Schevchuk: vencer o mal com a prática do bem

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs,

hoje é domingo, 26 de junho de 2022, e o povo ucraniano sofre, mas resiste com coragem à invasão militar em larga escala da Rússia, que já dura há 123 dias.

Pesados combates ocorrem em toda a linha de frente. O inimigo concentrou o enorme potencial de seu exército em torno das cidades de Lysychansk e Severodonetsk, em um pequeno canto da região ucraniana de Luhansk.

Ontem, toda a Ucrânia, todo o território de nossa pátria se tornou o epicentro do mais maciço ataque de mísseis da Rússia durante os últimos dias desta guerra. Mais de 45 mísseis alados foram lançados sobre a Ucrânia a partir do território bielorrusso, do Mar Negro. Esta manhã, às 6h, um ataque de míssil atingiu nossa cidade de Kiev, em nossa capital. Uma nuvem negra se levantou sobre a cidade de Kiev.

Mas a Ucrânia resiste, a Ucrânia reza. Hoje é domingo, e a Ucrânia está se preparando para se apresentar em suas igrejas diante da face de Deus para levantar as mãos em oração e pedir ao Senhor Deus, Criador do Céu e da Terra, que a proteja, lhe dê paz, dê a vitória da Ucrânia, pedindo que com os esforços comuns da ação da comunidade internacional possa ser detida a mão assassina do sanguinário agressor russo.

Nestas circunstâncias difíceis e dramáticas, gostaria hoje de vos convidar a refletir sobre outro fruto da ação do Espírito Santo para o homem, sobre o fruto que é para nós um raio de esperança. Este fruto da ação do Espírito Santo chama-se misericórdia. De fato, sabemos pela Sagrada Escritura que a melhor forma de expressar a aproximação de Deus ao ser humano está contida na palavra e no conceito de misericórdia. Cremos em um Deus que nos amou primeiro. Cremos em um Deus misericordioso que é misericordioso conosco quando vê nossa fraqueza, quando vê nosso pecado.

Ontem, refletindo sobre o fruto da ação do Espírito Santo representado pela bondade, vimos que o próprio Deus é bom, Ele é bondade e criou tudo como bom. Falando do fruto posterior do Espírito Santo, isto é, da misericórdia, falamos de uma certa capacidade do homem de não ser mera criatura de Deus, mas de ter certo traço de semelhança com Deus, isto é, fazendo-se semelhante ao seu próprio Criador, criar o bem.

Não se trata aqui da misericórdia como gesto de compaixão, de algo que diz respeito ao nosso sentimento sentimental pessoal da realidade ou de uma pessoa necessitada, mas da capacidade do homem de multiplicar aquele bem que o Senhor Deus fez, espalhando-o.

De fato, o mal no mundo deriva da má vontade do ser humano e nada mais é do que a ausência do bem. Onde não fazemos o bem, deixamos espaço para o mal. Assim como quando desligamos a luz, vem a escuridão profunda.

Hoje, para poder opor-se ao mal, para vencê-lo, devemos multiplicar ativamente o bem, diariamente, pessoalmente, devemos fazer o bem. Fazer aquelas obras de misericórdia que infligem o golpe mais pesado no diabo e seus servidores. Além disso, as obras de misericórdia e de beneficência do ser humano são definidas pela Palavra de Deus como obras que têm valor na eternidade. Essas obras permanecerão conosco, constituirão nossa herança, serão nossa recompensa após a conclusão da vida terrena.

Gostaria de compartilhar com vocês as preocupações sobre uma carta que recebi ontem. Um simples aposentado ucraniano, da região de Zaporizhya, da cidade de Orikhiv, me escreveu. Este senhor se chama Shkolyarenko Serhiy Volodymyrovych. Ele descreve as atrocidades da guerra vividas pelas pessoas na cidade de Orikhiv, na região de Zaporizhya. Acontece que quando um míssil atinge uma grande cidade, todo mundo fica sabendo, os meios de comunicação o citam, enquanto o sofrimento indescritível nas pequenas cidades e povoados ucranianos é conhecido por poucos.

Assim, Lord Serhiy escreve que antes da guerra sua cidade de Orikhiv tinha cerca de 14 mil habitantes. Hoje restam um total de 600 pessoas que estão constantemente se escondendo e vivendo em porões. Ele escreve: "Nossa vida hoje é um inferno na terra". Sua carta, por um lado, é um grito de desespero e ajuda e, por outro, é um apelo ao clero, aos expoentes da Igreja, à comunidade mundial, às organizações internacionais sobre a necessidade de deter o mal mais breve possível. Parar o agressor russo. Fazer tudo o que for preciso para que a guerra termine.

Hoje entregamos nas mãos de Deus o pedido dessa boa pessoa, que compartilha sua tragédia com a Ucrânia e o mundo. Entrego essa voz aos corações de milhões de pessoas em todo o mundo. Vamos parar a guerra juntos. Façamos o bem, o bem pela Ucrânia, de acordo com o que cada um de nós é capaz de fazer, cada um no seu lugar. E poderemos ter certeza, então, que o mal será derrotado.

Deus, abençoe a Ucrânia. Deus, abençoe as crianças ucranianas. Deus, dai-nos paz a todos.

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês com Sua graça e o amor pelos homens, hoje e para todo e sempre. Amém!

Louvado seja Jesus Cristo!

Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
26.06.2022