Dom José Ornelas: "resultados do relatório da Comissão não podem ser ignorados"
Ecclesia – Lisboa
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse nesta segunda-feira (13/02) que os resultados do relatório final da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica “não podem ser ignorados”.
“Ouvimos coisas que não podemos ignorar. É uma situação dramática que vivemos, não é fácil ultrapassá-la, não nos iludíamos também sobre o que havia de ser, mas queria sobretudo deixar uma lembrança para as vítimas, que é por elas que fizemos tudo isto também”, afirmou D. José Ornelas aos jornalistas, durante o intervalo da apresentação do relatório da CI.
A CI validou 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022.
O coordenador da CI, Pedro Strecht, disse em conferência de imprensa, na Fundação Calouste Gulbenkian, que estes testemunhos, apresentados ao organismo entre janeiro e outubro do último ano, apontam a uma rede de vítimas “muito mais extensa”, calculado num “número mínimo, muito mínimo, de 4815 vítimas”.
D. José Ornelas quis afirmar que o seu “primeiro pensamento” se dirigia às “vítimas” e o “segundo para a comissão”, deixando um “grande agradecimento” pelo trabalho realizado por “pessoas competentes, pessoas apaixonadas” e que “viveram emocionalmente tudo o que fizeram”.
“Não se pode passar por isto sem essa emoção profunda e empatia mas trabalharam independentemente porque foram essas as condições desde o início”, sublinhou.
O presidente da CEP remeteu para esta tarde a resposta a mais perguntas indicando que a partir das 16h00, estará, acompanhado por membros do Conselho Permanente do episcopado – que acompanharam a apresentação do relatório final – disponível para uma conferência de imprensa a realizar na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
Já o arcebispo de Évora afirmou a atitude “de reflexão” em que o relatório coloca a Igreja.
“Temos consciência de que não foi um processo bem conduzido; que temos de pedir profundo perdão a todos; temos consciência que está tudo a começar, um caminho novo a fazer; temos consciência que foi uma boa opção de partir com realidade e conhecimento dos factos, por isto esta comissão independente. E queremos, de verdade e com todas as nossas forças, dentro da realidade que é a Igreja – que é uma parte da sociedade – fazer com que estas coisas não voltem a acontecer”, explicou D. Francisco Senra Coelho aos jornalistas.
O arcebispo de Évora manifestou-se “chocado com todos os relatos”, mas deu conta que “mais ou menos” se tinha noção dos números, sustentando que deve haver processos sobre os suspeitos que estejam ainda no ativo.
“Não é questão de admitir, tem de haver”, insistiu.
O responsável pela Arquidiocese de Évora admitiu ainda que “os vários pedidos de desculpa” que a Igreja já fez podem não ser “suficientes”.
“A dor não tem prazo para terminar, a dor não caduca”, afirmou, sublinhando a preocupação da Igreja com a dor das vítimas que, reconheceu”, “não prescreve”.
José Souto Moura, presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores reconheceu a dificuldade na investigação das denúncias.
“Parece-me evidente que a falta de elementos que permitam a investigação é muito frequente e isso impossibilita uma investigação. Se não for a vítima a reportar o facto é praticamente impossível investiga-lo”, indicou.
Fonte: Ecclesia
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