Da comunidade ucraniana de Santa Sofia em Roma um novo apelo à solidariedade
Svitlana Dukhovych – Vatican News
Após quase dez meses do início da terrível guerra na Ucrânia, as ajudas humanitárias enviadas pela comunidade internacional ainda são a única fonte de sobrevivência para a população ucraniana. Agora, com as baixas temperaturas do inverno e as infraestruturas atacadas constantemente pelos bombardeios russos, os pedidos de ajuda e de solidariedade se tornam mais urgentes.
Expedição de ajudas com caminhões
Em Roma, o centro de coleta de ajudas passou a ser, desde o primeiro dia de invasão, a Basílica de Santa Sofia, de onde saem caminhões lotados de doações pela generosidade de tantas pessoas. Civis ucranianos pedem ajuda, através dos sacerdotes das diversas cidades recentemente libertadas pelas forças ucranianas, sobretudo de cobertores, mantimentos, alimentos para bebês e crianças, roupas, remédios. Mas, as necessidades também são de muitas outras coisas: janelas, portas, geradores, bancos de energia.
“Rezemos pelo fim da guerra”
As necessidades e exigências aumentam cada vez mais na Ucrânia. Por isso, o reitor da Basílica romana de Santa Sofia, padre Marco Semehen, volta a lançar um apelo à solidariedade com o povo ucraniano: "Uma pequena contribuição apenas pode acender a luz da esperança. Muitas pessoas têm grandes corações! Por isso, ao aproximar-nos do Natal, estamos aqui, mais uma vez, batendo às portas desses grandes corações, para pedir ajuda, mas, sobretudo, orações pelo fim da guerra”.
Padre Marco, desde o início da guerra, a comunidade ucraniana de Roma comprometeu-se em ajudar as vítimas na Ucrânia. Após quase dez meses de conflito, o que o leva a fazer um novo apelo?
Antes de tudo, um dos principais motivos são os pedidos de ajuda, provenientes da Ucrânia. No início do conflito, a solidariedade com o povo ucraniano foi extraordinária. Durante o verão, diminuiu, mas, desde o início de novembro, continuamos a receber vários pedidos dos nossos conterrâneos, Bispos e pessoas conhecidas da Ucrânia. Segundo informações, a situação econômica decaiu muito. Depois, vimos que bombardeios de usinas paralisaram, praticamente, muitas áreas como também a vida do povo ucraniano. Daí, nasceu a ideia de lançar, novamente, um apelo por aquele povo, a fim de ajudá-lo a sobreviver, sobretudo durante este inverno rigoroso.
Quais são as maiores necessidades dos que vivem em áreas, recentemente, liberadas da ocupação, onde muitos ficaram sem-teto?
As pessoas precisam de ajudas básicas, pois agora, segundo os sacerdotes locais, estão voltando às suas cidades libertadas. Sabemos que os soldados russos, em alguns casos, roubaram quase tudo das casas e até a destruí-las. Por isso, continuam a chegar-nos pedidos até bastante simples: cobertores, ajuda para comprar uma janela ou porta de casa, fogão, alimentos enlatados, kits de higiene, diante da falta de água para se lavar. Precisam de tudo para enfrentar o inverno rigoroso e sobreviver, pelo menos até que os sistemas de eletricidade e água sejam restabelecidos.
Quantas ajudas foram enviadas da Itália ao povo ucraniano? O senhor conseguiria fazer um rastreamento dessas doações e para onde foram?
Desde o início, a comunidade romana de Santa Sofia enviou 64 caminhões, cada um com 20 toneladas de doações. Pudemos rastrear a rota dos camiões, mas nem sempre foram feitas fotos, por questão de segurança. Porém, mantivemos os relatórios do envio de ajudas. O primeiro caminhão, que saiu daqui, após o verão, levou doações básicas para Kyiv, onde foram colocadas à disposição do Arcebispo-mor, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk; outro caminhão, lotado de roupas de frio, foi enviado para a Fundação "Mudra Sprava" ("Obra Sapiente"); outros ainda foram enviados para Kharkiv, de onde recebemos fotos, tanto da chegada como da entrega ao Bispo e funcionários do Exarcado. Agora, estamos para enviar uma carga de doações para Zaporizhzhia e para as pessoas nos territórios libertados. Quanto aos doadores, naturalmente, são privados, que trazem o que podem. Por outro lado, o Santo Padre também expressa sempre sua solidariedade, através de seu esmoler, Cardeal Konrad Krajewski, que vem, continuamente, com um micro-ônibus lotados de ajudas básicas, que, depois, enviamos à Ucrânia. Outras doações são oferecidas também pela Cruz Vermelha, Banco Alimentar, Banco Farmacêutico e por várias empresas, que contribuem para a nossa missão humanitária.
Qual a mensagem que o senhor poderia enviar, por ocasião do Natal, àquelas pessoas na Ucrânia que estão sem luz e aquecimento?
O Natal é sempre uma festa em família, que comemoramos em nossas casas. Imaginemos os numerosos que vivem em suas casas, sem aquecimento, ou que não têm um teto para se abrigar. No entanto, sabemos que também Jesus nasceu em uma gruta fria e escura, porém Ele trouxe paz à humanidade. Por isso, por ocasião do Natal, esperemos que a Europa renove a sua fé em Cristo e, ao mesmo tempo, ajude os ucranianos com gestos concretos, doações, obras de caridade. Somente assim, a luz da esperança poderá iluminar as pessoas, que são bombardeadas, que perderam seus familiares e estão desesperadas. Mas, elas não estão sozinhas, porque Deus, através do homem, sempre coloca a sua mão sobre aqueles que nele confiam.
Desde os primeiros meses da guerra, até hoje, vimos tantas ajudas humanitárias chegar ao pátio da Basílica de Santa Sofia em Roma. O senhor esperava esta grande solidariedade por parte da sociedade italiana?
Não esperávamos esta grande solidariedade! Estamos maravilhados, mas também muito gratos a todos os italianos, desde os cidadãos comuns às grandes empresas, que trouxeram suas ofertas e doações para apoiar a nossa missão, não só aqui em Roma, mas também nas várias comunidades da Igreja Greco-Católica Ucraniana na Itália. No início, foi feito um grande esforço para ajudar, de modo particular, os deslocados na Ucrânia e os refugiados que vieram à Itália, que também prestam ajuda às pessoas nos territórios libertados.
O senhor se lembra de algum exemplo prático de ajuda que mais o impressionou?
O de um empresário, que trouxe artigos de higiene num total de 23 mil euros. Foi uma doação muito importante. Lembro-me também de um caso comovente: uma pessoa, com deficiência física, veio, com sua cadeira de rodas elétrica, trazer dois pacotes de macarrão e um de farinha. E ele me disse: “Padre, posso oferecer só isso aos seus conterrâneos que estão sofrendo”. Então entendi que muitos italianos têm um grande coração. No entanto, em vista do próximo Natal, viemos, novamente, bater às portas de seus corações, pedindo ajuda, mas, sobretudo, orações para que a guerra acabe logo.
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