Schevchuk: responder ao chamado todos os dias, a vocação deve ser cultivada e desenvolvida

Louvado seja Jesus Cristo!

Prezados irmãos e irmãs em Cristo,

hoje é segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023 e na Ucrânia já é o 362º dia da sangrenta guerra em grande escala.

Novamente no último dia na linha de frente houve batalhas, pesadas e sangrentas. O inimigo reuniu uma grande força e agora está atacando as posições das tropas ucranianas, bombardeando nossas cidades e vilarejos pacíficos e destruindo sistematicamente a infraestrutura vital de nossos centros populacionais.

Batalhas pesadas são travadas perto da gloriosa e heróica cidade de Bakhmut, que se tornou um verdadeiro símbolo da estabilidade ucraniana. Nossos soldados se defendem bravamente contra o exército russo superior em números e armas.

Também ontem, em apenas um dia, nas regiões orientais do nosso país - as de Kharkiv, Donetsk, Zaporizhzhia e Dnipropetrovsk - o inimigo lançou 10 mísseis de cruzeiro. Novamente há mortos e feridos, novamente choro e gemidos são ouvidos, novamente lágrimas são derramadas e sangue corre na terra da Ucrânia.

Pesados bombardeios ocorreram ontem no sul de nossa região de Mykolaiv. Agora a cidade de Ochakiv nas margens do Mar Negro está começando a sofrer.

Mas esta manhã, quando com a graça de Deus e a coragem do exército ucraniano vimos a luz do dia novamente, nos encontramos diante da face de Deus e queremos que o mundo inteiro nos escute, nos escutem todas as pessoas de boa vontade. Fazemos de tudo para deter o agressor e assassino russo, fazemos de tudo para libertar nossos irmãos e irmãs nos territórios ocupados, fazemos de tudo para vencer a guerra.

E hoje queremos que o mundo inteiro saiba que a Ucrânia vive! A Ucrânia resiste! A Ucrânia luta! Ucrânia rezar!

Preocupamo-nos especialmente com nossos irmãos e irmãs nos territórios ocupados, porque sentimos que o inimigo está começando a fazer deportações em massa da população ucraniana. Em particular, na região ocupada de Zaporizhzhia, os passaportes russos são distribuídos com a força e, posteriormente, a população masculina é obrigada a ser mobilizada para o exército russo e jogada nas linhas de frente, enquanto mulheres, crianças e famílias inteiras são expulsas de suas casas. Há deportações em massa que lembram os tempos de Stalin.

O inimigo está destruindo a terra ucraniana, o meio ambiente ao redor, está prejudicando a natureza ucraniana. Ficamos sabendo que o inimigo, ao abrir as eclusas do reservatório de Kakhovka, baixou significativamente o nível da água e, portanto, o abastecimento de água deste reservatório é reduzido, e muitas cidades e vilarejos nas margens do Dnipro não têm acesso a água potável. Há também uma ameaça ao curso normal do processo de resfriamento dos reatores nucleares da usina nuclear de Zaporizhzhia. O inimigo promove o ecocídio.

No entanto, graças a Deus na semana passada foi possível libertar 101 prisioneiros, prisioneiros de campos de concentração russos. E hoje sabemos que 1.762 prisioneiros foram libertados das câmaras de tortura russas, dos quais 132 são civis. Infelizmente, muitos outros irmãos e irmãs ainda estão sendo maltratados nos campos de concentração russos.

Mais uma vez, quero recordar os nossos padres presos na Berdyansk ocupada - padre Ivan e padre Bohdan. Rezemoss e fazçamos todo o possível para libertá-los das câmaras de tortura do inimigo.

