Sínodo: nova fase continua em escuta, encontro, diálogo e discernimento
Rui Saraiva – Portugal
Foi publicado na quinta-feira 27 de outubro o documento de trabalho para a nova fase do Sínodo. O caminho sinodal inaugurado pelo Papa Francisco em outubro de 2021 colocou em movimento a Igreja para um profundo processo de discernimento coletivo, promovendo a participação, o encontro, a escuta e o diálogo.
Neste documento, a Secretaria Geral do Sínodo recolhe o contributo de 112 conferências episcopais, de 15 Igrejas Orientais Católicas, de 17 dicastérios da Cúria Romana e também de tantos movimentos, associações, pessoas singulares e grupos. As sínteses sinodais enviadas permitiram fazer uma leitura do caminho realizado e das reflexões produzidas.
O texto agora apresentado dá “uma ideia da riqueza dos materiais recebidos, permitindo fazer ecoar a voz do Povo de Deus de todas as partes do mundo” sublinhando “a riqueza da experiência que as diversas Igrejas realizaram, pondo-se a caminho e abrindo-se à diversidade das vozes que tomaram a palavra”.
“O sentido do caminho sinodal é permitir este encontro e este diálogo, cuja finalidade não é produzir documentos, mas abrir horizontes de esperança para o cumprimento da missão da Igreja”, refere o texto.
Mais espaço na tenda
A Igreja em processo sinodal está a colocar em caminho milhões de pessoas em todo o mundo que se sentem “implicadas nas atividades do Sínodo”, refere o documento da Secretaria Geral do Sínodo.
“Umas participando em encontros a nível local, outras colaborando na animação”, este processo está a recolher os contributos dos que se aproximam.
Para esta nova fase do Sínodo é assumida como inspiração uma frase do profeta Isaías que leva a pensar “a Igreja como uma tenda”. “A tenda da reunião, que acompanhava o povo durante o caminho no deserto”, lê-se no documento.
A frase é: “Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is 42,2).
Nesta nova fase é lançado o desafio de ser alargado o espaço da tenda, ou seja, do caminho da Igreja, abrindo-a ao acolhimento dos outros. “Alargar a tenda exige acolher outros no seu interior, dando espaço à sua diversidade”, aponta o texto agora publicado.
Trata-se de uma proposta que sublinha “a visão de uma Igreja capaz de uma inclusão radical, de pertença mútua e de profunda hospitalidade segundo os ensinamentos de Jesus”. Uma visão que “está no centro do processo sinodal”.
“Esta tenda é um espaço de comunhão, um lugar de participação e uma base para a missão”, refere o texto.
Nesta grande tenda alargada cabem, desde logo, as sínteses sinodais enviadas na primeira fase e que são expressão da escuta do povo de Deus iniciada em 2021 nas dioceses de todo o mundo.
Na escuta do povo de Deus
O documento agora publicado assinala que os participantes no processo sinodal pedem mais transparência na vida da Igreja. Um pedido que revela o impacto negativo do escândalo dos abusos.
As sínteses revelam que ainda “permanecem obstáculos estruturais, entre os quais: estruturas hierárquicas que favorecem tendências autocráticas; uma cultura clerical individualista que isola as pessoas e fragmenta as relações entre sacerdotes e leigos”.
O documento de trabalho para a fase continental do Sínodo apela a uma opção pelos jovens, à defesa da vida e a “estruturas e modalidades de acompanhamento apropriadas às pessoas com deficiência”, bem como solicitam “novos modos para acolher o seu contributo e promover a sua participação”.
Também está presente neste texto agora publicado um apelo à inclusão dos “exilados da Igreja”, como por exemplo “muitas mulheres e jovens que não sentem reconhecidos os próprios dons e as suas capacidades”. Neste âmbito, são também referidas as pessoas divorciadas recasadas, as famílias monoparentais e as pessoas LGBTQ.
Especial destaque neste documento para o tema da participação das mulheres. “De todos os continentes chega um apelo a fim de que as mulheres católicas sejam valorizadas acima de tudo como batizadas e membros do Povo de Deus com igual dignidade”, assinala o texto do Sínodo.
O novo documento prepara a fase continental de 2022/2023 sendo enviado às dioceses para reflexão e análise. É proposto um caminho de diálogo para discernir questões, prioridades e apelos à ação.
Cada conferência episcopal recolherá os contributos das dioceses e formulará uma síntese que será depois partilhada na Assembleia Continental. Estas decorrem nos meses de janeiro a março de 2023. Em outubro, em Roma, será a primeira sessão do Sínodo.
Laudetur Iesus Christus
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui