Ucrânia: acreditar em tempos de guerra significa sobreviver. Quem acredita em Deus, tem esperança!

"Nós, cristãos, não podemos esconder o dom de Deus que recebemos. Não podemos nos apropriar dos dons de Deus apenas para nós mesmos. Quanto mais os compartilhamos com os outros, mais presentes o Senhor Deus nos dá. Compartilhamos o segredo da sobrevivência e da resiliência com aqueles que, talvez, estejam aquebrantados hoje, quando perderam as forças, quando começaram a perder a esperança, começaram a se cansar, começaram a se perder nessas circunstâncias dramáticas."

Cristo nasceu!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é segunda-feira, 23 de janeiro de 2023 e na Ucrânia já é o 334º dia da grande guerra em vasta escala que o ocupante russo trouxe para nossa pacífica terra.

Também no dia de ontem e durante a noite, a terra da Ucrânia voltou a tremer sob as bombas e mísseis russos. Pessoas morreram. Há tanta dor e sangue. Mais uma vez foram destruídas novas cidades povoados.

As hostilidades mais intensas ocorrem na região de Donetsk e na região de Luhansk. Rezemos todos os dias pelas Forças Armadas da Ucrânia, pelas meninas e meninos que com sua coragem repelem os ataques inimigos nas cidades de Bakhmut, Soledar e Avdiyivka. Ontem, o inimigo bombardeou nossa sofrida região de Kharkiv com vários tipos de armas, incluindo artilharia. Há mortos e feridos. Durante a última noite, nossa província de Nikopol, na região de Dnipropetrovsk, foi fortemente bombardeada. O inimigo tem bombardeado os setores residenciais com vários tipos de armas, incluindo foguetes Uragan e Grad. Já sabemos que, especialmente na cidade de Nikopol, as pessoas têm medo de passar a noite em suas casas. Quem tem carro vai para o campo em pleno inverno, para a estepe, para se salvar passando a noite no carro.

 

Da mesma forma, nossa região de Zaporizhzhia sofreu. A região sofreu outro ataque maciço de foguetes que destruiu outras partes da infraestrutura crítica local. Dos territórios ocupados recebemos notícias cada vez mais perturbadoras. As tentativas dos ocupantes de mobilizar à força a população local continuam, especialmente os interessados ​​em obter a cidadania russa. A crise humanitária está se intensificando. Parece que o inimigo está fazendo de tudo para expulsar as pessoas de suas casas, para deslocar a população ucraniana dos territórios que ocupa, principalmente da margem esquerda da região de Kherson, para a região de Zaporizhzhia. A assistência médica nessas áreas é crítica. Também ontem recebemos a notícia de que os russos saquearam o principal hospital municipal da cidade de Skadovsk. Simplesmente bombardearam e levaram todos os equipamentos médicos, máquinas, dispositivos. Praticamente, esta grande cidade ficou sem qualquer possibilidade de garantir atendimento médico.

Mas apesar dessas tragédias, dessa dor, desse sofrimento, a Ucrânia está viva. Hoje agradecemos ao Senhor Deus e às Forças Armadas da Ucrânia por nos dar a vida, para que possamos continuar a viver e servir ao Senhor Deus e ao nosso querido povo.

Portanto, hoje queremos dizer ao mundo inteiro mais uma vez: a Ucrânia está resistindo. A Ucrânia luta. A Ucrânia reza.

Nós, cristãos, estamos tentando entender, aprender a viver o caminho cristão, a ser cristãos durante a guerra. Estamos vivendo liturgicamente o tempo da pós-festa da Epifania do Senhor e refletimos sobre o significado do dom do nosso batismo. Procuremos compreender que a nossa adoção divina, o sacramento do batismo e da unção é, por um lado, um dom de Deus e, por outro, é a tarefa e a vocação da nossa vida.

Tive muitas conversas com nossos voluntários nestes dias. Uma famosa voluntária disse uma frase que para mim foi a confissão da fé cristã durante a guerra. Ela afirmou que acreditar em tempos de guerra significa sobreviver. Quem acredita, acredita em Deus, tem esperança: não espera na força e na capacidade humana, mas espera no poder sobrenatural de Deus que se manifesta também na nossa impotência, na nossa fraqueza. E, portanto, acreditar em Deus significa ser capaz de sobreviver nas condições críticas da guerra.

E é por isso que nós cristãos temos uma vocação especial: partilhar a nossa fé em Deus com os outros. É uma missão especial de cada cristão: não só receber de Deus o dom da fé, o dom do batismo, o dom da esperança, mas partilhar este dom com os outros. Esta é a missão da Igreja de Cristo que hoje, durante a guerra, adquire uma importância especial e uma vocação vital.

Em seu tempo, o Papa João Paulo II disse que quando uma igreja não é missionária, não é uma igreja. Portanto, nós, cristãos, não podemos esconder o dom de Deus que recebemos. Não podemos nos apropriar dos dons de Deus apenas para nós mesmos. Quanto mais os compartilhamos com os outros, mais presentes o Senhor Deus nos dá. Compartilhamos o segredo da sobrevivência e da resiliência com aqueles que, talvez, estejam quebrados hoje, quando perderam as forças, quando começaram a perder a esperança, começaram a se cansar, começaram a se perder nessas circunstâncias dramáticas. É por isso que compartilhamos nossa fé. Nosso sacramento do batismo e da unção torna-se o trabalho de nossa vida. Se pudermos ajudar tantas pessoas sem esperança a reencontrá-la, tantas pessoas desesperadas a encontrar a fé, a fé em Deus, na sua poderosa força que nos ajuda, como cristãos assim contribuiremos para a vitória da Ucrânia.

Deus abençoe a Ucrânia. Deus abençoe nossa nação martirizada. Obrigado pelo dom da fé cristã que recebemos em nosso batismo, pelo dom da fé de nossos pais que recebemos novamente no batismo do príncipe Volodymyr, igual ao apóstolo. Permita-nos experimentar plenamente esse dom, crescer nele, vencer com ele. Deus, abençoe nosso povo martirizado e nossa pátria com sua paz celestial.

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+

Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
23.01.2023

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23 janeiro 2023, 22:03