Os preciosos passos de São Paulo em Roma
Bruno Franguelli, SJ - Vatican News
A vida do Apóstolo Paulo é entusiasmante e Roma testemunha os seus últimos passos. Assim como o Apóstolo Pedro, a Paixão de Paulo pelo anúncio do Evangelho o levou até as últimas consequências: o martírio! Mas, porque Paulo veio a Roma? Quais foram as razões de seu martírio? Onde estão os seus restos mortais e como foram conservados até hoje? Estas e outras tantas curiosidades e enigmas sobre uma das colunas da Igreja é o que queremos revelar.
Quem era São Paulo?
É difícil definir em poucas palavras quem foi o Apóstolo dos Gentios. Sem dúvida é uma das figuras mais fascinantes do Novo testamento e da Igreja primitiva. Nasceu na cidade de Tarso da Cilícia (atual Turquia) entre os anos 5 e 10 d.C. Ele mesmo se apresenta como “membro da estirpe de Israel, da tribo de Benjamin, judeu filho de judeus e segundo a Lei, fariseu” (Fil 3,5). Homem de forte personalidade e coragem, ainda com o nome de Saulo, foi um dos mais temíveis perseguidores dos seguidores do Caminho (como eram chamados os primeiros discípulos de Jesus). Foi uma importante testemunha a favor do martírio de Santo Estevão.
Durante uma de suas investidas contra os cristãos, a caminho de Damasco, teve uma experiência radical de encontro com Jesus Ressuscitado. Deste modo, a rota de Saulo muda completamente, adota o nome de Paulo e de perseguidor passa a ser um anunciador fervoroso da pessoa de Jesus e de seu Evangelho. Fundou várias comunidades cristãs e escreveu preciosas cartas com instruções, exortações e reflexões teológicas que desde o início da Igreja estiveram presentes no cânon das Sagradas Escrituras.
Por que São Paulo vai a Roma?
Sabemos, através do livro dos Atos dos Apóstolos, que o apóstolo dos gentios, a causa de sua pregação e de seu trabalho missionário, passou a ser perseguido. Uma das primeiras descrições destes momentos difíceis de Paulo narram que, em Jerusalém, esteve a ponto de ser linchado pelo povo e somente graças a Claudio Lisa, comandante da Fortaleza Antonia, saiu com vida. Segundo os judeus, Paulo profanava o Templo com sua pregação e estimulava o povo a desobedecer a Lei Mosaica (At 21, 28). Como cidadão romano que era, apelou às autoridades para que estas não o julgassem em tribunais judeus e sim na Orbe, sob a autoridade do Imperador romano (At 25,12). Seu pedido é aceito e, prisioneiro, é trazido a Roma. Mas, é interessante notar que Roma teria um significado muito maior para Paulo. Sua viagem lhe seria providencial.
Com o seu incansável ardor missionário, Paulo desejava vir à capital do poderoso Império para realizar uma obra que o Espírito lhe tinha inspirado (At 19,21), que depois foi confirmada através das palavras de um anjo (27, 23-24). A viagem, que a causa de uma grande tempestade quase custou a vida de todos os que estavam a bordo no navio, é descrita em detalhes por seu grande amigo, o evangelista Lucas no capítulo 27 e 28 dos Atos dos Apóstolos. Após estarem são e salvos em Malta, em um outro navio, Paulo e outros prisioneiros embarcaram para Roma. Sobre a chegada de Paulo em Roma, sabemos que ele foi conduzido a pé pela Via Appia (At 28,15) e ainda hoje podemos visitar a grande estrada da época do Império que dá acesso a Roma e ainda hoje é conservada, chamada Via Ápia Antica, que conecta Roma ao sul da Itália.
Prisão domiciliar e martírio
Paulo viveu em Roma entre os anos 61 e 67. Nos primeiros anos estava sob uma condição chamada “custodia militaris”, uma espécie de vigilância da parte do Império. Podia pregar e receber os amigos em casa com apenas algumas poucas restrições. Mas, ainda aguardava o seu julgamento (At 24,23). Um dos locais que, segundo a tradição, Paulo viveu parte de sua estadia e exerceu seu ministério em Roma é onde hoje se situa a Igreja San Paolo alla Regola. Nos momentos de dificuldades, pôde contar com a amizade e companheirismo do evangelista Lucas: “Só Lucas está comigo!”(2 Tm 4,11). Graças a esta proximidade, temos acesso aos detalhes da vida do apóstolo dos gentios, que Lucas deixou registrado em detalhes no livro dos Atos dos Apóstolos. Com o incêndio de Roma, a culpa foi lançada pelo imperador Nero aos cristãos. Assim, Paulo foi condenado a uma prisão mais dura denominada “Custodia publica”, onde permaneceu junto aos prisioneiros comuns e em condições precárias. Pouco tempo depois, por volta do ano 67 dC. o grande Apóstolo foi condenado à morte.
Por que Paulo não foi crucificado?
Paulo era cidadão romano e, por esta razão, contava, de modo especial, com duas prerrogativas: a primeira era que não podia sofrer a pena de morte dentro dos muros da cidade de Roma, a segunda era que, por esta razão, também não podia ser crucificado. Por isso, de acordo com a antiquíssima tradição cristã, foi levado para uma região distante quase cinco quilômetros de Roma, em direção a Óstia e lá foi martirizado. Hoje, o local é conhecido como “Tre Fontane” (três fontes), e conta com três belíssimas igrejas que testemunham o local onde Paulo viveu seus últimos momentos de vida. É interessante notar que o nome “Tre Fontane” refere-se a uma antiga tradição na qual ao ter sido decapitado, a cabeça de Paulo rolou pelo terreno dando três saltos e em cada um deles, nasceu uma fonte de água cristalina.
A Basílica e as relíquias
O corpo de Paulo foi sepultado num local fora dos muros de Roma, mais próximo da cidade que o lugar do martírio. Ali, o Papa Anacleto, segundo sucessor de São Pedro, construiu um túmulo memorial que desde então passou a ser local de peregrinação e veneração pelos cristãos. Mas, nos anos das terríveis perseguições aos cristãos, especialmente por volta de 258 d.C., durante o governo de Valeriano, os cristãos transferiram as relíquias de Paulo e as de Pedro para as catacumbas de São Sebastião. Ali, estiveram protegidas até o governo de Constantino, que as conduziu aos túmulos de origem e mandou construir uma primeira Basílica. As relíquias de Pedro ao local onde hoje está a Basílica de São Pedro e as de Paulo ao lugar onde hoje se encontra a Basílica de São Paulo Fora dos Muros. A Basílica constantiniana de São Paulo foi consagrada em 324 d.C. pelo Papa Silvestre. Em 1823, a Basílica sofreu um desastroso incêndio e precisou ser reconstruída quase na sua totalidade. Somente em 1854 a nova Basílica ficou pronta e em setembro do mesmo ano, o Papa Pio IX a consagrou. Os Imperadores posteriores a ampliaram e com as modificações ao longo dos séculos é hoje um dos mais belos templos e locais privilegiados de peregrinação em Roma. E assim, a memória do ardoroso Apóstolo dos Gentios, continua a inspirar todos os seguidores de Jesus que desejam, com o Apóstolo afirmar: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim!”(Gal 2,20).
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui