Etapa Continental do Sínodo Países Bolivarianos: uma Igreja ao encontro de um povo
Padre Modino - CELAM
Um encontro que faz parte de "um itinerário sinodal, eclesial e pastoral que temos vindo a realizar", como afirmou dom Miguel Cabrejos. O presidente do Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (Celam), insistiu que estamos perante "uma experiência do Povo de Deus, caminhamos juntos com uma meta, com um objetivo, com um fim, que é a evangelização, levando Cristo aos outros no mundo de hoje, na sociedade de hoje, mas também sob a orientação do Espírito Santo, o Espírito de Deus".
Como salientou nos encontros anteriores realizados em San Salvador e Santo Domingo, "esta experiência que vivemos está numa atmosfera de espiritualidade, um Kairos, um tempo de graça que nos permite refletir, que nos permite discernir com este método que se chama conversa espiritual, que nos leva a abrir os nossos corações, a abrir as nossas mentes, a expressar o que o Espírito de Deus nos está a dizer ou quer dizer à Igreja".
Para o presidente da Conferência Episcopal Peruana, "não é um simples encontro de pessoas interessadas na vida pastoral, mas estamos sob a orientação do Espírito de Deus". Nas suas palavras, salientou que "a Bíblia respira sinodalidade, a Bíblia respira corresponsabilidade desde o momento da própria Criação, onde aparece o encargo de cuidar desta criação, na ação dos patriarcas, dos profetas e sobretudo de Jesus Cristo que nos convida a todos à corresponsabilidade, que se concretiza no apelo a levar adiante em conjunto toda esta obra de salvação, algo que nasce da graça do Batismo", fazendo um chamado a não decidir sem ter escutado, sem ter discernido.
Na mesma linha, dom Luis Cabrera apelou a "escutar para não projetar os nossos medos, para não projetar os nossos preconceitos, mas para permitir que a outra pessoa fale, para nos falar da sua vida, das suas circunstâncias". Para o arcebispo de Guayaquil, "esta escuta ajuda-nos a discernir à luz da Palavra de Deus, à luz da presença amorosa do Pai, do Filho e do Espírito Santo".
A partir daí, sublinhou que "com estranhos, esta sinergia foi criada, este espírito, esta atitude de começar a falar com facilidade, com liberdade, com espontaneidade". O presidente do episcopado equatoriano colocou "a experiência da amizade, da fraternidade acima das contribuições e dos documentos". Por esta razão, chamou a olhar em frente e deixar-se guiar pelo Espírito, que "nos tira do nosso conforto, das nossas instalações, e sobretudo dos nossos medos".
"Este processo sinodal convida-nos a regozijar-nos e a ter esperança", afirmou a Irmã Lídia Chávez. A Irmã Laurita salientou a riqueza dos diferentes carismas e o fato de sermos "testemunhas do sofrimento de muitas pessoas", para que "este espaço nos traga essa memória". Uma presença carismática "nos lugares onde realmente sentimos a dor das pessoas afetadas por todos os males que conhecemos". A partir daí, ela insistiu no lugar muito importante que a vida religiosa tem no processo de escuta das pessoas, "caminhámos com elas, sofremos com elas". Este processo sinodal é visto pela Vida Religiosa como uma oportunidade de participar em alguns ministérios a fim de atender a lugares distantes ou onde os padres não podem chegar.
Como representante da CEAMA, Patricia Gualinga disse que está neste encontro para partilhar as experiências da CEAMA e da REPAM com o Sínodo Amazônico. "O Sínodo é caminhar juntos, mas caminhar em direção a uma saída, uma Igreja em saída ao encontro de um povo, mas não de um povo qualquer, o povo que é marginalizado, o povo que pode não ter tido a possibilidade de exercer uma voz", insistiu a líder indígena. Segundo ela, "o Sínodo é aquele avanço que a Igreja Católica está a fazer, ancorado em algo que é fundamental, que é a ecologia integral".
"A Igreja tem de ter o rosto do povo, no nosso Sínodo Amazónico dissemos a Igreja com um rosto amazónico, a Igreja com o rosto do bairro, das periferias, onde a periferia se torna o centro das atenções, que é o caminho da sinodalidade, no qual estamos a avançar", sublinhou Patricia Gualinga. Como CEAMA, querem contribuir "para esta experiência, que é também um grande desafio na Amazônia, que é a busca da Igreja com rosto amazónico, com rosto indígena, com rosto de biodiversidade, com rosto de um bioma tão importante e vital para a humanidade".
"Que o povo comece a participar, que a Igreja já não esteja nas suas estruturas, mas que comece a partilhar com o Povo de Deus", é um motivo de gratidão para a líder indígena. É por isso que ela salientou que "a participação dos povos indígenas no processo de escuta é muito importante, porque eles dão os seus pontos de vista a partir das suas realidades. E é isso que está a acontecer neste caminho, a partir da experiência dos seus territórios, e isso é vital. Este processo de escuta dá-nos a possibilidade de dar as contribuições necessárias para que o que está a ser feito se possa refletir nos documentos”.
"Há uma grande esperança de que esta Igreja Católica se transforme de acordo com os tempos e na iluminação do Espírito, no acompanhamento dos povos, mas também na orientação, porque estamos em tempos diferentes dos anteriores", insistiu a indígena equatoriana do povo Kichwa de Sarayaku. "Uma Igreja que não é estática, que caminha e caminha para avançar com um povo, um povo de Deus, que não é apenas católico, mas é muito mais, um povo que luta, um povo que é marginalizado, um povo que está na pobreza, um povo que sofre, tal como Cristo sofreu, e isso é uma grande esperança", nas palavras de Gaulinga.
Uma Igreja que quer mostrar a necessidade de diálogo, também em relação aos conflitos sociais que estão presentes em alguns países como o Peru e o Equador, como afirmaram os presidentes dos seus episcopados, porque é "a única forma sensata e inteligente de enfrentar os conflitos", segundo dom Luis Cabrera.
Dom Miguel Cabrejos, que felicitou a Conferência Latino-americana e Caribenha de Religiosos (CLAR) pelo 62º aniversário da sua fundação, pedindo à Vida Religiosa que não perdesse o seu profetismo, destacou o processo de apropriação que Celam está a promover em relação à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que o Papa Francisco descreveu como sem precedentes, e que produziu documentos. Daí a criação de comissões a todos os níveis para encorajar esta apropriação e para dar uma resposta ao Santo Povo Fiel de Deus.
A Irmã Lidia Chávez referiu-se ao encontro sinodal dos povos originários realizada na semana passada em Latacunga (Equador), pedindo que estas contribuições fossem ouvidas. Um encontro em que foi colocada ênfase na formação de sacerdotes e religiosos, com esta abordagem intercultural e sobretudo que sejam incluídos aspectos das cosmovisões dos povos para que não sejam alheios a estas realidades.
A partir daí, apelou a colocar-se no lugar dos povos, que apesar de terem sido marginalizados, continuam a resistir e a insistir na defesa da vida integral, da vida do ser humano e da vida da mãe Terra, uma importante contribuição na linha do que o Papa sublinhou em Laudato Si. Ela enumerou aspectos que os povos originários vivem, que ela definiu como dádivas que lhes foram dadas por Deus, e que têm vindo a cultivar. São povos que querem "contribuir para a mudança da Igreja, para que esta se torne mais simples, escute e responda realmente à necessidade urgente de salvar as vidas destes povos excluídos e marginalizados".
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