Ao contrário, hoje continuamos a refletir sobre a vocação pessoal cristã e humana de cada um de nós. Ouvimos dizer que a vocação é um dom de Deus e é também uma tarefa certa. O homem deve responder a este chamado, à voz que chama do Senhor, Criador e Salvador. Mas a vocação que o Senhor Deus nos dá deve ser alimentada também por nós. Tem que ser desenvolvida. Não basta entender uma  só vez na vida para o que o Senhor Deus nos chama, uma só vez dizer "sim" a Deus. Devemos responder ao chamado todos os dias, todas as manhãs, em todas as decisões que tomamos na vida. A vocação deve ser cultivada e desenvolvida.

Existem alguns ambientes que são fundamentais para o desenvolvimento, consciência, discernimento e o cuidado da vocação de cada pessoa. O ambiente mais importante onde uma pessoa, cada pessoa, cada um de nós cultiva a sua vocação, é a nossa família.

Quem conhece melhor o próprio filho do que quem o ama, em particular, melhor do que um pai amoroso e uma mãe amorosa, sob cujos olhos esta criança cresce, dá os primeiros passos, pronuncia as primeiras palavras, descobre pela primeira vez certas preferências, inclinações  habilidades e talentos. São precisamente os pais e mães que olham para a alma de seus filhos com seus olhos amorosos. E é importante que as crianças ouçam os conselhos, opiniões e observações dos pais. Neste diálogo entre a criança e seu pai ou sua mãe pode-se compreender pela primeira vez o que o Senhor a chama a fazer em sua vida.

Os pais aqui têm uma responsabilidade especial: ajudar a criança a realizar esse chamado, ajudar a formar uma resposta pessoal ao chamado de Deus e, em nenhum caso, manipular essa resposta, nem apagar esse chamado.

Às vezes acontece que quando os pais tentam ajudar seus filhos a escolher um caminho de vida, profissão ou mesmo estado de vida, eles projetam seus sonhos, desejos ou vocação não realizados nos seus filhos, querem forçá-los a realizá-los. Isso é errado porque cada criança é única. Cada pessoa tem seu próprio caminho de vida. O Senhor Deus chama cada um à sua maneira.

Portanto, os pais não devem proibir seus filhos de escolher seu próprio estado de vida: matrimônio ou castidade. Assim como não devem escolher marido ou mulher para os filhos, em vez de lhes dar a possibilidade de fazer - consciente e voluntariamente, em total liberdade - a escolha a que o Senhor Deus os chama segundo a expressão da sua consciência.

Os pais devem ajudar seus filhos a entender sua vocação e não escolher por eles. Não devem impor sua opinião ou obrigá-los a escolher determinada profissão ou ofício. Para que a vocação dos filhos seja devidamente reconhecida, os pais devem ver bem os filhos, suas verdadeiras preferências e habilidades, e ao mesmo tempo lembrar que eles não são propriedade sua e que a visão dos pais de felicidade pode ser uma visão subjetiva.

É preciso amar os filhos, somente assim é possível ser bons conselheiros no discernimento e no cultivo da própria vocação.

Hoje pedimos ao Senhor que nos dê forças para amar também nestes dramáticos tempos de guerra. Amar aqueles que nos pedem conselhos. Porque saber dar bons conselhos é o dom dado a todos nós, pais, consagrados, sacerdotes, padres espirituais pela força e graça do Espírito Santo.

Senhor, permite-nos realizar o que nos chamas a fazer, com o poder do Teu Espírito Santo.

Deus abençoe as crianças da Ucrânia! Abençoe a juventude ucraniana! Ajude-a a fazer a escolha certa em sua vida para responder ao seu chamado divino.

Deus, hoje o peso da guerra caiu sobre os ombros dos jovens. Sustenta os nossos jovens, ajuda-os a amar, a amar a sua pátria, o seu povo com amor sacrificial, a amar-te, ó Deus.

Deus, abençoe nosso exército ucraniano, nossas meninas e meninos no front!

Deus, traga paz à Ucrânia! Abençoe nossa pátria, nossa querida terra com Tua justa paz celestial.

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+

Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
20.02.2023