Brasileiros vão à missa do Papa no Bahrein: dia histórico para a família
Andressa Collet - Vatican News
"Depois da Primeira Comunhão nós fomos num lugar onde podia comer doces e tinha meus amigos lá. E o meu amigo muçulmano me deu um presente e era este aqui".
Um crucifixo. O pequeno Sebastian, de 10 anos, mostrou ao jornalista de TV, Marcio Campos, o crucifixo que levava no peito durante a entrevista, presente do seu amigo muçulmano Cesare pela Primeira Eucaristia feita neste ano, na Catedral de Nossa Senhora da Arábia na cidade de Awali, no Reino do Bahrein - uma das principais igrejas católicas da Península Arábica. O jornalista está fazendo a segunda cobertura presencial de uma viagem do Papa e foi quem encontrou a família com origens brasileiras para ilustrar a realidade da minoria cristã no país, de 15% da população e formada por estrangeiros que residem no Bahrein por motivos de trabalho. Os católicos são cerca de 161 mil.
"Eu estou contando agora com muita tranquilidade, mas na hora isso me emocionou de tal maneira porque é o simbolismo do que está sendo pregado nesta viagem: a união e a paz entre religiões, entre pensamentos e crenças diferentes. Pra mim não tem simbolismo maior do que esse do que a história desse garoto: que fez a Primeira Comunhão, que tem um amigo muçulmano que não pratica o catolicismo e é de outra religião, e deu pra ele de presente um crucifixo. Então, imagina o quanto é preciosa essa atitude, não só do garoto, mas da família dele de não só permitir que ele conviva com um católico, mas que inclusive ele presenteie esse católico com um crucifixo. Isso tocou demais no meu coração! Uma história que também impressionou e emocionou uma assessora do governo que está acompanhando a gente que fala muito da liberdade religiosa no Bahrein."
A expectativa pelo dia histórico
Sebastian, de 10 anos, e Sophia, de 4, são filhos da brasileira Aline Mathis e do alemão Stephan Mathis. A família católica vive há 12 anos no Bahrein, frequenta a igreja local e vai na missa toda a sexta-feira - ministrada em inglês, porque todos acabam sendo poliglotas também na hora de rezar a Deus: "antes de dormir, minha mãe vem comigo e a gente reza na minha cama ou às vezes com o meu pai em alemão", contou Sebastian.
A mãe, que é guia turística, contou da felicidade de poder expressar essa liberdade religiosa dentro e fora de casa, confirmada pelo marido Stephan Mathis, diretor financeiro:
"O Bahrein é um país muito livre. E nós temos todas as religiões aqui; todo mundo pode praticar a religião: sendo católico, hinduísta, muçulmano. Eles querem mostrar que todas as religiões podem viver e conviver juntas. Diferente de quando a gente morava na Arábia Saudita e não podíamos praticar toda semana, como aqui no Bahrein."
A expectativa agora é pela missa pela paz e pela justiça deste sábado (5), com o Papa francisco, no Estádio Nacional de Bahrein, que pode receber cerca de 30 mil pessoas. Aline contou que, apesar de muita restrição pra conseguir as entradas, acabaram tendo facilidade pela participação do filho na comunidade católica do Bahrein. Todos os esforços estão sendo feitos para um dia que a família considera histórico, disse a brasileira, inclusive tendo que estar lá às 4 da madrugada para acompanhar a missa que começa às 8h30, horário local:
"Já estamos no Bahrein há muitos anos e nem imaginava que um dia poderia assistir a uma missa com o Papa Francisco. Estamos numa emoção muito grande! É uma alegria: contamos os dias, planejando como vai ser, porque teremos que ir muito cedo, mas tudo a gente supera para viver este momento que será histórico na nossa família."
Mais uma ponte construída pelo Papa
Um sentimento que brota da família com origens brasileiras e alemãs, em pleno Reino do Bahrein, ansiosa em ouvir um Papa argentino que recordou nesta sexta-feira (4), no encerramento do Fórum "Oriente e Ocidente em prol da Coexistência Humana", que todos "somos uma família: não ilhas, mas um único grande arquipélago". Mais uma tentativa de promover a paz entre os povos, confirmou o jornalista brasileiro, também autor do livro Beata Nhá Chica, o milagre da “santa” brasileira, que está vivendo em primeira pessoa esse contexto no Bahrein:
"Como o Papa não faz parte do mundo muçulmano, eles precisam explicar quem é o Papa e isso ficou claro pra mim quando eu vi os jornais hoje e um deles traz a biografia do Papa, mostrando foto dele de quando é criança e passando pelas fases do sacerdócio e de como ele chegou a ser Papa. É um mundo desconhecido pra quem é daqui e que está conhecendo agora por causa de uma ponte, como sempre prega o Papa Francisco. Então, essa ponte está sendo feita e graças a essa ponte do Rei com o Papa Francisco e o Vaticano as pessoas estão tendo a oportunidade de conhecer o líder da Igreja católica. É mais uma conquista do Papa na tentativa de trazer harmonia, alegria, paz entre os povos e as diversas crenças."
Colaboração: Marcio Campos, Dario Costenaro e Phillipe Lucas
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