Motociclista passa diante da Universidade Centro-americana em Manágua, acusada de ser "centro de terroristas" pelo governo nicaraguense Motociclista passa diante da Universidade Centro-americana em Manágua, acusada de ser "centro de terroristas" pelo governo nicaraguense  (AFP or licensors)

Confisco da UCA: "Acusações falsas", diz Superior dos Jesuítas

Ofício expedido pelo Décimo Distrito de Audiências Criminais, Circunscrição de Manágua, em 15 de agosto de 2023, descreve a Universidade dos Jesuítas, entre outros, como "Centro de terrorismo". Acusações totalmente falsas e desprovidas de fundamento, afirma Pe. Arturo Sosa. Diante de uma justiça imparcial, viria à tona "toda a trama que o governo vem executando, desde os protestos juvenis de 2018, contra a UCA, contra tantas outras obras da Igreja Católica e contra milhares de instituições".

Vatican News

Em mensagem endereçada ao Pe. José Domingo Cuesta, S.J., Cúria Provincial da América Central, San Salvador, o Superior Geral da Companhia de Jesus, Pe. Arturo Sosa, manifesta sua "grande surpresa e maior dor pelas consequências para a juventude e para todo o povo da Nicarágua", ao saber da notícia da "injusta medida de apreensão e confisco dos bens da Universidade Centro-Americana, UCA, de Manágua, pelas instituições que compõem o atual regime de governo na Nicarágua."

Em seu nome e de toda a Companhia de Jesus, Pe. Sosa expressa ao Provincial e a todos os membros da universidade sua solidariedade, recordando o trabalho realizado desde 1960, de modo particular os avanços nos últimos anos.

O jesuíta recorda ainda que o serviço prestado pela UCA sempre esteve em consonância com a missão da Companhia de Jesus e da Igreja Católica, "defendendo a causa da justiça e da verdade; promovendo o direito ao pensamento e a uma educação aberta, democrática e gratuita" e  comprometido "socialmente com a qualidade da formação e com a defesa dos direitos e a vida dos mais desfavorecidos", como atestam todos os reconhecimentos nacionais e internacionais recebidos pela UCA nestes 63 anos.

 

Acusações falsas e infundadas

 

Sabe-se - reitera Pe. Sosa - que as acusações contra a UCA são totalmente falsas e desprovidas de qualquer fundamento e que diante de uma justiça imparcial, viria à tona "toda a trama que o governo vem executando, desde os protestos juvenis de 2018, contra a UCA, contra tantas outras obras da Igreja Católica e contra milhares de instituições da Sociedade Civil, com o objetivo de sufocá-las, fechá-las ou apropriar-se delas. Com calúnias semelhantes, também ultrajaram os direitos de tantas pessoas, sua reputação, suas vidas e seus bens".

E em consonância com o comunicado da Província da América Central da Companhia de Jesus, Pe. Arturo Sosa afirma: 

Uno-me à reivindicação de que essa medida judicial contra a UCA seja revertida e corrigida, para que cessem as agressões governamentais contra ela e seus integrantes, para que sejam abertos caminhos de diálogo pautados na verdade, na liberdade e no direito à educação de qualidade para os juventude e para todo o povo da Nicarágua.

Em particular neste momento da cruz, por permanecerem fiéis a Jesus de Nazaré, o Superior Geral reitera seu apoio e o de toda a Companhia de Jesus à missão realizada pela Província da América Central na UCA em Manágua. "Continuo muito em comunhão convosco, com todos os nossos companheiros Jesuítas, e com todos aqueles com quem partilhamos a missão e que puseram a sua alma, a sua vida e o seu coração para tornar possível o que a UCA é hoje, arriscando para que pode continuar fazendo isso para a maior glória de Deus."

O comunidado da Província da América Central

 

A Província da América Central da Companhia de Jesus também emitiu uma nota onde reitera serem totalmente falsas e infundadas as graves acusações contra a Universidade Jesuíta descrita como "Centro de terrorismo", e acusada de ter "traído a confiança do povo nicaraguense" e de “ter transgredido a ordem constitucional, a ordem legal e a ordem que rege o Instituições de Ensino Superior do país”.

O confisco - afirma a nota - é o preço a ser pago pela busca de uma sociedade mais justa, pela proteção da vida, da verdade e da liberdade do povo nicaraguense.

Essa nova agressão do governo contra a Universidade não é um evento isolado, mas faz parte de uma série de ataques injustificados contra a população nicaraguense e outras instituições educacionais e sociais da sociedade civil que estão gerando um clima de violência e insegurança e agravando a crise sociopolítica do país. 

A Província da América Central da Companhia de Jesus, além da imediata suspensão da medida judicial do confisco, solicita ao Governo da Nicarágua a biusca de uma solução racional em que prevaleçam a verdade, a justiça, o diálogo e a defesa da liberdade acadêmica.

Guterres: confisco da UCA viola Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

 

Durante um briefing na quinta-feira, 17, o porta-voz de António Guterres assegurou que o secretário-geral está acompanhando com preocupação os desdobramentos da situação na Nicarágua, "particularmente o aumento das tensões entre o Governo da Nicarágua e a Igreja Católica, incluindo o recente fechamento da Universidade Centro-Americana".

O secretário-geral recorda que o encerramento em curso de um centro educativo, alegando preocupações de segurança nacional, deve ser feito em conformidade com as obrigações internacionais decorrentes do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Mais especificamente, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais enfatizou que um Estado Parte que fecha uma universidade ou outra instituição educacional por motivos como segurança nacional ou preservação da ordem pública tem o ônus de justificar uma medida tão grave em relação à cada um dos elementos identificados no artigo 4 do Pacto.

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18 agosto 2023, 09:43