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Prevenção: cuidar para além do setembro Amarelo

Durante o mês de setembro a Campanha de prevenção ao suicídio uniu bispos, religiosos e profissionais. Um dos pontos para a prevenção é ajudar a detectar sinais que possam ajudar as pessoas a não cometerem o suicídio foi a escuta. Um projeto realizado em Campos dos Goytacazes, no Mosteiro de São Bento.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

“A construção de relações saudáveis é essencial para sermos pessoas em constante diálogo e comprometidas com a vida de todos. Pensar neste aspecto sempre observou a construção de uma sociedade que se compromete com todos e suas dores. É nesse contexto que surge o mês de setembro, um período dedicado à prevenção do suicídio e respeito à vida! ”  Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves – Professor e Teólogo

Diante do aumento do número de suicídios o problema une bispos, padres e profissionais da área da saúde e educação. O Professor Robson Ribeiro de Oliveira vem destacando a urgência da prevenção para salvar vidas. E indica que o importante é que as pessoas busquem ajuda para conseguir viver uma vida saudável.

Somos chamados a refletir sobre a necessidade de estabelecermos relações mais saudáveis e empáticas, não apenas conosco, mas também com aqueles ao nosso redor. É um lembrete de que, em uma sociedade verdadeiramente comprometida com o bem-estar de todos, é fundamental abrir espaço para o diálogo, a empatia e o suporte emocional. A construção de relações saudáveis começa em casa, na escola, no trabalho e em todos os lugares onde interagimos com outras pessoas. É preciso cultivar a habilidade de ouvir, compreender e acolher as emoções e dificuldades alheias, sem julgamentos, relata Robson

Robson

Perceber sinais e ajudar

“É essencial buscar ajuda e sempre observar a realidade que vivemos para dar atenção aos que mais precisam. È muito importante que lembra que devemos valorizar a vida e que requer um esforço contínuo da sociedade. Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves – Professor e Teólogo

Para Robson é importante perceber os sinais de sofrimento emocional nos amigos, familiares e colegas, oferecendo apoio incondicional. As frustrações com a vida, as faltas de perspectiva, principalmente em tempos tão difíceis e desafiadores, colaboram com o sentimento de não pertencimento, a pressão social pela perfeição e depois problemas, como a depressão. Por isso é preciso compreender que são os vínculos sociais que dão força a cada um e cada uma.

Nas diversas realidades devemos nos colocar atentos a cuidado para que juntos, podemos construir uma sociedade mais compassiva, empática e comprometida com a vida de todos os seus membros. Sendo assim, diante de tantos processos e tantas realidades que vivemos é essencial frisar: Se precisar: Peça ajuda!!!, conclui Robson

“Se precisar pedir ajuda”

A crise afetiva, de relacionamentos e a solidão urbana, o desemprego e as dívidas financeiras podem também contribuir a esta soma de fatores. A atitude diante deste fenômeno que nos desafia e interpela deve ser sempre uma maior compreensão, empatia e presença amiga e solidária, dando suporte as famílias que lidam com pessoas que apresentam sinais de alerta e sintomas de perda da vontade de viver”. Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo Diocesano de Campos e Referencial da Pastoral da Saúde - CNBB

Dom Robertp
Dom Robertp

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz, bispo diocesano de Campos e Referencial Nacional da Pastoral da Saúde destaca que é necessária a mobilização da opinião pública buscando evitar esta conduta autodestrutiva que ceifa no Brasil especialmente os jovens. Dom Roberto aponta que para além da Campanha do Setembro Amarelo toda a sociedade deve se unir a este momento de sensibilização e conscientização todas as entidades da saúde pública e particulares, e a sociedade civil como um todo, desde a academia, escolas, Igrejas, famílias e as diversas associações e grupos de serviço. É importante ajudar identificando os sinais que indicam possíveis desequilíbrios que levem a desistência da vida.

É crucial compreender que com a pandemia houve um crescimento de mais do 25% das doenças mentais e que os quadros de depressão, angústia e ansiedade tem atingindo a muitas pessoas de diversas idades e situações. Além disso a dependência química em suas modalidades sociais e outras mais graves e transgressoras aumentam o risco da busca de por fim a vida. A crise afetiva, de relacionamentos e a solidão urbana, o desemprego e as dívidas financeiras podem também contribuir a esta soma de fatores, aponta dom Roberto Francisco.

Dom Roberto Francisco conclui orientado que escutar narrativas, facilitar a resignificação dos momentos de crise, apontando sempre saídas e o valor e beleza da vida, são procedimentos que abrem horizontes para aquelas situações sufocantes. Por isso as Igrejas e religiões podem em muito contribuir para a leitura de sinais ameaçadores de risco potencial e a sua transformação a partir da visão e experiência da bondade, misericórdia e ternura divinas e os meios de aceder a ela, vida comunitária, sacramental e espiritual, que nos comunicam a própria graça e vida sobrenaturais. Não vamos esquecer estes irmãos e irmãs aflitos/as e sofredores, pois o amor de Cristo nos impele a dar-lhes nossa acolhida, amparo e socorro antes que seja tarde.

Escutar sempre pode ser ponto de partida a prevenção

Desde a mais tenra idade, o ser humano precisa desenvolver a mais intrínseca realidade de falar e ser ouvido. O ser humano não basta a si mesmo e se assim fosse seriamos isolados e infelizes. O Criador nos fez diferentes, mas nos colocou o dom da comunicação e essa comunicação quer dizer vida: Dom Emanuel, de Maria – Monge da Comunidade Nossa Senhora da Ternura – Campos dos Goytacazes (RJ)

Dom Emanuel
Dom Emanuel

Diariamente no Mosteiro de São Bento é oferecido um serviço de escuta. São pessoas feridas pela sociedade, muitas com tristeza profunda procuram ser ouvidas. Dom Emanuel de Maria busca ajudar as pessoas que procuram e sempre tem uma palavra de conforto. O Prior da Comunidade Nossa Senhora da Ternura, Dom Inácio Maria da Veiga atende as confissões. Um serviço pastoral que busca ser samaritano para os sofredores.

