Cardeal Odilo Scherer cumprimenta o Cardeal You Heung-Sik (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO) Cardeal Odilo Scherer cumprimenta o Cardeal You Heung-Sik (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO) 

Cardeal You Heung-Sik visita São Paulo e encontra fiéis coreanos

Cardeal You Heung-Sik confirma na fé os católicos coreanos que a herdaram dos mártires de seu país: o prefeito do Dicastério para o Clero visita São Paulo e celebra com fiéis de paróquia pessoal coreana.

Fernando Geronazzo - O São Paulo

Os fiéis da Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no Bom Retiro, região central de São Paulo, receberam a visita do Cardeal Lazzarus You Heung-Sik, Prefeito do Dicastério para o Clero, da Santa Sé. O purpurado coreano chegou à capital paulista no sábado, 24, e, no domingo, 25, presidiu uma missa com a comunidade católica coreana.

Esta é a quarta vez que Dom Lazzarus visita a Paróquia destinada aos fiéis coreanos e seus descendentes em São Paulo. Nas ocasiões anteriores, ele veio como Bispo de Daejeon, diocese coreana da qual esteve à frente até ser nomeado Prefeito do Dicastério para o Clero pelo Papa Francisco, em 2021, e criado cardeal da Igreja no Consistório de 27 de agosto de 2022.

Antes da missa, houve um breve encontro do Cardeal You Heung-Sik com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Na conversa fraterna, Dom Odilo recordou a visita que fez à Coreia do Sul, em 2017, para o Fórum Internacional para a Partilha sobre a Paz, promovido pela Arquidiocese de Seul. O Arcebispo também expressou seu apreço pela comunidade católica coreana em São Paulo por seu testemunho de fé viva na cidade.

O Cardeal Scherer lembrou, ainda, que, em 2021, a igreja matriz da Paróquia Pessoal Coreana foi local de peregrinação no ano jubilar do bicentenário de nascimento do mártir São Kim Degun, primeiro sacerdote coreano.

COMUNHÃO

Na homilia da missa, Dom Lazzarus manifestou sua alegria por reencontrar a comunidade coreana de São Paulo. Ele recordou que sua última visita à cidade foi antes da pandemia de COVID-19, sublinhando que, mesmo distante, esteve unido espiritualmente a todos os fiéis que sofreram com a emergência sanitária.

“Estou muito feliz em revê-los após esse período e os cumprimento por enfrentarem esses tempos difíceis com força e testemunho de caridade fraterna”, afirmou.

O Cardeal You Heung-Sik também transmitiu à comunidade a saudação do Papa Francisco, com quem se comunicou antes de viajar ao Brasil. “O Santo Padre me pediu que enviasse a vocês a sua bênção e que lhes pedisse que não deixassem de rezar por ele”, afirmou.

CATOLICISMO NA COREIA

Ao contrário de outros países asiáticos, o catolicismo não chegou à Península da Coreia por meio dos missionários europeus. No século XVI, alguns eruditos tiveram acesso a livros de missionários cristãos da China. A princípio, os coreanos desejavam conhecer o catolicismo como uma filosofia de vida; contudo, logo descobriram a fé e aderiram a ela como uma nova religião.

Entre esses primeiros estudiosos destaca-se Lee Seung-Hoon, que foi para Pequim, na China, com o desejo de praticar efetivamente o catolicismo. Lá, adotando o nome cristão de Pedro, foi batizado pelo missionário francês Padre Grammont, em 1784. Quando retornou à Coreia, fundou a primeira comunidade cristã em seu país.

No entanto, a fé e o estilo de vida católicos entraram em conflito com as ideologias políticas, culturais e religiosas da Coreia em uma época em que predominava o Confucionismo. Por esse motivo, a Igreja Católica coreana foi perseguida por mais de um século, tendo mais de 10 mil fiéis martirizados por não renegarem a fé recebida no Batismo.

Atualmente, a Coreia do Sul tem cerca de 50 milhões de habitantes, dos quais aproximadamente 5 milhões são católicos (10,7% da população).

