O Dia Mundial dos Pobres na arquidiocese do Rio de Janeiro
Carlos Moioli - Arquidiocese do Rio de Janeiro
“Estamos realizando mais uma ação social com pessoas em vulnerabilidade social e, entre elas, os moradores em situação de rua, como acontece regularmente, mas sabemos que é preciso fazer muito mais. Nosso desejo é transformar esse mundo para que tenha mais fraternidade, misericórdia e justiça e que as pessoas possam viver com mais dignidade”, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, durante a celebração da Santa Missa pelo 7º Dia Mundial dos Pobres, realizada na Catedral de São Sebastião, no Centro, no dia 19 de novembro.
Junto com o café da manhã e o almoço, preparados pelo Setor Social da Catedral Metropolitana, as pessoas em vulnerabilidade social receberam atendimentos e encaminhamentos. Os consagrados das comunidades Pequena Nuvem e Maranathá realizaram triagem das pessoas que desejam ser acolhidas em instituições católicas para recuperação e inclusão social.
As comunidades Aliança de Misericórdia e Sementes do Verbo ficaram responsáveis pelo banho e corte de cabelo. Os voluntários do projeto “Amor que cura” realizaram serviços de saúde e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro deu orientação jurídica. As crianças se divertiram na biblioteca A Casa Amarela, e o Centro Social Nossa Senhora do Parto realizou acolhimento e orientação a mulheres grávidas.
“Com a ação social, vamos minimizando os problemas das pessoas com alimentação, banhos, roupas, documentação, serviços de saúde, encaminhamentos, mas o ideal é que todos tivessem casa, família, trabalho, acesso à saúde, educação e aos direitos sociais, enfim, vivessem com dignidade. A Igreja faz sua parte, mas nem tudo depende dela. Mesmo assim, procura cobrar compromissos e complementar o que é de responsabilidade dos governos”, disse o arcebispo.
Durante a celebração, Dom Orani lembrou que o Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco, em 2016, na conclusão do Jubileu da Misericórdia, cuja data sempre será celebrada no penúltimo domingo do ano litúrgico, isto é, no 33º Domingo do Tempo Comum. Neste ano, acrescentou o arcebispo, o Dia Mundial dos Pobres já na sua sétima edição tem como tema: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7).
“O Dia Mundial dos Pobres é uma oportunidade de reflexão da nossa missão enquanto Igreja. O Santo Padre, em sua mensagem pela data, nos diz que não devemos afastar nosso olhar dos pobres. No entanto, há quem deseja mandar os pobres para bem longe, fazer uma higienização em nossa cidade, para não serem vistos. Nossa missão, porém, é ter atitudes concretas de ajudar nossos irmãos em vulnerabilidade social a viver com dignidade, como filhos de Deus”, disse o arcebispo.
Dom Orani destacou que a celebração do Dia Mundial dos Pobres na Catedral é um sinal entre as ações sociais realizadas a cada dia pela Igreja por meio das paróquias, pastorais, movimentos eclesiais, congregações religiosas, novas comunidades e instituições católicas.
“Nossa Eucaristia é de gratidão por tantos cristãos que não enterram seus talentos – lembrando o Evangelho de hoje –, mas que multiplicam seus dons. Muitas ações da Igreja não resolvem todos os problemas dos mais pobres, mas se não fizesse, seria pior. Somos convidados a encontrar caminhos e trabalhar incansavelmente para a promoção dos mais pobres. A sociedade necessita de uma maior presença da Igreja, que ela faça a sua parte, para que aconteça a justiça social, um mundo melhor”, concluiu o arcebispo.
Visualizar as necessidades dos que sofrem
De acordo com o pároco da Catedral de São Sebastião, cônego Cláudio dos Santos, que também é o vigário episcopal para a Pastoral, a ação social foi realizada em parceria com a Ação de Amor do Santuário Cristo Redentor e do Vicariato para a Caridade Social, na qual 600 pessoas foram beneficiadas.
“O Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco, é um desejo de fazer visível as necessidades daqueles que mais sofrem na sociedade”, disse o pároco, observando que a Catedral oferece um café da manhã, a cada domingo, para centenas de moradores de rua.
Cônego Cláudio lembrou que a data foi celebrada junto com uma ação social, a pedido do arcebispo, e que o objetivo foi alcançado com a ajuda das parcerias. “Nossos olhares não foram desviados ou desfocados dos pobres, pelo contrário, tudo foi feito pensando neles”.
Ele destacou ainda a apresentação do Coral Canto da Rua, durante a Santa Missa, integrado por moradores em situação de rua em processo de reinserção social. “No final, cada um recebeu um Terço de Nossa Senhora pelas mãos do arcebispo. Nossos irmãos também precisam experimentar a proximidade com o Senhor através da vida e da oração. Muitos carregam o terço no pescoço porque querem ser identificados como católicos. O objetivo é esse, que eles sintam a presença do amor de Deus em seus corações e nas suas vidas”, finalizou.
