Dom Frigenni: “A Amazônia me ensinou a obedecer a um ritmo que é o meu"
Vatican News
No dia 1º de julho, Dom Giuliano Frigenni completou 75 anos, idade canônica em que os bispos tem que apresentar sua renúncia ao governo pastoral da diocese. O Bispo de Parintins afirma que é “um momento de muitos sentimentos, primeiro de gratidão por ter chegado até o fim desta estação da minha vida”. Ele vê seus últimos 23 anos como bispo como “os mais cheios de responsabilidades, de dons, de alegrias, de sofrimento”.
Missionário na Amazônia
“Um tempo de comunhão com os outros bispos”, segundo Dom Giuliano, vivido desde a responsabilidade de “fazer apaixonar o Povo de Deus pelo Reino de Deus, sentir que o Reino de Deus é algo a ser acrescentado à vida”. Missionário na Amazônia há 43 anos, ele considera a região como “um mundo cheio de mistério, um mistério que se revela nas pessoas”. Aos 75 anos, o Bispo da Diocese de Parintins diz se sentir “como quando entrei na sala de aula para começar a aprender a escrever”. Depois de entregar sua renúncia ao Santo Padre, ele quer viver este momento desde o desejo imenso “de falar menos, de meditar mais, de agradecer mais, e de acompanhar o crescimento da Igreja no Brasil”, lembrando momentos importantes vividos ao longo dos últimos anos, insistindo em que “toda esta vida tão rica não tem ponto final”.
Tempo de silêncio
Dom Giuliano quer aproveitar o futuro para “silenciar, um silêncio cheio de vida”, querendo “ecoar dentro da minha vida a grandeza de ter nascido, de ter sido batizado, de ter encontrado uma paróquia que me iniciou à vida, de ter começado trabalhar nas fábricas, lá que senti a vocação, porque sentia na fábrica onde eu trabalhava o ódio contra Cristo e a Igreja”. Ele afirma nunca ter se arrependido de entrar no PIME, e também de ter obedecido ao Papa João Paulo II, “mesmo não sabendo quase nada daquilo que é o trabalho do bispo”.
O que pede para o futuro é um tempo para “me arrepender e permitir que o meu coração se torne mais grato do que presunçoso, mais silencioso do que falador”. Junto com isso, que “a amizade que nasceu entre mim e muitos padres da Diocese de Parintins, padres que eu tive a graça de consagrar padres”, destacando a familiaridade com eles, mas também “a paternidade de um pai que vê os filhos crescer mais sábios, mais inteligentes, mais atuantes do que ele”, padres com a capacidade de “olhar a realidade, amando-a e querer que ela não seja o lugar de exploração, de violência, de pretensão ou de luta pelo poder”. O bispo chama a “viver o presente tendo no coração a presença de Cristo”, lembrando a Christus vivit, onde o Papa faz ver que é pela presença de Cristo, que “a nossa vida se torna vida”.
Os ensinamentos da Amazônia
Na Amazônia, Dom Giuliano Frigenni diz ter aprendido, “primeiro a não correr”, insistindo em que “na Amazônia, a primeira coisa importante é a pessoa, escutar as pessoas, gastar tempo, que não é gastar, é se admirar de como Deus chegou primeiro na vida dessas pessoas, chegou com uma bondade, com uma sabedoria, e também chegou com sofrimentos que encontrei”. O bispo afirma que “aprendi a ver aquilo que no mundo se tenta esconder”, dizendo que “na Amazônia fui obrigado a estar com as pessoas”. Ele insiste em que a Amazônia ensina o método da missão, da encarnação e a inculturação, de encontrar amigos, reconhecer nestes amigos aqueles com quem partilhar a missão.
Dom Giuliano lembra de padres e bispos que marcaram sua vida, que segundo ele, junto com seu pai, “me transmitiram o sentido da vida”. Ele afirma que “a Amazônia tem esta mágica de colocar em primeiro lugar a própria realidade que determina o ritmo das pessoas”. Segundo o bispo, “quase, quase, o homem não tem que fazer nenhuma violência, até quando tem que cortar uma árvore, o faz porque é necessário, para construir a casa, a canoa ou o cabo do machado ou um remo, mas tudo é feito para a vida”.
