Roma, 1990, pg. 113.
[3]Cfr. Sant´Agostino. In Io Ev. Tr.8,5,9. Maria “Dignitas terrae,. Introduzione e note a cura di Agostino Trapè, revisione a cura di Oreste Campagna. Nuova Biblioteca Agostiniana, Città Nuova Editrice, Roma, 1995, pgs. 23-24.
[4] Cfr. Idem, pg. 23.
[5] Cfr. Agostino. Commento al Vangelo di san Giovanni, 8,1-3. In: La teologia dei padri, v. 2. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pgs. 123-125.
[6] Cfr. Gregorio Nazianzeno. Epistole. CCXXXII. A Diocle. Introduzione, traduzione e note a cura di Antonella Conte. Città Nuova, Roma, 2017, pg. 299.
[7] Cfr. Cirillo di Alessandria. Epistole Cristologiche, Terza lettera a Nestorio, 11. Introduzione, traduzione e note a cura di Giovanni Lo Castro. Città Nuova, Roma, 1999, pg. 125.
[8] Cfr. Dos Sermões de São Fausto de Riez, Bispo. (Sermo 5, de Epiphania 2: PLS 3, 560-562, século V). In: Liturgia das Horas, I. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave-Maria, 1999, pgs. 561-562.
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