A diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell, visita acampamento de deslocados internos, em Porto Príncipe. A diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell, visita acampamento de deslocados internos, em Porto Príncipe. 

Dom Dumas defende "Plano Marshall" urgente para o Haiti

Na ilha caribenha, de joelhos devido à violência das gangues armadas, da cólera e das consequências das mudanças climáticas, milhões lutam todos os dias contra a fome e a precariedade da vida. O arcebispo de Anse-à-Veau-Miragoâne fala do empenho quotidiano da Igreja local: “Não podemos ficar distantes do sofrimento de nossa gente”

Federico Piana - Cidade do Vaticano

No Haiti, a paz está cada vez mais distante. Enquanto os políticos locais tentaram dialogar inutilmente nas últimas semanas, reunindo-se na Jamaica, a violência não dá trégua no país caribenho. As gangues armadas, contrárias a qualquer tipo de acordo, continuam a se enfrentar por meio de ataques e sequestros. É de ontem, terça-feira,  a última notícia de tiros disparados perto de um campo para pessoas deslocadas. A pobreza endêmica, que afeta principalmente as crianças, está aumentando depois que o país se deparou com uma epidemia de cólera e pelas recentes inundações e novo terremoto, dos quais ainda não se recuperou.

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Segundo as últimas estimativas do Unicef, os grupos armados ampliaram seu território e agora controlam comunidades que somam cerca de dois milhões de pessoas, a maioria mulheres e crianças, forçadas a viver em meio a frequentes execuções sumárias e violência sexual. Isso alimentou uma crise humanitária que, segundo a agência da ONU, causou o deslocamento interno de mais de 165.000 pessoas, levando muitos a tentar fugas perigosas de barco para escapar das adversidades diárias. 

Cindy McCain, diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), revelou na terça-feira, 20 de junho - dia em que a ONU recorda o Dia Mundial do Refugiado - que pelo menos 5 milhões de haitianos lutam para comer todos os dias. "As necessidades humanitárias são ainda maiores hoje do que após o devastador terremoto de 2010, mas com muito menos recursos para responder", afirmou Catherine Russell, diretora executiva do Unicef.

Respeito ao estado de direito

 

É neste contexto tão difícil que se move a Igreja haitiana, que escolheu ser um agente de paz e que faz o que está a seu alcance para apoiar a população faminta e sofredora. Dom Pierre-André Dumas, arcebispo de Anse-à-Veau-Miragoâne, está convencido de que devemos "trabalhar pela normalização do país, implementando um verdadeiro 'plano Marshall' para o desenvolvimento humano integral". Ademais - acrescenta - “é necessário o respeito pelas regras de justiça e pelo estado de direito. E a comunidade internacional deveria estar mais envolvida nisso”.

Ajudar os pobres a renascer

 

A Igreja haitiana se sentiu reconhecida na mensagem para o VII Dia Mundial dos Pobres - celebrado no próximo dia 19 de novembro - com a qual o Papa Francisco pede a todos que se envolvam pessoalmente no clamor dos mais necessitados. E dom Dumas sabe muito bem que esses gritos de dor também vêm de sua gente. “Nós – diz o prelado – agradecemos ao Papa porque esta mensagem se tornou um texto orientador para nossa pastoral, que deve, cada vez mais, ser capaz de ajudar os pobres a assumir o controle de sua própria vida”.

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21 junho 2023, 10:37