Despojamos –nos, se faz necessário para ouvir o outro. Em todas as camadas sociais precisam ser ouvidas e serem escutadas em seus lamentos, dores, frustações e todas as dores. Que o Senhor de nossas vidas, o Deus transcendente, do diálogo, da escuta e do acolhimento, destaca dom Emanuel de Maria Nascimento.

Famílias no cuidado da saúde mental dos filhos

Com a depressão, crianças e adolescentes passam a ser um grupo de risco para o suicídio. E as famílias que devem ter o cuidado de estarem atentas aos sinais e procurar de imediato a orientação de um profissional. E revelarem o amor e cuidado com os filhos. Sempre estarem abertos ao diálogo e escuta dos problemas dos filhos.

“A anatomia do suicídio pode levar a uma pessoa a se perder no meio de traumas e dores e a muitas vezes desconhecer o valor e o verdadeiro significado de saber reinterpretar aquilo que tal vez o conduz constantemente a perseverar”: Padre Rafael Solano – Sacerdote da Arquidiocese de Londrina e Professor da PUC/PR.

Padre Rafael
Padre Rafael

O Cuidado da Saúde mental dos padres

O suicídio é provocado por diversos fatores que se associam: psicológicos, familiares, culturais e sociais. A maioria das pessoas que atenta contra a própria vida tem um transtorno mental ou emocional diagnosticável. Mas a maioria, por puro preconceito, não procura um profissional de saúde mental”, afirmou. É preciso entender e acolher essa pessoa, ouví-la, escutá-la, sem julgar, condenar, sem despejar discurso religioso na cabeça dela” Padre Lício de Araújo Vale

Diante de uma estatística alarmante e tempo para cuidar da saúde mental dos padres. Um número preocupante de padres que cometerem suicídio acende um alerta na Igreja no Brasil para evitar novos casos. Em silêncio – até agora –, a Igreja Católica convive com uma onda de adoecimento mental de religiosos. A face mais dramática do problema é o número de suicídios: foram 35 casos notificados entre agosto de 2016 e agosto de 2023. Esses números foram contabilizados pelo padre e pesquisador Lício Vale, especialista em Prevenção e Convenção em Suicídio pela Universidade Federal de Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio. 

O objetivo é motivar a pessoa, seja padre ou não, jovem ou adolescente, a buscar o serviço de saúde mental e o profissional da área, para que essa dor que o atormenta possa ser olhada com cuidado. O suicida não quer matar a sua vida, ele quer matar a sua dor, sua dor mental, sua dor emocional. Se a gente for capaz de acolher essa dor e cuidar dela, a gente faz prevenção e minimiza o risco de a pessoa se matar,  alertou Padre Licio.

Padre Lício

“Os padres, sobretudo os diocesanos, sofrem muito de solidão. Moram sozinhos na casa paroquial e têm poucos vínculos afetivos, embora a grande maioria seja amado pelo povo. A vida sacerdotal é mais complexa do que as pessoas imaginam. Além de administrar sacramentos, fazer reuniões, cuidar da paróquia, ele tem de ser administrador, entender de contabilidade e ser psicólogo, muitas vezes, porque não há quem ouça o povo”: Padre Lício de Araújo Vale

Episódios de suicídio impactam todo o entorno: familiares, amigos e colegas de trabalho, entre outros. No caso da morte de um padre, sobretudo, há uma comunidade inteira que tende a atravessar um luto. A religiosidade pode vir a ser um fator de proteção ao indivíduo, considerando a sensação de pertencimento e acolhimento –  desde que não sejam impostos novos estigmas. 

Uma luta que continua e a prevenção ajuda salvar vidas

Padre Rafael Solano, destaca que as desistências na vida hodierna são cada vez mais frequentes. O desistir se tornou muito mais do que uma mera justificativa.  Não são poucos os bispos e presbíteros que ao longo da sua vida e do exercício qualificado do seu ministério já pensaram em desistir. Não é desistir por desistir, mas sim desistir porque não suportam mais o que estão vivendo.

Posso desistir de tudo inclusive de mim mesmo. Por diversos fatores na nossa vida ministerial bispos e presbíteros nos vemos algumas vezes “dominados” por um certo interrogante no que diz respeito a nossa perseverança. Perseverar para que? Não é verdade que todos os ministros ordenados no dia da sua ordenação tenham a total maturidade para transformar no dia a dia das suas vidas aquilo que escolheram como “lema” do se ministério e mantê-lo assim até o final, revela Padre Solano.

As estatísticas são alarmantes de padres que cometeram suicídio no Brasil.  Padre Rafael pontua que falar sobre o suicídio é fundamental para poder evitar desastres nas próprias vidas e nas dos irmãos. 

Perseverar e sobreviver não são necessariamente termos sinônimos mas se olharmos com atenção e cuidado, se tentamos observar as qualidades de um sobrevivente perceberemos que tanto um quanto outro teve que se esforçar suficientemente ao ponto de não perder a maior das esperanças: superar os traumas e as dores, conclui.

 

Fotos: Antônio Filho e Ricardo Gomes

Vídeos: Ricardo Gomes

Com informações do site

www.intercept.com.br

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06 novembro 2023, 14:19