Schevchuk: hoje o futuro da humanidade está sendo forjado na Ucrânia

Cristo nasceu!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é domingo, 12 de fevereiro de 2023 e na Ucrânia já é o 354º dia da grande e sangrenta guerra.

Ainda no dia de ontem e na noite passada esta guerra produziu novas mortes. Mais uma vez a terra da Ucrânia tremeu sob os golpes de mísseis e bombas russas. Podemos dizer novamente que montanhas de cadáveres, rios de sangue, mares de lágrimas inundam a Ucrânia. O inimigo está intensificando seu ataque contra a sofrida cidade de Donbass. Muitos especialistas falam sobre o início de uma grande ofensiva, uma grande escalada no front oriental. Arde em chamas as cidades de Bakhmut, Avdiyivka, Vuhledar e Kreminna, que se tornaram símbolos da coragem e resiliência ucranianas. O famoso arco do martirizado Donbass está pegando fogo. O inimigo está bombardeando implacavelmente cidades e vilarejos pacíficos da Ucrânia. Mais uma vez, nossa brava Kharkiv viveu bombardeios noturnos, ataques noturnos de foguetes. Voltamos a ter lesões e muitos estragos. Quase 45 ataques de vários tipos de armas foram desferidos contra três cidades da nossa sofrida região de Sumy, localizada na fronteira nacional. Nossa Kherson, no sul de nossa pátria, tremeu sob os golpes russos.

Mas hoje queremos agradecer a Deus e às Forças Armadas da Ucrânia mais uma vez por estarmos vivos esta manhã. Agradecemos aos nossos defensores que nos defendem com seus corpos deste poderoso e numeroso ataque que os russos estão realizando contra nossa pacífica Pátria em pelo menos cinco direções orientais. Hoje agradecemos ao Senhor Deus por poder rezar e servir; porque o Senhor Deus e nosso exército ucraniano nos dão outro domingo, o dia santo, o dia do Senhor. Quando podemos, devemos deixar de lado toda a tristeza da vida e ir à igreja para ficar diante de Deus em oração, em oração pela vitória da Ucrânia, pelo exército ucraniano, pelas vítimas inocentes desta guerra, por aqueles que hoje vivem o seu momento mais difícil.

Hoje pedimos: "Deus, salve nossa pátria". E queremos que o mundo inteiro nos ouça: a Ucrânia está viva, a Ucrânia resiste, a Ucrânia luta, a Ucrânia reza!

Hoje continuamos nossas reflexões sobre o que é vocação, porque é muito importante para nós compreendermos nossa tarefa pessoal e a comum, nacional, à qual nosso Senhor, Criador e Salvador nos chama também neste dia,neste domingo. Dizíamos que a descoberta do sentido da nossa vocação nos leva à capacidade de realizar o mistério de nós mesmos. E a realização dessa vocação é o caminho para realizar todas essas potencialidades, todos esses dons que o Criador investiu em cada um de nós. Somos todos pessoas dotadas de um talento ou dom. Mas nós mesmos podemos usar esse dom e servir aos outros com ele apenas quando respondemos positivamente ao chamado e usamos nosso tesouro pessoal de acordo com o propósito pretendido.

Falamos sobre diferentes tipos de vocação pessoal. Mas hoje quero lembrar-vos de outra vocação que no mundo moderno por alguma razão é por vezes esquecida ou subestimada. No mundo, que vive um poderoso processo de globalização, onde se apagam o sentido e o valor de certas culturas nacionais e populares, onde milhões de pessoas perdem as suas raízes pessoais, esquecem que têm uma vocação especial: a vocação de pertencer a uma determinada nação. Nosso próprio Senhor Deus e Salvador, quando se tornou homem, nasceu em certa cultura e como homem tornou-se parte e membro de certo povo. Da mesma forma, quando nascemos, viemos ao mundo como filhos de um país, de certos pais, de uma história, de uma determinada nação, sociedade ou estado.

Há algumas coisas na vida que podemos escolher. Também podemos escolher se queremos ou não responder ao chamado. Podemos escolher aspirar ou não à plenitude da vida, porque ninguém pode ser obrigado a ser feliz. Mas não podemos escolher em que país e de que pais nascemos. Uma famosa canção ucraniana diz: "Podes escolher tudo no mundo, meu filho, não podes escolher apenas a Pátria".

Pertencer a um povo é sempre uma graça, e não uma coincidência. Da mesma forma, pertencer ao povo é uma vocação, porque não somos órfãos, abandonados, estrangeiros, não! Somos herdeiros de um grande tesouro, herdeiros da língua, da cultura, dos costumes, até da experiência de vida cristã de uma grande nação com uma grande história. E nós herdamos este tesouro como filhos e filhas deste povo. Quando Deus nos chama a pertencer ao povo ucraniano ou a outro povo, quer que respondamos adequadamente a este chamado, que amemos o nosso povo, que nos interessemos pela sua história e cultura, que falemos bem a sua língua.

