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Padre Lício: Ansiedade e medo

Muita gente confunde ansiedade com o sentimento de medo, que inclusive é normal no ser humano. Qual a diferença entre ansiedade e medo?

Padre Lício de Araújo – Diocese de São Miguel Paulista (SP)

Segundo o relatório da Organização Mundial da Sáude (OMS) de 2019, cerca de 18 milhõe de brasileiros tem distúrbios de ansiedade.

A ansiedade pode ser definida como algo que sentimos quando estamos diante de um acontecimento que gera nervosismo, preocupação, medo.

Muita gente confunde ansiedade com o sentimento de medo, que inclusive é normal no ser humano.

Qual a diferença entre ansiedade e medo?

Medo é um sentimento que nos alerta sobre uma ameaça futura.  Ele é um estado de alerta importante para a nossa sobrevivência. O medo, como todas as emoções faz parte da mente cognitiva e está presente integralmente quando tomamos decisões.

"A ansiedade é resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida", de acordo com Custódio Dória, autor do livro "Como é bom viver! Ansiedade, depressão e comportamento suicida: um diálogo com o psicólogo."

Os sintomas fisícos mais comuns da ansiedade são: sensação de aperto ou dor no peito, falta de ar, náusea, sudorese, insônia, angústia, tensão muscular; os sintomas psicológicos são:  estado de apreensão com questões futuras reais ou irrerais, medo de que aconteça o pior, medo de morrer, nervosismo, mente cheia de preocusações sensação de mau pressentimento, dentre outros sintomas que fazem a pessoa ter a desconfortável sensação de perda de controle.

Lembre-se: o medo é ativado quando o indivíduo se vê diante de um risco potencial, como resposta justificada de autopreservação. Todas as idéias e todos os comportamentos de quem está com ansiedade estão ligados ao medo, como desconfiança, distanciamento, fuga, comportamentos de esquiva ou evasivos, aversão e principalmente insegurança. Obviamente tristeza não está descartada, mas saiba  que a emoção protagonista  dos quadros de ansiedade é o medo.

A ansiedade não tratada pode evoluir para ataques de síndrome de pânico, que se caracteriza por uma intensa ansiedade (somos como que "possuídos pelo medo"). Os principais sintomas são: sensação iminente de morte, aumento dos batimentos cardíacos, aceleração da respiração, desespero.

O transtorno de ansiedade é um problema muito sério, e na grande maioria dos casos exige acompanhamento com especialistas (psicólogo e/ou psiquiatra).

Na minha experiência pastoral e pessoal (tive dois episódios de síndrome de pânico), a terapia é importante sobretudo se aliada a direção espiritual.

A direção espiritual ocupa um lugar na teologia e na pastoral porque tem como finalidade ajudar as pessoas a aprofundar e vivenciar o Evangellho, a encontrar-se consigo mesmo, com os outros e com Deus para ter uma vida espiritual e humana de qualidade. Inúmeros estudos mostram o benefício de ter uma fé e praticar uma religião no tratamento de ansiedade em adultos. Eis um exemplo: Um estudo realizado com 37 mil homens e mulheres que praticam regularmente a sua fé, isto é, frequentam a igreja ou outros serviços religiosos, ou fazem direção espiritual, mostrou que quanto maior a frequência à missa,  ao culto,  à direçao espiritual,  menor a incidência de depressão, mania e transtorno de pânico (essa pesquisa foi publicada em 2006 por Marilyn Baetz, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, e outros autores).

Por experiência própria, o ideal seria aliar a terapia a uma boa direção espiritual.

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Tenho falado recentemente para vários presbitérios sobre o" fenômeno do suicídio no clero", e tenho constatado que inúmeros padres e bispos depois de ordenados, deixaram de fazer direção espiritual e /ou tem dificuldades em buscar e fazer terapia.

Para prevenir a ansiedade e a síndrome de pânico é importante cuidar de sua saúde mental.

Aqui dou algumas dicas:

1. Busque a Terapia: A psicoterapia para ansiedade é essencial porque ela ajuda a identificar e a solucionar os pensamentos distorcidos que uma pessoa ansiosa tem constantemente, estimula o autoconhecimento e reduz os conflitos emocionais.

2. Melhore a sua vida de fé e busque a direção espiritual:   como vimos a participação na Comunidade e a direção espiritual contribuem para a melhoria da saúde mental em geral; além disso a oração nos conecta conosco e com Deus e a meditação ajuda a focar no momento presente.

3. Faça exercícios físicos:  a prática de exercícios é importante para aliviar tensões; eles ajudam a distrair a mente.

4. Tenha hábitos saudáveis: não fumar, não ser sedentário, ter uma alimentação adequada é fundamental, sem esquecer a receita infalível das nossas avós: uma boa chícara de chá.

5. Faça atividades para externar suas emoções: cantar, pintar, escrever, desenhar, rezar, fazer a leitura orante da Palavra de Deus, entre outras.

Por fim, se você estiver muito ansiooso, não tenha medo nem vergonha de buscar ajuda, profissionais de saúde mental (psicólogo e psiquiatra), intituições como o CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) do SUS e a comunidade de fé podem ser instrumentos da graça libertadora de Deus.

Fazer de conta   que o problema não existe só piorará as coisas e irá torná-lo ainda maior.

Cuidar da sáude mental é cuidar da vida! Cuide-se, sempre!

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10 março 2023, 15:33