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Pré-Assis: delegação da juventude latino-americana em Roma

Uma delegação de articuladores, educadores sociais, pesquisadores e economistas da América Latina está em Roma para diálogos e reuniões com organismos eclesiais sobre a construção de "uma economia mais justa".

Vatican News

Uma delegação de articuladores, educadores sociais, pesquisadores e economistas está viajando de 17 a 27 de setembro para Roma da América Latina para diálogos e reuniões com organismos eclesiais sobre a construção de "uma economia mais justa". O grupo realiza essa jornada à Itália para se encontrar com o Papa Francisco e participar do Encontro Mundial da Economia de Francisco. Junto com as Igrejas, congregações religiosas, dioceses, a rede Igrejas e Mineração, a Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) Roma, com a União Internacional de Superiores Gerais (UISG e USG) e a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (ABEFC), propõem espaços de reflexão e diálogo sobre novos paradigmas para a economia e o papel das igrejas na construção de uma "economia samaritana".

Em documento a ser apresentado em evento com a Pontifícia Comissão para a América Latina em reunião a ser realizada na segunda-feira (19), a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara e a Rede Igrejas e Mineração destacam o papel feminino nas alternativas econômicas. "Economia, um substantivo feminino. Inspirados por Clara e Francisco, expressamos o desejo de uma mudança profunda na abordagem estabelecida até agora para as relações econômicas", diz o texto. Como uma orientação coletiva fruto de reflexões, reuniões e escuta das realidades, a cartilha apresenta princípios para viver a Economia de Francisco e Clara a partir da ação das Igrejas, em uma abordagem baseada na Ecologia Integral, no Desenvolvimento Integral, nas alternativas anticapitalistas, nos Comuns e em outras práticas.

Nos diálogos prévios ao encontro com o Santo Padre em Assis, que se realiza entre 22 e 24 de setembro, o grupo proveniente da América Latina, com mais de 100 jovens somente do Brasil, propõe um diálogo sobre o papel das Igrejas, Universidades e congregações na abordagem de novos paradigmas: da competição à colaboração; da exploração à sustentabilidade; da acumulação à distribuição; do desequilíbrio nas relações entre pessoas e países ao comércio justo; do consumo desenfreado ao consumo responsável. Para Guilherme Cavalli, membro da ABEFC e coordenador da Campanha de Desinvestimento em Mineração, a oportunidade de reunir jovens do mundo e propor outros paradigmas econômicos “é aterrizar o chamado do papa Francisco, por seu testemunho, desde a exortação Evangelii Gaudium até a encíclica Fratelli Tutti”. “Como juventudes do mundo, temos um espaço para partilhar e construir outros modelos econômicos que não aposte na exploração da Mãe e Irmã Terra, na exploração desumana da força de trabalho em determinadas zonas geográficas, em um capital internacional que continua as colonialidades sobre nossos territórios”, comenta o ambientalista.

 

Entre os temas-chave propostos pelo grupo está a atribuição a Santa Clara, junto com Francisco de Assis, como figura inspiradora para entender o chamado à "caridade" em Jesus que o movimento chama a concretizar. "A Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (ABEFC), nascida em 2019, traz ao encontro com entidades, movimentos internacionais e o próprio Papa Francisco a inclusão de Clara no chamado da Economia de Francisco", destaca Eduardo Brasileiro, um dos articuladores da ABEFC. "Entendemos a importância de homens e mulheres caminhando lado a lado na construção de novos pactos econômicos, porque até hoje a direção da economia é liderada por homens que são insensíveis aos apelos da comunidade global.

"Acreditamos que a territorialidade, entendida como o espaço de experiência concreta na vida cotidiana, desempenha um papel crucial na construção de novas práticas econômicas. Acreditamos que é a partir da base da existência real e da práxis que se forja o ser político e social, fortalecendo conhecimentos e ações através do protagonismo dos atores locais como parte da ação necessária para a mudança macro-territorial", lembra o princípio número 8 da cartilha. A ABEFC entende a reunião como uma parada na consolidação de um movimento social global que impulsiona transições urgentes na economia política global, tais como a conversão ecológica, a renda básica universal, a difusão das economias de proximidade nos territórios e novas concepções da economia colaborativa e biocêntrica.

Desinvestimento em mineração: Um apelo à coerência ética na economia

A delegação de jovens economistas e educadores sociais também apela às igrejas, congregações e dioceses para que revejam seus códigos de investimento ético. "Os investimentos financeiros não são neutros do ponto de vista ético. Além da expectativa de retornos puramente financeiros, os investimentos sempre afetam direta ou indiretamente os indivíduos, a sociedade e a Criação como um todo", o texto lembra, citando a Doutrina Social da Igreja (DSI), a responsabilidade do equilíbrio social, da viabilidade ecológica e dos retornos econômicos. Portanto, o grupo convida as entidades eclesiásticas a aderir à Campanha de Desinvestimento em Mineração como uma ferramenta para combater as violações dos direitos humanos e da natureza perpetradas pelas empresas extrativistas. "A escolha de investir em um lugar em vez de outro, em um setor produtivo em vez de outro, é sempre uma escolha moral e cultural". (DSI 358), o documento lembra ao apelar para o distanciamento das empresas de mineração dos investimentos católicos.

A Campanha de Desinvestimento em Mineração se compromete, juntamente com seus proponentes, a seguir as abordagens feitas pelo Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, que passa a criticar o neoliberalismo como um sistema que propõe como "saída" o que está na gênese da violência que ameaça o tecido social. "A economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno". (EG 204) O Sumo Pontífice propõe a construção de uma "política econômica ativa destinada a promover uma economia que favoreça a diversidade produtiva e a criatividade empreendedora". (FT 168) É fundamental entender que "o mercado sozinho não resolve tudo, mesmo que mais uma vez nos fizessem acreditar neste dogma neoliberal da fé", como nos lembra o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti. O neoliberalismo é "um modo de pensar pobre e repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas diante de qualquer desafio". (cf. FT 168)

A delegação, que estará em Roma de 17 a 21, depois em Assis, se encontrará com representantes da Caritas Internationalis, da Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) Roma, da União Internacional de Superiores Gerais (UISG e USG) e da Pontifícia Comissão para a América Latina.

 

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19 setembro 2022, 15:39