Amados por Deus
“O Dia Mundial dos Pobres é um dia para lembrar de toda a necessidade que há de se fazer, a cada dia do ano, voltado para a realidade mais pobre da nossa cidade”, disse o vigário episcopal para a Caridade Social, monsenhor Manuel Manangão, durante a celebração.
“O Vicariato para a Caridade Social tem a missão dentro da Igreja do Rio de Janeiro de facilitar e de promover eventos de cunho social em vários momentos durante o ano”, disse monsenhor Manangão, às vezes em parceria com a Ação de Amor do Cristo Redentor. “Somos uma única Igreja, e procuramos nos fazer presentes em cada lugar onde há alguma situação aguda de pobreza.”
Recordando o magistério da Igreja e dos últimos pontífices, monsenhor Manangão disse que diante das situações de pobrezas de ordem material ou as que estão no coração das pessoas, há necessidade de anunciar que a caridade é grande expressão do amor de Deus pela Humanidade.
“Faz parte da nossa missão levar ao coração do outro a esperança do encontro e da realidade de sentirem que são amados por Deus. O mais importante de nossas ações é fazer com que nossos irmãos experimentem que são filhos de Deus, dignos, queridos e amados por Deus”, concluiu.
Monsenhor Manangão concluiu sua mensagem destacando que o 7º Dia Mundial dos Pobres foi celebrado na arquidiocese com uma semana de atividades. Promovido pelo Vicariato para a Caridade Social, aconteceu a palestra “Josué de Castro e os compromissos com os pobres”, na PUC-Rio, na Gávea, um debate público na Câmara de Vereadores, no Centro, e um fórum social, no Edifício João Paulo II, na Glória.
Braço solidário
Na sua mensagem, no final da celebração, o vigário episcopal para a Vida Consagrada e Novas Comunidades, Dom Roberto Lopes, OSB., lembrou que o seu vicariato é “um braço” do Vicariato para a Caridade Social que “procura auxiliar todos os serviços de cunho social e de caridade na arquidiocese”.
Ao recordar os grandes santos na história da Igreja que viveram a extrema pobreza, organizaram regras de caridade e inspiram os cristãos a serem mais solidários, Dom Roberto lembrou que em todos os cantos da arquidiocese há congregações religiosas e novas comunidades trabalhando no atendimento e promoção dos mais pobres.
“Agradeço a criatividade, a ousadia e, sobretudo, o testemunho dos nossos consagrados, que têm um olhar de compaixão e de misericórdia pelos mais pobres. Eles fazem como os grandes santos, que nos deixaram seus legados. Não devemos ter medo de sair às ruas e tocar a carne de Cristo. Amar, olhar, acolher, ter o irmão nos braços, saber o nome, como também eles sabem o nosso”, disse Dom Roberto.
Pobreza como fruto do pecado
O bispo auxiliar do Rio de Janeiro Dom Joel Portella Amado, em sua mensagem no final da celebração, lembrou que há pastorais de cunho social na arquidiocese mais antigas que o próprio Vicariato para a Caridade Social, criado há 20 anos, com o objetivo de assistir os pobres em suas diversas realidades.
Dom Joel observou que o Papa Francisco ao instituir o Dia Mundial dos Pobres, há sete anos, convidou a Igreja e o mundo todo, independentemente da fé, a olhar para os pobres, que aumentaram em número e no jeito, estilo e situação, entre eles, os migrantes, refugiados e vítimas da guerra.
“Ao escolher o tema deste ano, o Santo Padre quis chamar a atenção sobre uma característica muito nossa, a de acabar nos acostumando com tudo, até com pobre que está à nossa porta. Ele insiste em não afastar o olhar do pobre, de quem está sofrendo, de não esquecer de quem está passando por uma situação de penúria”, disse.
O bispo auxiliar, que é animador da dimensão da caridade social na arquidiocese, lembrou que o tema escolhido pelo Papa coloca diante dos cristãos o desafio de transmitir a fé às novas gerações, no Cristo Senhor, concretizada na caridade aos irmãos, os pobres.
“A parábola dos talentos, contida no Evangelho deste domingo, contempla o jeito que cada um lida com pobreza: no modo assistencial, direto no convívio com os mais necessitados, nas suas diversas formas, na área da formação e capacitação profissional e no engajamento sociopolítico, na busca de uma sociedade que não gere tantos pobres”, disse o bispo auxiliar, acrescentando que “a pobreza material não vem de Deus, mas é fruto do pecado entre nós”.
Ao concluir sua mensagem, Dom Joel manifestou sua alegria por ver muitas ações na arquidiocese em favor dos pobres, como o trabalho da Cáritas com os refugiados, e as dos vicariatos da Vida Consagrada e do Meio Ambiente e sustentabilidade. “Numa expressão contemporânea, a arquidiocese vive a sinodalidade, que não precisa de muita coisa para ser construída, mas precisa sim que nós saiamos das nossas zonas de conforto para olhar os pobres e dizer: ‘é meu irmão, é minha irmã, é Cristo, Senhor’”.
Fotos: Carlos Moioli
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