Prédio destruído por ataque militar russo, em meio à invasão russa na Ucrânia, é visto na cidade de Dobropillia, na região de Donetsk, Ucrânia, em 14 de junho de 2022. REUTERS/Gleb Garanich Prédio destruído por ataque militar russo, em meio à invasão russa na Ucrânia, é visto na cidade de Dobropillia, na região de Donetsk, Ucrânia, em 14 de junho de 2022. REUTERS/Gleb Garanich 

Mesmo sob as bombas, exarca de Donetsk permanece ao lado da população local

O arcebispo Stepan Meniok, que fugiu para Zaporizhia depois de 2014, procura orientar os fiéis na área mais quente do conflito. Alguns sacerdotes permaneceram em suas paróquias, mas não podem mais deixar a região. Ele pede para rezar por aqueles que invadiram a Ucrânia, "que perderam o caminho" e se emociona ao pensar em seu retorno a Donetsk.

Svitlana Dukhovych - Cidade do Vaticano

O Exarcado de Donetsk da Igreja Greco-Católica ucraniana abrange o território das regiões ucranianas de Donetsk, Zaporizhia, Dnipropetrovsk e Luhansk. Alguns desses territórios foram ocupados já em 2014, quando as repúblicas separatistas se declararam independentes. Outra parte depois de 24 de fevereiro deste ano, quando a Federação Russa iniciou a guerra em grande escala. Áreas por onde passa a linha de frente. Destes territórios chega aos nossos microfones o testemunho do exarca de Donetsk, Dom Stepan Meniok. O redentorista fala sobre o papel que os sacerdotes estão desempenhando, sobre a atividade das paróquias e a vida dos fiéis, não obstante a gravidade da situação.

A mudança forçada do bispado

 

Dom Meniok foi ordenado bispo há 20 anos, em fevereiro de 2002, após sua nomeação como exarca de Donetsk-Kharkiv. Em abril de 2014, o território do Exarcado foi dividido em dois e ele presidiu o de Donetsk. No mesmo mês, a guerra começou no Donbass. Naquela época, o exarca estava no santuário mariano de Zarvanytsia, no oeste da Ucrânia. Ao retornar a Donentsk, soube que sua casa havia sido ocupada por separatistas e, portanto, não podia mais retornar, e permaneceu em Zaporizhia, onde ainda reside e de onde exerce seu ministério à frente do exarcado.

Sacerdotes permaneceram em suas paróquias

 

“Em Donetsk permaneceram quatro de nossos sacerdotes, que continuam realizando seu serviço lá”, disse Dom Meniok. “Há também um em Luhansk. Eles mantiveram a posse das paróquias e as pessoas vão, embora mais da metade da população tenha deixado a região. Antes de 24 de fevereiro, esses sacerdotes podiam ir e voltar, mas agora não podem mais sair de lá e ficar para servir”.

Desde o início da invasão em larga escala, o Exarcado de Donetsk foi novamente atingido. O padre que serviu em Mariupol mal conseguiu escapar. “Perdemos recentemente outras três paróquias. Os padres tiveram que deixar a de Kreminna, que já está ocupada pelos militares russos, a de Severodonetsk, onde estão ocorrendo os combates muito violentos, e de Lysychansk, que está sob o controle do exército ucraniano", diz o exarca, acrescentando que “a tática de guerra do exército russo é muito feroz: primeiro eles bombardeiam e destroem cidades ou povoados, enquanto os civis morrem, e depois avançam”. “O perigo existe em todas as partes do Exarcado, mas os padres, que são 53 no total, continuam servindo em suas comunidades”, explica.

Exarca de Donetsk, Dom Stepan Meniok, redentorista
Exarca de Donetsk, Dom Stepan Meniok, redentorista

"Afeiçoei-me a essas pessoas"

 

O arcebispo Stepan Meniok nasceu na região de Lviv (Lviv, Ucrânia ocidental). "Mesmo que eu tenha a mentalidade dos ucranianos ocidentais, eu amo essas pessoas. Pedi para ser enviado ao leste da Ucrânia - diz ele - porque sou missionário, sou redentorista, e nosso carisma é ir até as pessoas mais abandonadas. Essas pessoas têm o coração muito bom e aberto. Às vezes começamos paróquias do zero e no início eram apenas 10 pessoas. Já depois de um ano ou dois, toda a igreja estava cheia de pessoas. Esse fenômeno é muito interessante”.

Ajuda aos refugiados

 

O bispo conta que a ajuda humanitária chega a Zaporizhia de todas as partes do mundo. Dia e noite são distribuídos pela Caritas local e pelas freiras basilianas (da ordem de São Basílio Magno) aos necessitados, especialmente aos refugiados. A Mariupol Caritas, cuja sede foi atingida em meados de março, também se mudou para Zaporizhia. Sete pessoas, incluindo dois funcionários, perderam a vida. A Caritas Mariupol cuida dos refugiados desta cidade, tomada pelo exército russo.

Cristãos e esperança para o futuro

 

“Nossa atitude para com aqueles que nos invadiram deve ser cristã: como aquela para com os filhos de Deus, que se perderam. Eles também são a imagem de Deus, mas obscurecidos por pecados e informações negativas. Com nossas orações podemos abrir os olhos deles para a verdade”, diz Dom Meniok.

“Espero que Deus me permita voltar a Donetsk - diz o bispo com confiança - e já sei que durante meu primeiro sermão não conseguirei dizer uma palavra sequer, mas apenas chorar. A verdade deve superar a mentira e o mal. Nunca foi diferente”.

Arcebispo Stepan Meniok, com sacerdotes e religiosas do Exarcado de Donetsk
Arcebispo Stepan Meniok, com sacerdotes e religiosas do Exarcado de Donetsk

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

17 junho 2022, 10:43