Dom Murilo Krieger: Os Presépios, 800 anos de História
Dom Murilo S.R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia
Na noite de 24 de dezembro de 1223 – portanto, há oitocentos anos -, na cidade de Greccio – Itália, nascia a tradição de se fazer presépios. Por trás dessa iniciativa estava Francisco de Assis, que queria representar a cena do nascimento de Jesus em Belém, para que todos pudessem compreender melhor a grandiosidade daquele acontecimento que, aparentemente, é tão simples: uma criança que nasce em uma gruta.
O local escolhido para a apresentação da cena do nascimento de Jesus foi uma gruta no alto de um monte, onde um cardeal celebrou a santa Missa. Francisco, que dava uma grande importância ao Natal, falou, então, aos fiéis sobre Jesus, o Emanuel, o Deus-conosco. Ele queria que o povo, diante do presépio, experimentasse de maneira concreta, viva e atual, a humilde grandeza do nascimento do Menino Jesus. A partir daí, o presépio se popularizou na Europa e rapidamente foi levado para os demais continentes. Isso fez com que o povo de Deus passasse a acolher mais facilmente a mensagem do Natal e, com nova intensidade, amasse e adorasse a humanidade de Cristo. Até as pessoas mais simples começaram a compreender que no Natal Deus nos mostra quanto está próximo de nós, tão próximo que podemos tratá-lo com simplicidade, tendo com ele um relacionamento afetuoso, como fazemos com um recém-nascido que pegamos nos braços.
Com a popularização do Natal, a fé cristã passou a ser vista sob uma nova dimensão. A Páscoa havia chamado a atenção de todos para a força de Deus que vence a morte e inaugura uma vida nova. Já a festa do Natal coloca em evidência que o nascimento de Cristo é a vitória da verdadeira luz sobre as trevas, a vitória do amor sobre o pecado. São Francisco, com o seu presépio, colocou em destaque o delicado amor de Deus, sua humildade e benignidade, que na encarnação do Verbo se manifesta aos homens para ensinar-nos um novo modo de viver e amar.
Um famoso biógrafo de São Francisco, Celano, conta que naquela noite de Natal, em Greccio, foi concedida a Francisco a graça de uma visão maravilhosa. Ele viu deitado, imóvel, na manjedoura, uma pequena criança, que se acordou quando Francisco se aproximou do presépio. “Essa visão correspondia aos fatos porque, por obra da graça divina que agia por meio de seu santo servo Francisco, o Menino Jesus ressuscitou no coração de muitos que o haviam esquecido e ficou impresso profundamente em sua memória amorosa”.
Com a representação do presépio, o santo de Assis ajudou crianças e adultos a compreender melhor o anúncio do profeta Isaías: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz... Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” (Is 9,1.5). Receber Jesus como criança, como Menino, nos ajuda a compreender as palavras de Jesus: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos Céus” (Mt 18,3).
Hoje, não importa de que maneira são feitos, os presépios têm as mesmas características: em seu centro está Jesus. Todas as figuras estão voltadas para ele. Maria está a seu lado; José o protege. Os pastores o visitam e se mostram surpresos com o que veem; os Magos do Oriente trazem seus presentes ao Menino que os levou a fazer uma longa viagem. Jesus, recém-nascido, nada diz. Sua presença, contudo, é um forte grito de amor.
A partir do exemplo de São Francisco de Assis, somos convidados a montar um presépio em nossa casa. Ajudaremos assim crianças, jovens e adultos a compreender melhor o presente que o Pai nos dá no Natal: Seu Filho Jesus. E, diante do presépio, saibamos nos dirigir à Criança de Belém com uma prece, que pode ser assim:
Aqui estamos para te adorar, Menino Jesus! Ficamos sem palavras diante da grandeza e da simplicidade do teu amor! Tu és o Emanuel, o Deus conosco. Vieste até nós para nos comprovar o quanto tu nos amas. És pobre, és frágil, és pequeno. És divino, és grandioso, és o Príncipe da paz! Tu nos ofereces o perdão, a amizade com o Pai do céu, a vida da graça. Por isso, aqui estamos para colocar sob os teus pés e em teu coração a nossa vida e tudo o que somos e temos. Nós te trazemos muitos irmãos e irmãs que sofrem e que não te amam porque não te conhecem. Já que vieste também para eles, toca seus corações, Jesus. Dá-lhes a graça de descobrirem o quanto tu amas cada pessoa, com um amor sem limites. Queremos que todos te conhecem e te sigam, e possam, um dia, realizar aquilo para o que todos nós fomos criados: adorar a Santíssima Trindade sempre, eternamente.
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