Benefícios da prática religiosa e espiritual no enfrentamento das violências domésticas
Padre Wladimir Porreca - Brasília
Um grupo de pesquisadores da Universidade Brasília/Brasil (Marlene M. Magnabosco, Beatriz F.P. Souza, Laura M. S. Bello), representado pelo Padre Wladimir Porreca, diocese de São João da Boa Vista - SP/Brasil, concluiu uma pesquisa sobra os benefícios da prática religiosa e espiritual no enfrentamento as violências domésticas. A investigação, por meio de entrevistas qualitativas, com perguntas abertas e narrativas, realizadas em formato digital, envolvendo 10 casais brasileiros com idades entre 40 e 60 anos, casados há mais de 15 anos e que se identificavam com pertença religiosa, apontou que espiritualidade/religiosidade desempenha um papel relevante no enfrentamento das violências conjugais.
Os pesquisadores consideraram que, de fato, a Religiosidade/Espiritualidade influencia na conjugalidade e pode ser um recurso no enfrentamento as violências conjugais. O estudo identificou e compreendeu que os elementos espirituais e religiosos que desempenham um papel significativo no enfrentamento das violências conjugais, principalmente, por destacar a importância do coletivo, que favorece a experiência do pertencimento e colabora com uma identidade de práxis, além de proporcionar e motivar elementos relacionais entre os cônjuges que geram Capital Social Familiar, como: respeito, pertença, tolerância, diálogo, persistência, perseverança, amor e outros, potencializados e justificados pelo sagrado e pelos membros dos segmentos religiosos, mesmo considerando fatores de risco que esses podem causar.
Considerações da pesquisa: Violências Conjugais e Religiosidade/Espiritualidade
A Religiosidade/Espiritualidade (R/E) impacta a vida conjugal, seja cristã ou não, um recurso “sagrado” que auxilia em prevenir e apresentar ferramentas para o enfrentamento da violência entre os casais. Principalmente por considerar a dignidade humana de cada cônjuge como imagem e semelhança de Deus, portanto, respeitar o outro como a si mesmo, utilizar a prática do diálogo, da tolerância, da paciência, da persistência e da perseverança, da esperança, do amor. Práticas essas, potencializadas e justificadas pelo Sagrado, presente nos ensinamentos bíblicos e no referencial Jesus Cristo, com o seu mandamento do “amor ao próximo” e no estilo de vida apresentado aos seus seguidores.
O aspecto de pertencimento a um grupo onde favorece desenvolver a R/E favoreceu com que os cônjuges pudessem contar com suporte emocional e social, que pode facilitar um relacionamento mais estável, duradouro e significativo, bem como moldar seus comportamentos, emoções e pensamentos pessoais e relacionais.
A R/E colabora para que as pessoas criem um espaço de falar e ser ouvido, na busca do comum - o Sagrado, o religioso, o espiritual - que constrói e descontrói conceitos e ações, muitas vezes cristalizadas e rígidas, bem como capacita os casais a lidarem com a vida na geração de Capital Social Familiar. Daí a importância de se entender que a R/E é uma questão de identidade pessoal e conjugal, muito mais do que doutrina ou prática religiosa, e está profundamente entrelaçada com todos os outros aspectos como da cultura, etnia, raça, gênero, orientação sexual, orientação politica. As R/E não só é um recurso potente e promissor no enfrentamento às violências conjugais, influenciam a vida conjugal e colaboram na geração de Capital Social Familiar. Principalmente em promover meios e condições para coibir e impedir pequenos violências, consideradas “pecados”, que podem assumir grande proporções. Como ensinamentos de paz e amor, orações, exercícios espirituais, leituras, respiração, meditação, redes de apoio psicossocial e proteção e outros.
Contudo, a R/E pode favorecer as violências conjugais quando justifica atos de violência, quando justifica a submissão da mulher, quando seus líderes incentivam o suportar as violências conjugais para manter o ideal de “indissolubilidade” (no caso judaico-cristão), intimidando os cônjuges a mascarar e esconder, por vergonha, disputa de casal ideal ou medo de fracasso, as realidades violentas e abusivas.
Como os casais não apresentaram diferença religiosa e espiritual entre si, a pesquisa ficou limitada a homogamia religiosa conjugal cristã, podendo despertar outras investigações que podem favorecer outras reflexões.
O casal religiosamente homorgânico cristão, bem como, os de outras denominações religiosas, tem, predominantemente, o desenvolvimento e a manutenção do repertório pessoal e social orientado e associado para as mesmas normas, preceitos e crenças, pautados nos mesmos ensinamentos religiosos que professam. A religião parece ser um fator que condiciona o comportamento pessoal e dual, bem como a moralidade e o desempenho de papéis conjugais dos casais homogâmicos.
O eixo religioso/espiritual apresentou mais associado a relação conjugal, quando além de afiliarem, ambos são praticantes da mesma religião, podem ainda contar com o apoio, assistência e “proteção” dos membros do seguimento religioso, bem como a instituição religiosa em si. E ainda, recorrer ao Sagrado religioso/espiritual como uma instância de obtenção de força, graças e bênçãos que o cônjuge pode recorrer.
Padre Wladimir Porreca. E mail: pwladimir@gmail.com
Texto na íntegra: https://medcraveonline.com/JPCPY/JPCPY-15-00767.pdf
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