Ucrânia. Escutar e acolher: a experiência com os refugiados em Briukhovychi

Padres basilianos do convento da cidade ucraniana desde o início da guerra disponibilizaram suas instalações para apoiar as pessoas obrigadas a fugir, primeiro da capital Kiev e depois da região de Donbass. Uma experiência baseada na confiança e na providência. “Gostaríamos que a permanência dos refugiados em nosso convento fosse também uma oportunidade para eles encontrarem Deus e a vida do Evangelho”, diz o superior, padre Panteleymon Trofimov.
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Svitlana Duckhovych – Vatican News

Em Briukhovychi, subúrbio de Lviv, no oeste da Ucrânia, a Ordem Basiliana de São Josafá possui um convento e um seminário, onde vivem e estudam mais de 50 religiosos, a maioria seminaristas. Além dos basilianos, o seminário também é frequentado por membros de outras congregações. É o maior convento da Igreja Greco-Católica ucraniana. "A guerra nos confrontou com novos desafios", diz padre Panteleymon Trofimov, superior do convento e reitor do seminário, em entrevista ao Vatican News. Além da atividade do seminário que não parou e do cuidado pastoral com as pessoas que nos últimos meses frequentam cada vez mais sua igreja, os religiosos iniciaram um novo serviço: o de acolher os deslocados que continuam chegando das áreas de combate ou dos territórios ocupados pelo exército russo.

Um novo desafio: acolher refugiados

Padre Panteleymon recorda que no primeiro dia da guerra reuniu todos os seus confrades para pensarem como adaptar a vida da comunidade às novas circunstâncias. "Nos primeiros dias a situação era muito incerta e alguns irmãos precisavam de apoio mútuo e escuta. Eu também, como reitor, durante o primeiro mês da guerra, senti que tinha que passar mais tempo do que o habitual com os irmãos para compartilhar suas preocupações".

O acolhimento de refugiados foi e continua a ser o maior desafio. Mesmo antes de 24 de fevereiro, quando ainda se falava da possibilidade de uma invasão russa, os representantes do município de Lviv tinham se dirigido aos padres basilianos de Briukhovychi, pedindo-lhes sua disponibilidade para acolher os refugiados no caso de um ataque de Moscou. "Já no segundo dia da guerra chegaram muitos refugiados - lembra o padre Panteleymon. Eles vieram da região de Kiev (Bucha, Irpin, etc.) e Kharkiv. O maior número de pessoas que recebemos foi de 170 pessoas por vez".

A todos foi oferecido gratuitamente alimentação, hospedagem, serviço de lavanderia, kits de higiene e medicamentos. "Nas duas primeiras semanas eu me perguntava se íamos conseguir dar conta, pois não havia ajuda do Estado, só poderíamos contar com os nossos próprios recursos. A ajuda do exterior, em especial da Conferência Episcopal dos Estados Unidos e da Associação L'Œuvre d'Orient, chegaria mais tarde", relata o religioso.

Para os refugiados, uma possibilidade de encontro com Deus

Com a retirada do Exército russo da região de Kiev, as pessoas começaram a voltar para casa, e chegaram os refugiados da região onde o padre Panteleymon nasceu e foi criado: o Donbass. "Agora hospedamos 130 pessoas. Mais de 30 delas são membros da comunidade paroquial de Zvanivka, na região de Donetsk, onde existe um de nossos conventos e por isso imediatamente se inseriram em nossas atividades pastorais. Queremos também que para os outros refugiados a permanência em nosso convento seja uma oportunidade para se aproximarem de Deus”.

Alguns dos refugiados são ortodoxos, outros dizem que não acreditam, outros ainda têm preconceitos contra os católicos. O padre explica que não se trata de impor algo, mas oferecer uma oportunidade de conhecimento mútuo através de vários encontros temáticos e cursos de formação. “Mesmo durante a conversa simples e cotidiana com os membros de nossa comunidade, essas pessoas têm a oportunidade de conhecer a vida da Igreja e sentir o amor de Deus”, disse o padre.

Desta necessidade concreta nasceu a ideia do novo projeto iniciado em julho: a Comissão para a Vida Consagrada da Igreja greco-católica ucraniana ativou no convento basiliano de Briukhovychi, um centro de aconselhamento espiritual, onde alguns assistentes espirituais e psicólogos oferecem ajuda profissional gratuita, não só aos refugiados, mas também a todos os que dela necessitam.

O sacerdote sublinha que o acolhimento é garantido a todos, independentemente da sua filiação religiosa ou da língua que falam, ucraniano ou russo. O sacerdote faz apenas um pedido: "A única coisa que peço é que tenham respeito pelo convento, pelos membros da nossa comunidade e uns pelos outros".

Compreensão das diferenças e nunca imposição

O religioso ainda nos conta sobre suas origens: "Deixei minha região de origem em 2001, quando entrei na ordem. A minha origem me ajuda a entender melhor as pessoas, por exemplo, na língua, na atitude em relação à fé e à Igreja. Acontece que aqui, no oeste da Ucrânia, alguns de nossos fiéis também não entenderem a mentalidade dos habitantes do leste do país e gostariam que eles se adaptassem imediatamente aos costumes deste lugar. Para aqueles que perderam tudo; seus empregos, suas casas, seus entes queridos e não sabem o que os espera, não podemos impor um fardo a mais e infligir outra dor.

Também tenho certeza de que querer aproximar alguém a Deus pela força é errado desde o início. Por meio de nossas atitudes cristãs, devemos criar uma oportunidade para que as pessoas vejam a vida de outra perspectiva, a fim de encontrar uma resposta à pergunta: "Por que nos tratam assim?". Do ponto de vista do mundo, não tiramos nenhuma vantagem do nosso serviço, mas tratamos os outros dessa maneira porque acreditamos e somos cristãos”, conclui o padre Panteleymon.

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15 julho 2022, 12:13