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Basílica de São Paulo Fora dos Muros Basílica de São Paulo Fora dos Muros 

Os preciosos passos de São Paulo em Roma

Hoje, 25 de janeiro, fazemos memória da conversão de São Paulo, o grande apóstolo dos gentios.

Bruno Franguelli, SJ - Vatican News

A vida do Apóstolo Paulo é entusiasmante e Roma testemunha os seus últimos passos. Assim como o Apóstolo Pedro, a Paixão de Paulo pelo anúncio do Evangelho o levou até as últimas consequências: o martírio! Mas, porque Paulo veio a Roma? Quais foram as razões de seu martírio? Onde estão os seus restos mortais e como foram conservados até hoje? Estas e outras tantas curiosidades e enigmas sobre uma das colunas da Igreja é o que queremos revelar.

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Quem era São Paulo?

É difícil definir em poucas palavras quem foi o Apóstolo dos Gentios. Sem dúvida é uma das figuras mais fascinantes do Novo testamento e da Igreja primitiva. Nasceu na cidade de Tarso da Cilícia (atual Turquia) entre os anos 5 e 10 d.C. Ele mesmo se apresenta como “membro da estirpe de Israel, da tribo de Benjamin, judeu filho de judeus e segundo a Lei, fariseu” (Fil 3,5). Homem de forte personalidade e coragem, ainda com o nome de Saulo, foi um dos mais temíveis perseguidores dos seguidores do Caminho (como eram chamados os primeiros discípulos de Jesus). Foi uma importante testemunha a favor do martírio de Santo Estevão.

 Durante uma de suas investidas contra os cristãos, a caminho de Damasco, teve uma experiência radical de encontro com Jesus Ressuscitado. Deste modo, a rota de Saulo muda completamente, adota o nome de Paulo e de perseguidor passa a ser um anunciador fervoroso da pessoa de Jesus e de seu Evangelho. Fundou várias comunidades cristãs e escreveu preciosas cartas com instruções, exortações e reflexões teológicas que desde o início da Igreja estiveram presentes no cânon das Sagradas Escrituras.

Por que São Paulo vai a Roma?

Sabemos, através do livro dos Atos dos Apóstolos, que o apóstolo dos gentios, a causa de sua pregação e de seu trabalho missionário, passou a ser perseguido. Uma das primeiras descrições destes momentos difíceis de Paulo narram que, em Jerusalém, esteve a ponto de ser linchado pelo povo e somente graças a Claudio Lisa, comandante da Fortaleza Antonia, saiu com vida. Segundo os judeus, Paulo profanava o Templo com sua pregação e estimulava o povo a desobedecer a Lei Mosaica (At 21, 28). Como cidadão romano que era, apelou às autoridades para que estas não o julgassem em tribunais judeus e sim na Orbe, sob a autoridade do Imperador romano (At 25,12). Seu pedido é aceito e, prisioneiro, é trazido a Roma. Mas, é interessante notar que Roma teria um significado muito maior para Paulo. Sua viagem lhe seria providencial.

Com o seu incansável ardor missionário, Paulo desejava vir à capital do poderoso Império para realizar uma obra que o Espírito lhe tinha inspirado (At 19,21), que depois foi confirmada através das palavras de um anjo (27, 23-24). A viagem, que a causa de uma grande tempestade quase custou a vida de todos os que estavam a bordo no navio, é descrita em detalhes por seu grande amigo, o evangelista Lucas no capítulo 27 e 28 dos Atos dos Apóstolos. Após estarem são e salvos em Malta, em um outro navio, Paulo e outros prisioneiros embarcaram para Roma. Sobre a chegada de Paulo em Roma, sabemos que ele foi conduzido a pé pela Via Appia (At 28,15) e ainda hoje podemos visitar a grande estrada da época do Império que dá acesso a Roma e ainda hoje é conservada, chamada Via Ápia Antica, que conecta Roma ao sul da Itália.

Prisão domiciliar e martírio

Paulo viveu em Roma entre os anos 61 e 67. Nos primeiros anos estava sob uma condição chamada “custodia militaris”, uma espécie de vigilância da parte do Império. Podia pregar e receber os amigos em casa com apenas algumas poucas restrições. Mas, ainda aguardava o seu julgamento (At 24,23). Um dos locais que, segundo a tradição, Paulo viveu parte de sua estadia e exerceu seu ministério em Roma é onde hoje se situa a Igreja San Paolo alla Regola. Nos momentos de dificuldades, pôde contar com a amizade e companheirismo do evangelista Lucas: “Só Lucas está comigo!”(2 Tm 4,11). Graças a esta proximidade, temos acesso aos detalhes da vida do apóstolo dos gentios, que Lucas deixou registrado em detalhes no livro dos Atos dos Apóstolos. Com o incêndio de Roma, a culpa foi lançada pelo imperador Nero aos cristãos. Assim, Paulo foi condenado a uma prisão mais dura denominada “Custodia publica”, onde permaneceu junto aos prisioneiros comuns e em condições precárias. Pouco tempo depois, por volta do ano 67 dC. o grande Apóstolo foi condenado à morte.

Por que Paulo não foi crucificado?

Paulo era cidadão romano e, por esta razão, contava, de modo especial, com duas prerrogativas: a primeira era que não podia sofrer a pena de morte dentro dos muros da cidade de Roma, a segunda era que, por esta razão, também não podia ser crucificado. Por isso, de acordo com a antiquíssima tradição cristã, foi levado para uma região distante quase cinco quilômetros de Roma, em direção a Óstia e lá foi martirizado. Hoje, o local é conhecido como “Tre Fontane” (três fontes), e conta com três belíssimas igrejas que testemunham o local onde Paulo viveu seus últimos momentos de vida. É interessante notar que o nome “Tre Fontane” refere-se a uma antiga tradição na qual ao ter sido decapitado, a cabeça de Paulo rolou pelo terreno dando três saltos e em cada um deles, nasceu uma fonte de água cristalina.

A Basílica e as relíquias

O corpo de Paulo foi sepultado num local fora dos muros de Roma, mais próximo da cidade que o lugar do martírio. Ali, o Papa Anacleto, segundo sucessor de São Pedro, construiu um túmulo memorial que desde então passou a ser local de peregrinação e veneração pelos cristãos. Mas, nos anos das terríveis perseguições aos cristãos, especialmente por volta de 258 d.C., durante o governo de Valeriano, os cristãos transferiram as relíquias de Paulo e as de Pedro para as catacumbas de São Sebastião. Ali, estiveram protegidas até o governo de Constantino, que as conduziu aos túmulos de origem e mandou construir uma primeira Basílica. As relíquias de Pedro ao local onde hoje está a Basílica de São Pedro e as de Paulo ao lugar onde hoje se encontra a Basílica de São Paulo Fora dos Muros. A Basílica constantiniana de São Paulo foi consagrada em 324 d.C. pelo Papa Silvestre. Em 1823, a Basílica sofreu um desastroso incêndio e precisou ser reconstruída quase na sua totalidade. Somente em 1854 a nova Basílica ficou pronta e em setembro do mesmo ano, o Papa Pio IX a consagrou. Os Imperadores posteriores a ampliaram e com as modificações ao longo dos séculos é hoje um dos mais belos templos e locais privilegiados de peregrinação em Roma. E assim, a memória do ardoroso Apóstolo dos Gentios, continua a inspirar todos os seguidores de Jesus que desejam, com o Apóstolo afirmar: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim!”(Gal 2,20).

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25 janeiro 2022, 11:28