O Bispo da Diocese de Parintins insiste em que o homem da Amazônia não procura o lucro acima de tudo, o que leva alguns a questionar sobre a falta de desenvolvimento. Nesse sentido, ele se pergunta sobre o que é o desenvolvimento e o progresso “que passa por cima de milhares, às vezes de milhões de pessoas”. Dom Giuliano afirma que “a Amazônia me colocou diante daquilo que é o tesouro aos olhos de Deus, cada pessoa, cada família, cada povo, cada língua, cada rio tem os réus ritmos. A Amazônia me ensinou a obedecer a um ritmo que não é o meu”.
Ele vê os 45 anos vividos no Amazonas como “um tempo para começar a se apaixonar por Deus, que nos deu a vida, me deu a graça da vocação missionária, e de ter encontrado rapazes e moças, homens e mulheres que partilharam esta fé e que crescemos juntos”. Uma história sólida, segundo o bispo, “construída por um Outro, o Espírito Santo, que me permite conhecer o Cristo e revelar o Pai”, o que leva a destacar, vendo como isso ajudou a crescer às pessoas, que “a vida não passou inutilmente”, pois fez com que hoje homens e mulheres “tenham no coração a presença de Cristo e através desta presença aprendam a amar”.
Olhando para o presente e o futuro, Dom Giuliano não diz “missão cumprida”, e sim diz a Deus, “me ajuda a continuar, a te agradecer e a te encontrar”. Ele insiste em que “se tiver saúde, gostaria muito de continuar, até em outras dioceses que a gente visitou nestes 23 anos”, falando da possibilidade de dar um tempo em outras igrejas do Regional Norte1.
Neste tempo de espera, até que o Papa Francisco aceite a renúncia de Dom Giuliano e seja nomeado um novo bispo, ele gostaria que a Igreja de Parintins “viva este momento com desejo de crescer cada vez mais”. Ele define a diocese onde tem sido bispo nos últimos 23 anos como “uma Igreja, como diz o Papa Francisco, com rosto amazônico”. Também pede que as obras que foram realizadas pelo PIME ao longo dos anos, “que chegue um bispo que valorize estas obras, mas que sobretudo valoriza os seus padres, um bispo que possa ajudar eles a se encontrar, aprofundar, a viver a fraternidade, a viver com o povo e para o povo”.
Aguardando novo Bispo
Dom Giuliano insiste em que como bispo, só levou para frente aquilo que os bispos anteriores tinham criado junto com os primeiros padres do PIME. Por isso, reafirma, em relação com o novo bispo, que “o povo e os padres estão esperando alguém que esteja com eles e ajude eles a viver esta vocação, e povo, acho que vai sentir a beleza de ter um bispo finalmente brasileiro, não sei se amazônico ou de outro lugar”. Isso, porque segundo Dom Giuliano, “o PIME existe para desaparecer e que cresça a igreja local”.
Finalmente, o bispo pede que “rezem por mim para eu nunca dizer estou com saudade, que eu possa ter um lugarzinho no coração deles, e que eu possa dizer sim até o último minuto”. Ele recorda as palavras de São Francisco, pedindo que diante da chegada da morte possa dizer, “vem irmã, eu quero ver aquele em quem acreditei, eu fiz tudo aquilo que precisava fazer para encontra-lo, não somente no sacramento, mas no grande sacramento, que é a Igreja. Quem encontra a Igreja, a comunidade cristã, encontra a Cristo, quem encontra a Cristo, encontra a Deus. Que possa ficar no coração deles como alguém que precisa”.
Dom Giuliano diz se comprometer a rezar por todos aqueles que batizou, crismou, pedindo que “possam nunca esquecer que a fé tem a ver com a cultura, com o trabalho, com o desenvolvimento, com a arte, Parintins tem muitos artistas, pedindo a eles que no coração deles tenham um lugarzinho para rezar por mim, pois eu vou rezar todos os dias por eles”.
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