Hoje às vezes entendemos que, além de pertencer a uma determinada etnia, a uma determinada nacionalidade, também somos membros de uma determinada nação política. Hoje a Ucrânia é uma nação multinacional e multicultural, mas também é um povo. Hoje, os ucranianos que morrem pela liberdade da Ucrânia são povos diferentes, representantes de diferentes nacionalidades: ucranianos, até os mesmos russos, húngaros, poloneses, gregos, búlgaros, romenos e tantos outros povos, que hoje se sentem todos ucranianos, membros desta grande, jovem e poderosa nação porque todos nasceram na Ucrânia, todos amam sua pátria onde o Senhor Deus lhes deu vida; são todos patriotas daquele país.

De fato, o verdadeiro patriotismo cristão é o amor por aquele povo, aquele país que te fez crescer, que te deu um caminho na vida. É um sentimento e um dever humano universal ser agradecidos à terra que te abriu caminho na vida. Não se pode desprezar a vocação de pertencer ao próprio povo. Não há nação que não seja amada por Deus ou que seja abandonada por ele. Nem todas as nações são igualmente ricas e dotadas de boas condições de vida, mas todas as nações são abençoadas por Deus e têm sua própria missão na história do mundo.

Da mesma forma, entre os outros povos do mundo, o povo ucraniano tem hoje uma missão que lhe é própria própria, uma tarefa e uma vocação cristã. Hoje a Ucrânia se tornou o epicentro dos eventos mundiais, hoje o futuro da humanidade está sendo forjado na Ucrânia. E nós hoje, como filhos e filhas fiéis do nosso povo, temos que defender o seu direito de existir com as armas na mão, mas o principal motivo, a principal motivação da invencibilidade ucraniana hoje é o amor, o amor ao seu povo.

Neste dia queremos agradecer ao Senhor Deus por ter nos feito o chamado para sermos filhos e filhas deste povo ucraniano que hoje chora, que hoje sofre; da nação, que para todos nós é uma nação mártir, uma nação que produziu numerosos heróis da fé cristã ao longo da história milenar da vida em Deus, da vida cristã em nossas terras.

Hoje queremos pedir a todos os nossos santos mártires do povo ucraniano que nos ajudem a ser bons patriotas, bons filhos e filhas desta nação que somos chamados a acolher como dom de Deus e vocação e pertença à qual é a chave do sucesso para cada um de nós. nós. A herança de nossa cultura nacional hoje é aquela capital, aquele tesouro do qual crescerá o novo, grande e brilhante futuro de nosso povo e de nossa Pátria.

Hoje, neste domingo que já nos prepara para o tempo da Grande Quaresma, reflitamos sobre uma página muito particular do Evangelho. O Evangelista Lucas nos conta hoje uma parábola sobre o filho pródigo, ou o pai misericordioso. Esta é uma página especial da palavra de Deus que nos revela a face de nosso Deus como um Pai amoroso que nos dá uma herança. O mais precioso para Ele não são os bens terrenos, mas a pessoa. Mesmo aquela pessoa que pode ter se perdido porque O abandonou. Neste domingo em nossa Igreja rezamos especialmente pelos presos. Hoje é o dia da capelania prisional e atenção especial para as pessoas que estão presas.

Hoje quero agradecer a todos os nossos capelães que servem os presos, que são para eles talvez o único caminho para a liberdade, o caminho para a verdadeira liberdade para o bem, o caminho para a libertação de todo o mal.

Hoje rezamos por todos os nossos irmãos e irmãs que estão na prisão. Especialmente para aqueles que estão injustamente em cativeiro russo. Por nossos irmãos e irmãs nos territórios ocupados, que estão sendo maltratados hoje nos campos de filtração e outros campos de concentração das autoridades russas de ocupação. Recordamos em nossas orações nossos padres presos, padre Ivan e padre Bohdan.

Que o Senhor Deus ajude a todos nós a ajudar nossos irmãos e irmãs presos a voltar para casa, para estar conosco na comunidade da igreja, para estar conosco no amor por nossa pátria.

Deus abençoe a Ucrânia! Deus abençoe nossas meninas e meninos na linha de frente! Deus, ensina-nos a amar a nossa Pátria de maneira cristã, de maneira verdadeira! O amor faz heróis! Ajude-nos neste tempo de provação a testemunhar o amor pelas coisas mais preciosas, a sermos capazes de aceitar o chamado a ser filhos e filhas da Ucrânia! Deus, abençoe nosso povo com Sua paz celestial!

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+

Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
12.02.2023