Cardeal You Heung-Sik saúda fiéis católicos coreanos em São Paulo (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)
Cardeal You Heung-Sik saúda fiéis católicos coreanos em São Paulo (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

MÁRTIRES

São Kim Degun, também conhecido como Santo André Kim Taegon, nasceu em 21 de agosto de 1821. Filho de uma família nobre coreana, converteu-se ao catolicismo, dedicando-se à evangelização de sua pátria, onde o Cristianismo era duramente perseguido.

Em 16 de setembro de 1846, Santo André e mais 102 católicos foram martirizados. O jovem padre tinha 25 anos de idade e um ano de sacerdócio. Ele foi canonizado com seus companheiros em 6 de maio de 1984, por São João Paulo II, durante sua visita à Coreia do Sul na comemoração dos 200 anos do catolicismo nesse País.

O Cardeal You Heung-Sik atribui aos mártires coreanos a força e inspiração dos fiéis católicos no país asiático. “O sangue dos mártires nos encoraja para testemunhar que não é possível ser cristão sem unir a fé e a vida. Ser um bom católico significa viver a Palavra de Deus, testemunhar a fé com o amor de Jesus, sendo necessário, na maioria das vezes, navegar contra a corrente de tantas coisas que fazem mal à humanidade”, afirmou.

COREIA DO NORTE

Antes do atual cargo na Cúria Romana, Dom Lazzarus também foi o chefe do Comitê para a Paz da Conferência Episcopal Coreana e visitou a Coreia do Norte quatro vezes.

As duas Coreias são totalmente separadas desde a guerra ocorrida entre 1950 e 1953, quando as tropas norte-coreanas ultrapassaram a fronteira que separa os dois países, dando início à invasão da Coreia do Sul.

Na Coreia do Norte, sob regime comunista, a Igreja Católica é proibida de atuar livremente. Só podem exercer culto público os que fazem parte da Associação Católica da Coreia do Norte, instituição controlada pelo governo do ditador Kim Jong-un. Os demais católicos vivem a fé clandestinamente. Segundo essa associação nacional, existem 3 mil católicos inscritos no País, mas estima-se que o número real não passe de 800, sendo a maioria idosos batizados antes da Guerra da Coreia.

Dom Lazzarus preside missa na Paróquia Pessoa Coreana em Santo André Kim Degun (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)
Dom Lazzarus preside missa na Paróquia Pessoa Coreana em Santo André Kim Degun (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

SEM PASTORES

Embora vacantes, as três dioceses católicas da Coreia do Norte continuam instituídas à espera de um dia poderem ser retomadas. Até 2012, o Anuário Pontifício indicava como Bispo de Pyongyang Dom Francis Hoong-ho, desaparecido desde 1949 após ser capturado pelo governo norte-coreano. Em 2013, a Santa Sé recebeu a confirmação de sua morte e seu nome foi incluído na lista de 81 mártires coreanos, cuja causa de beatificação está em andamento.

“Há mais de 70 anos, não temos notícias dos nossos irmãos na Coreia do Norte. É uma situação muito difícil. Lá não há bispos, nem sacerdotes. Para nós, é muito doloroso”, manifestou o Cardeal You Heung-Sik, reforçando o empenho da Igreja na Coreia do Sul, da Santa Sé e do próprio Papa na busca do diálogo e da reconciliação entre os dois países.

“Enviamos continuamente mensagens para a Coreia do Norte, na tentativa de abrir um diálogo multilateral e diplomático para resolver essa situação. Eu também já me coloquei à disposição do Santo Padre para, em seu nome, intermediar o diálogo entre as Coreias. Se ele considerar necessário, estarei pronto para ir nessa missão em favor do nosso povo coreano”, salientou Dom Lazzarus.

A programação da visita do cardeal coreano ao Brasil contou, ainda, com uma peregrinação ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. No domingo, 2 de julho, às 10h30, ele celebrará novamente a Eucaristia na Paróquia Pessoal Coreana, e, na noite da mesma data, embarcará rumo à Guatemala, na América Central.

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27 junho 2023, 15:19