Estátua da 'Memória Amarga da Infância', de Petro Drozdowsky, no complexo do Genocídio Holodomor do Museu Nacional em Kiev, Ucrânia, 25 de novembro de 2023. (Foto: Valentyn Ogirenko) Estátua da 'Memória Amarga da Infância', de Petro Drozdowsky, no complexo do Genocídio Holodomor do Museu Nacional em Kiev, Ucrânia, 25 de novembro de 2023. (Foto: Valentyn Ogirenko) 

Shevchuk: a Grande Fome queria matar desejo de liberdade dos ucranianos

"O Holodomor de 90 anos atrás e a guerra em curso na Ucrânia hoje são ambos causados ​​pelo mesmo mal: o insaciável imperialismo russo. Vamos unir forças e juntos deter o mal. Permaneçamos unidos na luta contra as forças do mal, naquela que é uma batalha espiritual. Porque a batalha da Ucrânia hoje é uma luta pela liberdade humana em todos os países, em todas as culturas e entre todos os povos."

"Transcorre a 93ª semana da grande guerra que o ocupante russo trouxe à nossa pacífica terra ucraniana. Ao longo de toda a linha da frente, a tensão nos combates persiste sem tréguas. O inimigo bombardeia constantemente cidades e aldeias ao longo das fronteiras das nossas regiões de Chernihiv, Sumy e Kharkiv. Onde quer que possa estender a sua mão assassina, o inimigo continua a atacar as pacíficas cidades e aldeias da Ucrânia.

No Dia da Memória do Holodomor, quando a Ucrânia recorda o 90º aniversário da grande fome e do genocídio, a nossa cidade, Kiev, a nossa capital, foi palco do mais massivo ataque de drones na história da guerra. Esta luta acual, este confronto com o mal que a Ucrânia trava hoje, tem todos os sinais de uma batalha espiritual.

Sabemos que na guerra espiritual, quando uma pessoa que crê enfrenta as forças do mal, essas forças podem ser extremamente poderosas e o seu ataque pode ser intensamente forte. No entanto, a vitória contra o mal é definida como resiliência. Vence quem não se rende. Vence quem não abaixa as mãos. Vence quem resiste neste confronto.

Uma pessoa caminha com velas enquanto presta homenagem às vítimas da fome de 1932-1933 no Museu Nacional do Holodomor-Genocídio em Kiev, em 25 de novembro de 2023. (Photo by Roman PILIPEY / AFP)
Uma pessoa caminha com velas enquanto presta homenagem às vítimas da fome de 1932-1933 no Museu Nacional do Holodomor-Genocídio em Kiev, em 25 de novembro de 2023. (Photo by Roman PILIPEY / AFP)

Não podemos destruir os espíritos do mal nos espaços celestiais, mas podemos opor-nos ao seu ataque, que nunca é eterno, nem sempre forte, mas temporário. Observamos hoje uma situação semelhante na Ucrânia. O inimigo quer desgastar o nosso povo, quer nos fazer perder a fé, nos desanimar e deseja a nossa rendição. No entanto, a Igreja ucraniana, as nossas Igrejas e organizações religiosas permanecem como portadoras de esperança. Levamos conosco Cristo, que é a fonte da resiliência do nosso povo. É por esta razão que resistiremos como nação, como Estado, como povo de Deus. Hoje, queremos dizer a nós mesmos e ao mundo inteiro: a Ucrânia resiste, a Ucrânia luta, a Ucrânia reza!

Noventa anos desde a grande carestia e genocídio na Ucrânia. Esta última é uma data triste e dolorosa. O regime de Stalin matou mais de sete milhões de ucranianos pela fome artificial. Esta carestia era artificial porque, embora as terras ucranianas tivessem produzido colheitas abundantes naquele ano, as autoridades soviéticas confiscaram tudo.

