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Incensação na Santa Missa com os novos Cardeais e o Colégio Cardinalício na Abertura da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (04.10.2023) Incensação na Santa Missa com os novos Cardeais e o Colégio Cardinalício na Abertura da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (04.10.2023)

A dimensão antropológica do rito - Parte II

"A liturgia não esgota a ação da Igreja. A Liturgia é feita para o homem, pois anjos não precisam de sacramentos".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“Só celebramos e vivemos bem a liturgia, se permanecermos em atitude orante, e não se quisermos «realizar algo», fazer-nos ver ou agir, mas se orientarmos o nosso coração para Deus e estivermos em atitude de oração, unindo-nos ao Mistério de Cristo e ao seu diálogo de Filho com o Pai. É o próprio Deus que nos ensina a rezar, afirma são Paulo. Foi Ele mesmo que nos concedeu as palavras adequadas para nos dirigirmos a Ele, palavras que encontramos no Saltério, nas grandiosas preces da sagrada liturgia e na própria Celebração eucarística. Oremos ao Senhor para estarmos cada dia mais conscientes de que a Liturgia é obra de Deus e do homem; oração que brota do Espírito Santo e de nós, inteiramente dirigida para o Pai, em união com o Filho de Deus que se fez homem. (Bento XVI)”

Bento XVI, na catequese da Audiência Geral de 26 de setembro de 2012, referiu-se à liturgia como "«espaço» precioso, mais uma «fonte» inestimável para crescer na oração, uma nascente de água viva em relação estreitíssima com a precedente (...), um âmbito privilegiado no qual Deus fala a cada um de nós, aqui e agora, e espera a nossa resposta".

No programa de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* nos traz a segunda parte da reflexão "Dimensão antropológica do rito litúrgico":

 

"Estamos aprofundando a dimensão Antropológica do Rito, dos sacramentos,da liturgia. O professor gaúcho da PUCRS Dr. Frei Luiz Carlos Susin, OFM, ministrou a palestra sobre “O RITO EM QUE HABITAMOS: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICAS DO RITO” no recente Congresso Teológico Litúrgico em Porto Alegre.  Falamos aqui que a Gaudium et Spes expressa que “o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado”. Diz assim o número 22 da GS: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. Adão, o primeiro homem, era efetivamente figura do futuro (20), isto é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime. Não é por isso de admirar que as verdades acima ditas tenham n'Ele a sua fonte e n'Ele atinjam a plenitude”.

A liturgia é cume, o ponto mais alto da montanha, mas não pode existir o topo sem a própria montanha, os fundamentos que mantém a própria montanha e faz o cume estar à vista e exaltado. A liturgia não esgota a ação da Igreja. A Liturgia é feita para o homem, pois anjos não precisam de sacramentos. O axioma latino Gratia suponnit naturam - a graça supõe a natureza, também o cume supõe a montanha. A Sacrosactum Concilium aponta no número 10 assim: “Contudo, a Liturgia é simultâneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em assembleia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor”.

A liturgia não esgota a ação da Igreja. A Liturgia é feita para o homem, pois anjos, nem os pássaros – afirmou Frei Susin - não precisam de sacramentos ou rituais. Os ninhos dos pássaros são feitos sem consciência livre. “A saudação e a gentileza constante dos anjos, na narrativa bíblica, são revelação divina condescendente com a nossa condição corporal. O símbolo e o rito são intrínsecos a condição corporal do ser humano”. Susin reitera: “o ser humano ritualiza porque é corpo espiritual e se relaciona corporalmente, inclusive na sua condição espiritualmente mais alta, no nosso caso, na comunidade eucarística”. É a partir dos sentidos corporais - ouvir, ver, tocar, sentir, saborear, doar, receber, acolher, nutrir-se, abraçar que o ser humano pode afetar-se espiritualmente e abrir-se a uma relação espiritual”. Esta afirmação de Susin é realmente significativa e precisa ser destacada aqui em nosso aprofundamento. Se o ser humano precisa receber corporalmente esses gestos aqui expressos para ser afetado espiritualmente, nossa pastoral precisa prever essa realidade e não pode prescindir da corporeidade do ser humano para ele ser envolvido nos ritos de salvação. Não conseguiremos atingir o ser humano na ação missionária - tão pedida e querida pela Igreja atual - sem, de alguma forma falarmos e agirmos de maneira ritual, sacramental, gestual, corporal, com atitudes que o destinatário da salvação entenda, compreenda, se envolva, abrace o mistério divino para o qual é convidado a celebrar, receber, atuar e se doar.

Paulo VI, no encerramento do Concílio, afirmou que para conhecer o ser humano é necessário conhecer a Deus. Para reconhecer a Deus é necessário conhecer o ser humano e o nosso humanismo muda-se em cristianismo e o nosso cristianismo faz-se teocêntrico, afirmou Frei Carlos Susin. O palestrante afirmou que ritos e símbolos não podem ser arbitrariamente inventados. Os símbolos não são inventados, mas eles que nos inventam, nos constituem, nos transformam, nos unificam."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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27 novembro 2023, 09:08