A comunicação da esperança
Rui Saraiva – Portugal
Em 2023 serão temas críticos a guerra na Ucrânia, a crise económica pós-pandemia e as alterações climáticas. Desafios que necessitam de respostas concretas. O novo ano que nos acolhe precisa da comunicação da esperança.
Juntos para a paz e o bem comum
No título da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, celebrado a 1 de janeiro, descobrimos a atitude que deverá marcar o percurso deste ano de 2023: “Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz”. O Papa pede-nos para vivermos “juntos” o futuro, convocando-nos para uma atitude que nos leve a “repensar-nos à luz do bem comum”.
“Não podemos continuar a pensar apenas em salvaguardar o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas devemos repensar-nos à luz do bem comum, com um sentido comunitário, como um «nós» aberto à fraternidade universal. Não podemos ter em vista apenas a proteção de nós próprios, mas é hora de nos comprometermos todos em prol da cura da nossa sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e pacífico, seriamente empenhado na busca dum bem que seja verdadeiramente comum”, escreve o Santo Padre.
JMJ, levantar e partir
É precisamente para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e em paz que o Papa Francisco convoca os jovens de todo o mundo para se encontrarem na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no próximo mês de agosto. O rumo da Igreja passa por Lisboa em 2023.
“Maria levantou-se e partiu apressadamente” é a frase do Evangelho de S. Lucas que serve de lema à próxima JMJ. E os jovens estão a responder a esta proposta com entusiasmo e a mobilizarem-se para fazerem da JMJ em Lisboa um verdadeiro “ponto de partida” das suas vidas, como referiu recentemente o cardeal Tolentino Mendonça.
A JMJ “vai ser um gigante ponto de partida, que nos vai projetar em tantas dinâmicas criativas que vão inaugurar uma nova era, uma nova época, na vida da Igreja, porque a Igreja vai receber o sangue novo da juventude”, afirmou o purpurado português em entrevista a dois jovens da organização do evento.
Sínodo é processo de comunicação
Entretanto, o novo ano traz-nos mais duas etapas do Sínodo. Serão as assembleias continentais entre janeiro e março e a primeira sessão da XVI Assembleia dos Sínodo dos bispos em outubro. Momentos absolutamente inéditos de um profundo processo de discernimento coletivo, promovendo a participação, o encontro, a escuta e o diálogo. Um verdadeiro processo de comunicação.
Segundo informa o Documento para a Etapa Continental, publicado em outubro pela Secretaria Geral do Sínodo, a Igreja em processo sinodal está a colocar em caminho “milhões de pessoas em todo o mundo” que se sentem “implicadas nas atividades do Sínodo”.
Para esta nova fase do Sínodo a inspiração vem de uma frase do profeta Isaías que leva a pensar “a Igreja como uma tenda”: “Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is 42,2).
A esperança no caminho
Com este estimulante lema é lançado o desafio de alargar o caminho da Igreja ao acolhimento dos outros. “Alargar a tenda exige acolher outros no seu interior, dando espaço à sua diversidade”, aponta o texto.
Trata-se de uma proposta que sublinha “a visão de uma Igreja capaz de uma inclusão radical, de pertença mútua e de profunda hospitalidade segundo os ensinamentos de Jesus”. Uma visão que “está no centro do processo sinodal”.
“Esta tenda é um espaço de comunhão, um lugar de participação e uma base para a missão”, refere o texto para a etapa continental. Nesta grande tenda alargada cabem, desde logo, as 112 sínteses sinodais enviadas em 2022 pelas conferências episcopais do mundo, na primeira fase do Sínodo. Estas sínteses são concreta expressão da escuta do povo de Deus em processo de comunicação.
E este caminho sinodal com as duas sessões em Roma em 2023 e 2024, vai ao encontro do Jubileu de 2025 com a esperança no coração, pois o lema deste evento é “Peregrinos da Esperança”. Esta temática escolhida pelo Papa Francisco para o Jubileu de 2025 faz aumentar a importância dos processos de comunhão e participação iniciados pelo Sínodo.
Comissão para os abusos
Em Portugal o ano de 2023 terá já no seu início uma etapa importante com a publicação a 16 de fevereiro do relatório da Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais contra as crianças na Igreja Católica Portuguesa.
Em recente entrevista à Agência Ecclesia e Rádio Renascença, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, realçou o trabalho desta Comissão. “Pedimos um estudo para conhecer a realidade”, afirmou o bispo de Leiria-Fátima acrescentando a necessidade de avaliar e discernir os resultados.
Será, com certeza, este um bom momento para assumir a importância essencial da comunicação em cada uma das dioceses portuguesas, promovendo o acolhimento das vítimas e a pesquisa de informação necessária para que seja feita justiça.
Comunicar conteúdos de esperança
Para que a comunicação possa ser veículo de esperança, é muito importante que desenvolva processos de relação baseados na escuta, na partilha e no diálogo, nos quais emissor e recetor trocam de funções em modo dinâmico. Uma atitude unilateral, reativa e não planeada favorece a polémica e tem dificuldade em disponibilizar elementos informativos.
Para ser esperança, a comunicação na Igreja deve partir do coração da Palavra de Deus, fazendo discernimento e em atitude de diálogo com o mundo. Com escrutínio público e em colaboração com os órgãos de comunicação social, é mais fácil desenvolver processos de comunicação que produzam conteúdos de esperança.
Laudetur Iesus Christus
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