Pessoa coloca trigo diante da estátua da 'Memória Amarga da Infância', de Petro Drozdowsky, no complexo do Genocídio Holodomor do Museu Nacional em Kiev. (Photo by Oleg Petrasyuk)
Pessoa coloca trigo diante da estátua da 'Memória Amarga da Infância', de Petro Drozdowsky, no complexo do Genocídio Holodomor do Museu Nacional em Kiev. (Photo by Oleg Petrasyuk)

Esta carestia foi um verdadeiro genocídio, uma vez que o Estado tinha a intenção deliberada de matar os ucranianos como nação, como povo, como cultura. A Grande Fome teve como objetivo não apenas matar o corpo, mas também semear um medo paralisante em relação ao desejo de liberdade.

A Grande Fome tinha por objetivo matar permanentemente o desejo dos ucranianos de serem eles mesmos, o desejo de serem pessoas livres.

E, infelizmente, esse trauma, que é um trauma espiritual, assim como um trauma psicológico, tem a propriedade inerente de ser transmitido de geração em geração. E, infelizmente, constitui uma parte da nossa situação atual, da nossa identidade, a de uma nação pós-genocídio. É por isso que hoje é tão importante lembrar e homenagear aqueles que foram inocentemente mortos pela fome na Ucrânia.

Mas este ato de recordação e comemoração tem um efeito terapêutico e curativo. A recordação nos liberta. A memória nos faz compreender que ser nós mesmos não só é possível, mas também necessário. Não somente é legítimo desejar a liberdade, mas o Senhor Deus nos dá esta liberdade como seu dom. O dom da dignidade, o dom da liberdade. É por isso que os ucranianos estão profundamente gratos a todos aqueles que hoje, juntamente connosco, prestam homenagem às vítimas desta grande catástrofe, que tocou os próprios alicerces da humanidade.

Este trauma superou em muito as fronteiras do povo ucraniano. Estamos gratos a todos os países que reconhecem o Holodomor como um genocídio. Mais de trinta nações em todo o mundo já comemoram esta ferida e a dor da Ucrânia.

Oração de sacerdotes ucranianos junto à "Bitter Memory of Childhood" no National Museum os the Holodomor-Genocide em Kuev. (Photo by Roman Pilipey/AFP)
Oração de sacerdotes ucranianos junto à "Bitter Memory of Childhood" no National Museum os the Holodomor-Genocide em Kuev. (Photo by Roman Pilipey/AFP)

Podemos observar que a atual guerra que a Rússia está travando contra a Ucrânia tem todos os indicadores de um genocídio. A Rússia pretende subjugar mais uma vez a Ucrânia como a sua antiga colônia e extinguir o próprio desejo de liberdade do povo ucraniano. Pretende suprimir esta capacidade de liberdade nos ucranianos. Contudo, vemos que a Ucrânia não foi aniquilada há 90 anos e a Ucrânia não se rende. Continuará a resistir também hoje.

Apelo a todas as pessoas de boa vontade em todo o mundo. Dirijo-me a todos aqueles que atualmente têm o que comer e que, durante este inverno, vivem em condições confortáveis ​​e quentes. Convido-vos a pensar nos sete milhões de ucranianos que necessitarão de assistência imediata para se alimentarem e manterem aquecidos neste Inverno. O Holodomor de 90 anos atrás e a guerra em curso na Ucrânia hoje são ambos causados ​​pelo mesmo mal: o insaciável imperialismo russo.

Vamos unir forças e juntos deter o mal. Permaneçamos unidos na luta contra as forças do mal, naquela que é uma batalha espiritual. Porque a batalha da Ucrânia hoje é uma luta pela liberdade humana em todos os países, em todas as culturas e entre todos os povos.

Deus, proteja a Ucrânia. Deus, cure a ferida do nosso povo. Esta ferida, que hoje completa 90 anos, mas também este trauma, infligido ao nosso povo por esta cruel guerra de longa duração. Deus, abençoe as crianças da Ucrânia. Dê-nos forças para não nos cansarmos. Dá-nos forças para resistir, porque sabemos que o mal pode ser derrotado não pelo poder humano, mas apenas pelo poder de Deus. Portanto, Deus, abençoe a Ucrânia com a tua justa paz celestial."

Svyatoslav +
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana

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Ucranianos recordam vítimas do Holodomor
27 novembro 2023, 08:39