Acadêmicos chineses redescobrem a atualidade do primeiro Delegado Apostólico na China
Cem anos após a chegada em Pequim como primeiro Delegado Apostólico na China, a atualidade do cardeal Celso Costantini está sendo redescoberta e valorizada, também pelo mundo acadêmico chinês.
Na última sexta-feira, 23 de dezembro, foi promovido um Seminário sobre o purpurado pelo Departamento de História da Universidade Normal da China Oriental (East China Normal University, ECNU), fundada em 1951 em Xangai.
O Seminário, que pôde ser acompanhado pela plataforma Voov Meeting e foi organizado pelo Centro Multimídia do Departamento Universitário, teve como momento relevante um colóquio acadêmico entre o Dr. Xie Sijie, docente do Departamento de História da Universidade Sun Yat-sen, e o Dr. Liu Guopeng, Pesquisador do Instituto de Estudos das Religiões Mundiais da Academia Chinesa de Ciências Sociais, o mais importante da China, dedicado ao estudo das religiões. Dr. Liu Guopeng também é vice-diretor do Centro de Estudos Cristãos da Academia Chinesa de Ciências Sociais e autor de um volume, recentemente publicado, sobre o tema do Seminário, que aprofundou a figura do Cardeal Celso Costantini.
O colóquio entre os dois estudiosos, moderado pelo Prof. Zhang Yue, acadêmico da Universidade chinesa, versou sobre os acontecimentos daquele importante período da história chinesa, de modo particular, sobre o papel profético desempenhado pelo primeiro Delegado Apostólico, cardeal Celso Costantini. O prelado favoreceu o florescimento de uma Igreja na China, que pudesse desempenhar sua missão apostólica, sem ser influenciada pelos poderes externos.
O então bispo de Hierápolis, na Frígia (1876-1958), foi enviado à China pelo Papa Pio XI como primeiro Delegado Apostólico, chegando a Pequim em 29 de dezembro de 1922. Sua missão foi mantida em segredo por temor da boicote das potências europeias.
“Diante especialmente dos chineses - escreverá mais tarde o cardeal em suas memórias, recordando sua chegada a Pequim - achei oportuno não acreditar de forma alguma na suspeita de que a religião católica apareça como que colocada sob tutela e, pior ainda, como instrumento político a serviço das nações europeias. Desde os meus primeiros atos, quis reivindicar minha liberdade de ação no campo dos interesses religiosos, recusando-me a ser acompanhado às autoridades civis locais por representantes de nações estrangeiras. Eu teria fingido estar na China subordinado a esses representantes".
Cem anos após a chegada do cardeal Celso Costantini à China, no vídeo realizado Teresa Tseng Kuang a pedido da Agência Fides, padre Bruno Fabio Pighin, docente da Faculdade de Direito Canônico de São Pio X, em Veneza, e Delegado Episcopal para a Causa de Beatificação do cardeal Celso Costantini, delineia o papel profético assumido pela figura do primeiro Delegado Apostólico na China, nos acontecimentos do catolicismo no país.
Nos anos que passou na China como Delegado Apostólico (1922 a 1933), o cardeal Costantini conseguiu organizar o primeiro Concílio nacional da Igreja Católica na China, em Xangai, em 1924, e dar início ao processo de "descolonização" eclesial, combatendo os obstinados resquícios do Protetorado e todas as formas que continuavam a impor traços europeus à presença católica no Extremo Oriente, acabando por apresentá-la como correlato religioso da expansão ocidental naquelas terras. Graças também ao empenho de Costantini, em 28 de outubro de 1926, os primeiros 6 bispos chineses ordenados na era moderna foram consagrados pelo Papa Pio XI na Basílica de São Pedro no Vaticano.
Em 1935, o cardeal Celso Costantini retornou à Itália onde, como arcebispo, tornou-se secretário da Congregação de Propaganda Fide, cargo que ocupou até 1953, quando foi criado cardeal por Pio XII.
O Departamento de História da Universidade Normal da China Oriental (ECNU), onde ocorreu o importante ato acadêmico sobre a figura do cardeal Celso Costantini, colabora com prestigiosas Universidades e Institutos de Pesquisa, nacionais e internacionais, entre as quais as de Florença, Harvard e Cambridge.
*por Marta Zhao / Agência Fides
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