Pároco de Gaza: na Páscoa, 'trégua e ajuda' para uma população 'abandonada'
Vatican News
"Algo está se movendo" no pântano da diplomacia internacional, no qual até agora prevaleceram as proclamações de guerra e o ribombar das armas, com o peso dramático de morte e destruição. No entanto, a esperança é que essa trégua possa "se tornar efetiva" e incluir "ajuda humanitária real para toda a população, sobretudo para os mais abandonados no norte". O pároco da Sagrada Família em Gaza, padre Gabriel Romanelli, ainda bloqueado em Jerusalém (e antes, em Belém) e impossibilitado de retornar à Faixa desde o início do conflito devido ao fechamento da fronteira imposto por Israel, olha para a votação desta segunda-feira na Onu com uma esperança cautelosa. Um primeiro passo para tentar conter a escalada do conflito resultante do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, ao qual o Estado judeu respondeu lançando uma campanha militar devastadora com sua carga de morte e destruição.
"Até mesmo os superlativos - explica à agência AsiaNews o padre argentino verbita - não são mais suficientes para descrever a natureza dramática da situação, o número de mortos que continua a aumentar, o número de feridos que está crescendo, bem como os que estão morrendo de fome, sobretudo as crianças. E os doentes que acabam sucumbindo por falta de tratamento, não apenas os mais de 70.000 feridos na guerra, mas também aqueles que sofrem de patologias comuns que podem ser tratadas com medicamentos, como o diabetes". Por isso, adverte, a decisão desta segunda-feira "é positiva", mas deve ser acompanhada por duas outras "medidas fundamentais: permitir que a ajuda humanitária na forma de alimentos e medicamentos entre no norte e, ao mesmo tempo, interromper a invasão do sul". Também porque ambos ajudariam nas negociações para a libertação" daqueles que ainda permanecem, israelenses e estrangeiros, nas mãos do Hamas.
Votação na Onu e trégua
Na segunda-feira, o Conselho de Segurança da Onu (com a abstenção dos EUA) adotou uma resolução que visa a um cessar-fogo imediato em Gaza "durante o Ramadã", o mês sagrado de jejum e oração islâmico, que termina na noite de 9 para 10 de abril com o Eid al-Fitr. A meta continua sendo uma trégua "duradoura e sustentável" a longo prazo, combinada com o retorno "imediato e incondicional" dos reféns à liberdade e maior acesso à ajuda humanitária para os civis. Uma decisão há muito esperada por grupos de ativistas e organizações internacionais, que denunciam uma situação dramática na Faixa de Gaza, onde a fome e a penúria, bem como a falta de assistência médica, estão afetando uma parte cada vez maior da população.
Em resposta, nessas mesmas horas, o governo israelense e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu - nunca tão distante do aliado estadunidense - decidiram retirar sua delegação das negociações em andamento em Doha sobre o conflito em Gaza e a troca de prisioneiros com o Hamas. O anúncio foi feito pela rádio pública israelense, segundo a qual a decisão está ligada à votação desta segunda no Palácio de Vidro e à posição definida como "intransigente" pelo grupo extremista que controla a Faixa: de fato, os líderes do movimento informaram aos mediadores do Catar e do Egito sua intenção de permanecer firmes nas solicitações originais, começando com a retirada do exército israelense da Faixa, o retorno dos deslocados e a libertação dos prisioneiros. Enquanto isso, os ataques aéreos e as operações militares em terra continuam desafiando a resolução da Onu, com ataques perto de Rafah, no extremo-sul da Faixa de Gaza, onde estão reunidos cerca de 1,5 milhão de refugiados palestinos. "Não devemos desistir, mas continuar trabalhando com a coragem da paz", enfatiza o padre Romanelli, tentando colocar "um freio à violência, às armas: devemos chegar a uma solução, mesmo que não seja perfeita. O cessar-fogo - continua ele - é o primeiro passo, mas para que seja verdadeiro, as armas devem ser silenciadas. Toda a população da Terra Santa está sofrendo, mas os habitantes de Gaza estão sofrendo mais".
Páscoa negada
Da Terra Santa também chegaram notícias sobre a proibição da entrada de milhares de cristãos da Cisjordânia em Jerusalém, para participar das celebrações programadas para a Semana Santa, começando com a Missa do Domingo de Ramos, em 24 de março. Há dias, os soldados do exército israelense e as forças de segurança têm patrulhado as ruas e vigiado os postos de controle que cercam a cidade santa, impedindo o acesso à festa mais importante do calendário litúrgico. Esse é mais um golpe para a sobrevivência de uma comunidade já marcada pela ausência de peregrinos, o que não apenas reforça o clima de isolamento, mas também coloca a economia de joelhos: efetivamente, dezenas de milhares de famílias cristãs palestinas vivem da renda do turismo religioso e não se beneficiam dessa renda há meses. Apenas um pequeno grupo de cristãos do exterior chegou a Jerusalém no fim de semana para vivenciar a Semana Santa, começando com a tradicional Missa do Domingo de Ramos presidida pelo patriarca latino de Jerusalém, o cardeal Pierbattista Pizzaballa.
"As celebrações desses dias - conta o padre Romanelli - contêm uma mistura de amargura e alegria. A celebração dos Ramos no Oriente Médio é muito popular, especialmente entre as crianças que a consideram sua festa no contexto cristão, mas os ritos foram reduzidos ao essencial, à parte litúrgica, como os muçulmanos fazem com o Ramadã". As pessoas, sejam cristãs ou muçulmanas, não querem negligenciar "a parte religiosa, a fé é um componente essencial para o Oriente Médio e isso se aplica ainda mais à Semana Santa". Desde esta segunda, têm-se as Lamentações de Jeremias, a Liturgia das Trevas, há a Missa e depois as Vésperas, mas basicamente permanece uma atmosfera de profunda tristeza porque não se vê um termo, não há fim à vista. No passado era diferente, era possível entender quanto tempo um conflito poderia durar, mesmo que durasse várias semanas, enquanto desta vez ninguém vê um fim".
Sobre o não comparecimento dos cristãos da Cisjordânia, uma das razões poderia ser a concessão "extremamente tardia" e "de apenas um dia" das autorizações pelas autoridades israelenses, o que não possibilitou a viagem a Jerusalém. Dirigindo-se aos cristãos da Faixa de Gaza, a maioria dos quais está refugiada na paróquia da Sagrada Família, o padre Romanelli os convida a "resistir, como sempre fizeram, em meio às provações, porque não estão sozinhos". Afinal, o habitante do Oriente Médio, cristão e muçulmano, é uma pessoa "de fé e devoção, sobretudo em tempos de provação. No nível existencial da vida - continua ele - o ambiente da Terra Santa se tornou hostil para todos. Esse conflito está mudando muito a realidade local, também em um nível material, onde muitos perderam seus empregos, mesmo e sobretudo entre aqueles que viviam graças ao turismo religioso e às peregrinações. Há também as licenças de trabalho canceladas, as restrições de viagem e os bloqueios que acabam afetando as pessoas comuns" na dimensão cotidiana na Faixa de Gaza e fora dela.
(com AsiaNews)
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