Schevchuk: não tenhamos vergonha das feridas que carregamos

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é segunda-feira, 7 de novembro de 2022, e o povo ucraniano trava uma batalha desigual contra o agressor russo há 257 dias. São 257 dias de luta, sangue, lágrimas, mas também de vitórias e sucessos, força e coragem e de grande heroísmo. São 257 dias da grande guerra.

Mais uma vez, no último dia, a terra ucraniana tremeu sob mísseis e bombas russos. Novamente, como soubemos esta manhã, são travados pesados combates ​​em toda a linha de frente. O inimigo não poupa e até humilha seus próprios soldados. Ontem o inimigo deu um duro golpe em nossa região de Sumy. E durante a noite houve um  ataque de mísseis contra os moradores do distrito de Nikopol, localizado na região de Dnipropetrovsk. Da mesma forma, nossa capital, Kyiv, e sua região estão sofrendo. Todos nós fomos avisados ​​hoje sobre a possibilidade de falta de energia de emergência. Hoje devemos lembrar todos aqueles que sofrem com a guerra, especialmente nos lugares mais difíceis da nossa Ucrânia!

Mas hoje também podemos dizer que a Ucrânia está resistindo! A Ucrânia luta! A Ucrânia reza! E todos nós, onde quer que estejamos, com oração, trabalho e sacrifício pessoal, devemos aproximar este dia de paz, o dia da vitória da Ucrânia sobre o inimigo. O dia em que nossa liberdade, nossa dignidade brilhará no mundo inteiro.

Hoje quero continuar com vocês as reflexões sobre como podemos curar as feridas do povo ucraniano com esforços conjuntos em nosso país, e também fora de suas fronteiras, as feridas trazidas e infligidas por esta terrível guerra. Ontem falamos sobre o fato de que, para combater com sucesso qualquer doença ou curar qualquer ferida, é preciso primeiro entender a causa e depois eliminá-la. Porque se eliminarmos apenas as consequências e a causa permanecer, a doença será incurável. E derrotar a doença é derrotar sua causa.

Hoje quero continuar refletindo com vocês sobre como curar adequadamente nossas doenças e feridas, para que cada pessoa ferida possa colaborar construtiva e positivamente com aquele que está pronto para curar nossas feridas. Como colaborar de maneira correta com Deus curador e com o médico, com o médico que o Senhor Deus nos envia.

Existem três princípios muito importantes para uma pessoa doente ou ferida se curar. A primeira coisa é não se envergonhar de sua lesão e de sua doença. Em segundo lugar, é muito importante perceber o que aconteceu. Perceber o que você está acontecendo. Perceber o que realmente está acontecendo em seu corpo, em sua alma, com sua vida espiritual, e então não ter vergonha de pedir ajuda, porque geralmente uma pessoa doente não pode se curar. Sabemos como a automedicação pode ser a causa da deterioração do estado de uma pessoa, ou mesmo da sua morte. Então, não tenhamos vergonha das feridas que carregamos.

Para muitos afetados pela guerra, é necessário apoio psicológico e espiritual para lidar com problemas internos e retornar da guerra para uma vida pacífica. Principalmente depois da nossa vitória. Portanto, é necessário perceber, às vezes, que quase todos nós estamos feridos, de uma forma ou de outra. Mesmo alguém que ouviu as explosões e os sons desta guerra pelo menos uma vez, precisa de ajuda para superar suas ansiedades, medos, medos e às vezes pesadelos ou insônia. Mas nossa consciência de precisar de ajuda não deveria nos envergonhar.

A guerra, infelizmente, traz problemas que lhe são inerentes. Desperta aquela dor indescritível pelas perdas que vivenciamos, aquele medo profundo pela vida e pelo futuro. Mas a mão de nosso Senhor-curador nos toca, nos cura e a arte de um hábil psicólogo ou médico nos ajuda.

Cada trabalhador de saúde, e sobretudo cada capelão de saúde, e também cada clérigo deve aprofundar seus conhecimentos e habilidades para fornecer ajuda espiritual e psicológica a quem precisa. Portanto, todos temos que aprender. Não devemos ter vergonha de dizer a nós mesmos quando não sabemos alguma coisa. Porque às vezes na medicina existem circunstâncias que não eram conhecidas até agora e não sabemos como nos comportar corretamente. Às vezes, experimentamos circunstâncias semelhantes em nossa vida espiritual. Então todos nós precisamos aprender. Aprenda a se tornar mais sábio e mais forte. Devemos trabalhar em nós mesmos, e então o Senhor nos dará a sabedoria, a força e, portanto, a graça do Espírito Santo, essa verdadeira força única que restitui à pessoa a integridade do ser humano e a harmonia da alma, do espírito e do corpo.

A força que permite a nós ucranianos resistir e vencer hoje é o amor. Em particular, o amor pela pátria. Recordemos as palavras do justo Metropolita Andrey sobre o amor à Pátria, que, na minha opinião, nos ajudará a curar muitas de nossas feridas nacionais hoje. O Metropolita nos diz o seguinte: "Depois do amor a Deus e à família, deve haver amor ao povo ucraniano e à pátria. Vocês estão ligados ao seu povo e à pátria não apenas por uma fé comum, que consideramos o bem maior e um rito sagrado que amamos, mas também por uma língua e costumes comuns. Estamos ligados pela terra santa em que vivemos. Estamos ligados a todo um passado secular e ao sangue ucraniano comum, ao bem comum , bem como ao nosso próprio futuro comum. Estamos ligados por desejos e necessidades comuns, paciência e pobreza comuns”.

Que este amor por Deus, pela própria família e pela própria pátria, amor que vem sempre daquele que é amor, nosso Senhor, nos ajude a sobreviver a tudo, a alcançar a vitória, e seja o remédio para as feridas da Ucrânia.

Deus, abençoe o povo ucraniano! Abençoe nosso governo e nosso exército! Deus, toca as feridas do teu povo ferido, cura-nos, dá-nos a vitória sobre o mal, abençoa a nossa terra com a tua paz celestial e justa!

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade,  agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+

Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
07.11.2022