Cuidar da beleza para construir a paz e a fraternidade

Paolo Ondarza - Cidade do Vaticano

Um lugar com um sentir comum, onde todos os homens e mulheres em busca da verdade se sintam próximos. É a beleza, repetidamente indicada pelo Papa Francisco como uma aliada preciosa para um autêntico empenho na defesa da dignidade do homem, na construção da convivência pacífica entre os povos e no cuidado da criação. A ela é dedicado um curso de formação avançada promovido pelo Instituto Superior de Ciências Religiosas Ecclesia Mater, ligado à Pontifícia Universidade Lateranense e em colaboração com a Diocese de Roma, a Opera Romana Pellegrinaggi e alguns docentes da Universidade de Tor Vergata.

A iniciativa intitulada “Cuidar da Beleza”, apresentada na tarde de terça-feira, 5, na Sala Pio XI da Universidade, é dirigida a todos os profissionais que trabalham nos setores culturais e educativos da sociedade, para a valorização do patrimônio cultural e das artes.

O curso é articulado em semestres, com módulos presenciais e on-line, e se realiza no período vespertino. Rica é a oferta de cursos, que também poderãio ser frequentados individualmente: Estética teológica, Comunicação e valorização do patrimônio, Geografia cultural, História da Igreja de Roma e do Jubileu, Gestão dos bens culturais e legislação, Referências antropológico-teológicas na história da arte, apenas para citar alguns.

A Criação de Eva pintada por Michelangelo na Capela Sistina

Beleza, diálogo e esperança

Segundo os promotores, uma educação estética pode ajudar a reconstruir uma memória antropológica comum que representará um concreto e autêntico espaço de diálogo, encontro e esperança entre todos os homens. Durante a apresentação, após as saudações institucionais, pronunciaram-se o vice-gerente do Vicariato de Roma, monsenhor Baldassarre Reina, o delegado para a cultura, monsenhor Riccardo Lamba, e a diretora dos Museus Vaticanos, Bárbara Jatta, que também realizará a Lectio Magistralis inaugural no dia 21 de fevereiro.

Educação estética e social

“O curso - explica à Rádio Vaticano-Vatican News Claudia Caneva, diretora do Instituto Superior de Ciências Religiosas Ecclesia Mater à - pretende contribuir para um cuidado da beleza, especialmente num contexto como o contemporâneo, onde se sente a necessidade de construir um nova estrutura de comunicação. Acreditamos que a educação estética, a educação da beleza é também uma educação social. Como disse o filósofo Jürgen Habermas, o homem esteticamente educado é um homem também destinado a conciliar a sua situação humana com a sua condição civil”.

Cúpula da Basílica de São Pedro

Fraternidade, paz e cuidado com a criação

A diretora do Instituto Ecclesia Mater sublinha também como o curso se inspira nas palavras de Francisco sobre a beleza: “O Papa considera-a como um sentir comum, um lugar onde todos os homens e mulheres podem sentir-se próximos, mesmo que pertencendo a uma tradição religiosa específica. Um precioso aliado em favor de um empenho com a defesa da dignidade humana, para a construção da convivência pacífica entre os povos e para o cuidado da criação”.

Professora Caneva, o tema da beleza é particularmente caro ao Papa e, de forma mais geral, aos Papas. Além das já mencionadas palavras de Francisco, a brochura contém também as de Bento XVI segundo quem “a experiência da beleza não é algo acessório, mas leva a uma estreita comparação com a vida cotidiana para libertá-la das escuridões e transfigurá-la”. Por que esta atenção particular por parte dos Pontífices?

A beleza sempre esteve no centro das linhas programáticas dos vários pontificados ,porque está ligada à felicidade. A beleza, como também dizia Kant, diz respeito à questão: “o que posso esperar?”. Está, portanto, ligada ao tema da felicidade e da esperança. João Paulo II, dirigindo-se aos artistas, destacou a sua especificidade em dar forma ao mistério, à nostalgia do eterno. A beleza consegue comover porque toca a parte mais íntima do ser humano onde se colocam as grandes questões de sentido da vida.

Artistas participantes do encontro promovido por ocasião dos 50 anos da inauguração da Coleção de Arte Moderna dos Museus

Pensando nas importantes emergências educacionais destacadas pelas notícias diárias, a beleza pode ter uma função educativa? Pode ajudar os jovens, quem sabe nas escolas, a elevar o olhar e a não se habituarem ao que é feio?

Pode realmente criar um espaço de encontro e de esperança entre todos. Em um contexto, sobretudo como o contemporâneo, caracterizado muito pelo conflito, pela competição e pelo útil, a beleza recupera um sentido de esperança, uma memória antropológica comum, uma ideia segundo a qual a vida não está pregada apenas à dimensão da materialidade. O Instituto Superior de Ciências Religiosas Ecclesia Mater decidiu promover um curso de formação de alto nível sobre cuidat da beleza, dirigido também aos professores de religião católica nas escolas. Estamos firmemente convencidos que a presença da religião católica tem um papel fundamental na formação cultural dos estudantes. Caso não se compreendesse esta sensibilidade cristã católica, não se compreenderia todo o patrimônio artístico que faz parte da nossa cultura. Espero que este curso seja bem recebido com esta ideia formativa. Na expectativa do Jubileu, penso em todos aqueles operadores que acompanharão as pessoas e que por meio da beleza poderão transmitir valores partilhados, de uma humanidade que pertence a todos nós.