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Padre Duran: “Presbíteros gratificados ou gratos?

É belíssima a atitude de muitas pessoas que por estes dias celebram o dia do padre é um sinal de que somos queridos e amados pelos outros; só que depende muito de cada um de nós o jeito de festejar e celebrar. Queremos ser gratificados ou gratos?

Padre José Rafael Solano Duran – Arquidiocese de Londrina (PR)

Vittorino Andreoli um dos maiores psiquiatras de fama internacional escreveu em 2010 uma obra que deu muito trabalho e exigiu uma leitura crítica e acurada por parte não só dos leitores como também de muitos membros dos diversos presbitérios do mundo inteiro. O título da obra: Padres “Uma viagem entre os homens do Sagrado”.  

Na sua fascinante e coloquial forma de escrever; Andreoli afirmou: “no presbítero se corre o risco de haver um acúmulo de frustrações muita gratificação e pouca o quase nada de gratidão” Página 97. Ed. Italiana PIEMME.

Podemos ser pessoas resistentes a todo tipo de frustrações e assim termos chegado a um momento no qual cada um de nós tornou-se imune a qualquer tipo de gratidão; esperando só gratificação. 

Somos constantemente confrontados com o termo “gratidão”, mas na hora de sermos gratificados como que não concebemos a possibilidade de celebrar com alegria aquilo que nos é dado. Talvez resistentes ao amor que gera única e exclusivamente gratidão. Quem nos ama de verdade só merece a nossa gratidão. 

Viajar no meio de homens ingratos é muito mais frequente do que podemos imaginar. No clero a ingratidão permeia relações constantes e aquilo que é pior muitas as vezes a ingratidão constitui o pão nosso de cada dia. “Se eu agradecer ele vai se envaidecer”. É assim como muitos bispos e presbíteros vivemos nosso ministério. Não é mera falta de reconhecimento é total ausência de gratidão. 

Nossos relacionamentos inter-pessoais muitas as vezes se pautam por simples atitudes de distanciamento e rudeza que não geram outra reação a não ser agressão. 

É belíssima a atitude de muitas pessoas que por estes dias celebram o dia do padre é um sinal de que somos queridos e amados pelos outros; só que depende muito de cada um de nós o jeito de festejar e celebrar. Queremos ser gratificados ou gratos? 

Há um desenho no Instagram que me está deixando profundamente incomodado um padre que sempre reage agressivamente diante das perguntas, questões e até brincadeiras que o povo faz.

Por exemplo quando as pessoas não vêm o padre ou o bispo depois de uma semana se perguntam cadê o padre? Onde ele está? É o mais normal. Falamos que eles são nossa família. Em qualquer família os membros sabem o mínimo um dos outros. 

Não me sinto ofendido quando os meus fiéis perguntam por mim. Me ofende de mim mesmo que eu não seja o suficientemente adulto e não tenha a liberdade para dizer estou saindo de férias, vou na casa da minha família, vou sair uns dias fora etc. Uma coisa é ser padre e bispo de aeroporto como dizia o Papa Francisco e outra é passar pelo aeroporto quando preciso tomar um avião. 

A simonia mental só traz angústia. Qual será a maneira a través da qual serei gratificado. O quanto vou receber, quanto vão me pagar, qual vai ser a recompensa. Tenho certeza de que a imensa maioria de nós vivemos muito bem. Temos as vezes muito mais do que qualquer pessoa e mesmo assim somos ingratos. 

Temos uma tendência muito forte a sermos reconhecidos. A receber todo tipo de gratificação ao longo do nosso caminho. Acolhidas, despedidas, ordenações, aniversários, e assim por diante e o dia em que tal vez isso não acontecer poderemos iniciar um processo desencantador transformando nosso ministério num espaço comercial de mera retribuição. 

Podemos nos perguntar onde vai parar o dinheiro que recebemos por causa das curtidas que nos são dadas aos milhares quando criamos nossos próprios canais, o dinheiro que recebemos por causa dos nossos serviços litúrgicos, religiosos, teológicos, filosóficos ou até de assessorias e aconselhamentos que realizamos. 

Com tristeza houve quem sendo presbítero chegasse a pedir o auxílio emergencial durante o tempo da pandemia.

A simonia mental e econômica nos torna cada vez mais ingratos e precisamente por esta razão afirmou  Cozzens: “o próximo grande escândalo do clero serão as suas contas bancárias”. 

Esperar gratificação não constituiu mateira de pecado ou de vergonha. O trabalhador merece ser gratificado o salário para nós é um gesto de justiça e dignidade; só que viver o ministério por causa de uma gratificação nos empobrece ao extremo de nós fazer seres exilados e apáticos. Mesmo que um dia não tivéssemos mais como receber nossa previdência ou nosso salário; mesmo que num futuro não distante a situação econômica nos levasse a viver com o mínimo necessário teremos a alegria de ser gratos por Ele nos ter chamado a viver como as aves e os lírios do campo. Sendo plenamente gratos. 

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18 outubro 2022, 09:34