França, onze bispos sob investigação por casos de abuso
Salvatore Cernuzio – Vatican News
Há também um cardeal entre os bispos franceses, alguns eméritos, que estão ou estiveram "envolvidos" em casos de violência sexual no passado. Embora as polêmicas sobre o caso Santier ainda sejam fortes na França, caso recente que emergiu do bispo emérito de Créteil sancionado em 2021 pelas autoridades do Vaticano por "abuso espiritual que resultou em voyeurismo em dois homens adultos" nos anos 90, o presidente da Conferência Episcopal Francesa (CEF), dom Éric de Moulins-Beaufort, anunciou na segunda-feira (07/11), que há bispos "envolvidos com a justiça de nosso país ou a justiça canônica".
O anúncio do presidente dos bispos
Moulins-Beaufort divulgou a notícia numa coletiva de imprensa em Lourdes, onde 120 bispos franceses estão reunidos, desde 3 de novembro, para a assembleia plenária. Assembleia que, como disse o próprio presidente da CEF na abertura dos trabalhos, tinha ficado "abalada" em seu programa por causa do caso Santier. Seis são os bispos "questionados" pela justiça civil e canônica, explicou dom Moulins-Beaufort, sem revelar os nomes, pois as investigações ainda estão em andamento. A estes seis se acrescentam o já mencionado Bispo Santier e o cardeal Jean-Pierre Ricard, ex-presidente da Conferência Episcopal Francesa de 2001 a 2007.
Um total de oito bispos
“Outros dois que não estão mais no cargo - acrescentou o presidente da CEF - estão atualmente sendo investigados pela justiça de nosso país após a denúncia de um bispo e um procedimento canônico; um terceiro foi denunciado ao Ministério Público, ao qual até agora não foi dada resposta, e recebeu da Santa Sé medidas para limitar seu ministério”. Assim, chegamos ao número de onze.
Cardeal Ricard
Entre os onze prelados, há também o nome do cardeal Jean-Pierre Ricard, bispo emérito de Bordeaux, que admitiu uma conduta "errada" em relação a uma garota de 14 anos, trinta e cinco anos atrás, quando era pároco. A história emergiu a pedido do próprio cardeal que, num comunicado de imprensa, explicou os motivos de sua confissão: "Hoje, quando a Igreja na França quis ouvir as vítimas e agir na verdade, decidi não esconder minha situação e colocar-me à disposição da justiça tanto no nível da sociedade quanto no da Igreja. Essa abordagem é difícil. Mas primeiro há o sofrimento vivido pelas vítimas e o reconhecimento dos atos cometidos, sem querer esconder minha responsabilidade”.
Ricard no comunicado de imprensa denunciou seu comportamento em relação à menor, afirmando que isso "causou necessariamente consequências graves e duradouras a essa pessoa". Ele disse que pediu perdão a ela e quer renovar o pedido de desculpas a ela e "toda sua família". “Foi por esses atos que eu decidi pegar um tempo de retiro e oração”, escreveu o cardeal. "Peço desculpas àqueles que magoei e que viverão esta notícia como uma verdadeira provação".
As palavras do Papa
Nos últimos dias, o Papa Francisco enviou uma carta ao episcopado transalpino, assinada pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, na qual pedia "com os olhos fixos na cruz de Cristo", para não desanimar diante dessas provações e garantir uma proximidade absoluta às vítimas de abuso, bem como aos que estão abalados e revoltados com os escândalos. Sobre o tema dos abusos, o Papa voltou a falar durante a entrevista no avião com os jornalistas no retorno de sua viagem ao Bahrein. Respondendo a um jornalista francês, o Pontífice assegurou que dentro da Igreja estamos "trabalhando com tudo o que podemos" para combater este drama, mesmo que "existem pessoas dentro da Igreja que ainda não veem claramente, não partilham...". “Existe a tentação de fazer acordos”, disse Francisco, “mas a vontade da Igreja é de esclarecer tudo” e “ir adiante”, com a “graça” da vergonha.
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