Cardeal Tempesta: A Mulher na Igreja
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Celebramos nesta sexta-feira o Dia Internacional da Mulher celebrado em todo o mundo no dia 8 de março. Mais do que um dia de comemoração ou festa, é um dia de reflexão e de recordar a importância de tantas mulheres que fazem e fizeram parte da história. Recordar sobretudo as Santas mulheres que deixaram a sua marca no mundo fazendo o bem.
Neste dia podemos refletir sobre os direitos da mulher na sociedade de hoje, pois essa comemoração do Dia Internacional da Mulher começou justamente pela busca das mulheres por seus direitos na sociedade: as mulheres precisavam lutar por seus direitos, como por exemplo ter salários e cargos compatíveis com suas condições e não ter diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho.
Essa busca por melhores direitos por parte das mulheres continua até os dias de hoje, as mulheres ainda precisam de melhores condições de trabalho, melhores salários e cargos equiparados com os cargos dos homens. As mulheres precisam ainda ser respeitadas em sua dignidade. As mulheres são mães, avós, tias, madrinhas.
Infelizmente temos acompanhado o crescimento de casos de feminicídio, muitos homens que não respeitam as suas esposas ou namoradas, e por conta de brigas e discussões acabam partindo para a violência e até o assassinato de suas companheiras, ao invés de resolverem as diferenças na conversa. Por isso, as mulheres ainda precisam fazer um movimento para acabar de vez com o feminicídio e para que sejam respeitadas por seus esposos e parceiros.
O matrimônio é o fruto do amor entre o homem e a mulher, que a exemplo da Sagrada Família de Nazaré devem se doar e amar um ao outro. O homem deve respeitar e cuidar da sua esposa até o final de suas vidas e no dia do matrimônio ambos prometem fidelidade um ao outro. A mulher se une ao seu esposo na esperança de ser amada e respeitada e toda mulher tem o desejo de casar-se e ser feliz.
O Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU), na década de 1970. A data foi oficializada com o intuito de lembrar a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. No início a reivindicação era apenas para igualdade salarial, mas nos dias de hoje a luta é para que as mulheres sejam mais respeitadas e o feminicídio e tantos outros crimes contra as mulheres tenham fim. Esse dia 8 de março é um dia em que todas as mulheres devem dizer um basta a toda violência sofrida por elas.
O Dia Internacional da Mulher existe como o resultado da luta de mulheres por meio de manifestações, greves e comitês. Essa mobilização aconteceu ao longo de todo o século XX dando importância para a data do dia 8 de março. A definição dessa data está relacionada a uma série de acontecimentos.
Na Igreja as mulheres também exercem um papel fundamental, pois muitas mulheres são ministras extraordinárias da Sagrada Comunhão, levando Jesus Cristo para aquelas pessoas que não podem ir à Igreja e tantas outras missões e coordenações. Se observarmos todas as pastorais de nossas paróquias, veremos que o número de mulheres é bem maior que o número de homens. Se observarmos as missas, sobretudo as dominicais, em geral, a frequência maior é de mulheres. Através do toque feminino a Igreja está sempre ornamentada e bonita, pois tem uma equipe formada na maioria por mulheres que cuidam dessa parte de ornamentação na paróquia. As mulheres cuidam das alfaias da igreja e dos paramentos litúrgicos dos sacerdotes.
Outra função importantíssima que as mulheres exercem na Igreja é de catequista: quantos de nós não nos recordamos de nossas catequistas que nos conduziram no caminho da fé? Nesse Dia Internacional da Mulher lembremos dessas mulheres que exercem um papel fundamental na Igreja e nos introduziram nos caminhos da fé. As catequistas são o braço direito do padre, pois anunciam Jesus Cristo muitas vezes onde o padre não consegue ir.
São em sua maioria mulheres que trabalham nas secretarias de nossas paróquias, nas secretárias de nossas cúrias metropolitanas, e ainda são as mulheres que trabalham nas casas paroquiais.
O Papa Francisco, aqui no Rio de Janeiro, disse que: A Igreja é mãe: aprofundar a teologia da mulher. Imediatamente deve ser enfatizado que a reflexão do Papa Francisco sobre a mulher se move do ponto de vista teológico. Isso se entende bem quando, em 28 de julho de 2013, respondendo aos jornalistas no voo papal de retorno da JMJ no Rio de Janeiro afirma que “uma Igreja sem as mulheres é como o Colégio Apostólico sem Maria”. Francisco enfatiza sempre que “a Igreja é feminina, é esposa, é mãe”. Uma afirmação que é ainda mais significativa lendo-a novamente quatro anos depois, à luz da decisão de escrever no Calendário litúrgico a memória da “Beata Virgem Maria, Mãe da Igreja”. Em diversas ocasiões, o Papa se queixa de que na Igreja ainda não se fez “uma profunda teologia da mulher”. Ele fez isso em particular em 12 de outubro de 2013, quando – recebendo os membros do Pontifício Conselho para os Leigos, no dia 25 anos da Mulieris Dignitatem de São João Paulo II – afirma que, na Igreja, “é importante perguntar-se que presença tem a mulher”. Para mim, acrescenta, “gosto também de pensar que a Igreja não é o Igreja, é a Igreja. A Igreja é feminino, é mãe” e devemos “aprofundar a nossa compreensão disso”.
Não podemos esquecer de mencionar as religiosas e consagradas que se entregam totalmente a Cristo e a Igreja por amor. Toda vocação é um chamado de Deus e por amor dizemos sim ao chamado de Deus. Normalmente as religiosas são catequistas, cuidam da parte litúrgica, algumas trabalham nas casas paroquiais e episcopais, assim como trabalham na cúria metropolitana. As religiosas ajudam na distribuição da comunhão e realizam a visita aos enfermos, e de certo modo movimentam a vida paroquial, dão um novo ânimo. Algumas religiosas trabalham com os jovens e com comunicação. Não podemos esquecer que as religiosas, particularmente, as monjas de clausura, rezam e rezam muito pelas necessidades da Igreja e da humanidade. Presentes nos vários conselhos exercem também a missão de coordenação.
No dia dedicado às mulheres, elevemos uma prece todas elas, principalmente por aquelas que foram nossas catequistas, por nossas madrinhas e por nossas mães. Rezemos ainda, para que as mulheres sejam respeitadas em sua dignidade e tenham vez e voz na sociedade. Que todos os maridos respeitem as suas mulheres e que o feminicídio possa ter um fim.
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