Padre José Otácio encerra serviço como reitor do Pio Brasileiro, em Roma
Padre Modino – Vatican News
O padre José Otácio Oliveira Guedes está encerrando seu serviço como reitor do Colégio Pio Brasileiro em Roma, iniciado em 2020, um tempo em que considera que o passo mais importante foi “criar um ambiente leve, fraterno, no Colégio, os padres sentirem-se no Colégio como numa casa de irmãos”. Ele deu continuidade a uma longa história, dado que o Pio Brasileiro acaba de completar 90 anos. Nesta entrevista, ele nos explica o que é vivenciado nesse pedacinho do Brasil em Roma.
Está encerrando um serviço que a Igreja do Brasil lhe pediu nos últimos quatro anos. Como avalia o tempo que o senhor foi reitor do Colégio Pio Brasileiro em Roma?
O Colégio desde a mudança de gestão dos Jesuítas para a CNBB em 2014, o desafio é a manutenção do Colégio, a questão financeira, mas dadas as circunstâncias também da pandemia, um outro desafio que se tornou foi o número de estudantes. Nós conseguimos dar passos, porque o simples fato de ter passado dos Jesuítas para a CNBB, não quer dizer que os bispos tenham tomado no início o colégio como próprio, o que a gente sente já agora.
Nessa Assembleia foi encaminhado a decisão da Igreja no Brasil fazer um fundo de manutenção do Colégio, dado que o sistema de bolsas, a dependência de organismos internacionais tem caído. Esse foi um passo importante, os bispos darem se conta de que o Colégio é deles, e o outro concomitante é que eles têm sido muito sensíveis a enviar sacerdotes. O ano passado, os bispos enviaram 44 novos padres, de um número em torno de 50 no período da pandemia, passamos a 91 no ano académico 2023-2024.
Internamente, o passo dado mais importante foi criar um ambiente leve, fraterno, no Colégio, os padres sentirem-se no Colégio como numa casa de irmãos. Não é que fosse assim, mas pode se sentir como um hotel, uma hospedaria, mas os padres sentem como uma casa de padres, aberta a outros irmãos que lá chegam. Não é somente os habitantes, mas temos sempre hóspedes, o que internamente é uma avaliação positiva.
O Colégio Pio Brasileiro acaba de completar 90 anos de ser, em palavras do Papa João Paulo II, um pedacinho do Brasil em Roma, onde tem se formado um bom número daqueles que têm sido os bispos do Brasil nesses 90 anos. O que tem significado esses 90 anos para a Igreja do Brasil?
O Colégio acabou se tornando uma referência da preparação académica dos formadores aqui. São um bom grupo de bispos nessa história, mais de 170 bispos, mas muitos professores universitários, muitos assessores nos diversos regionais, são qualificados. Temos boas universidades no Brasil, mas é bom essa abertura, para não cair no problema da endogenia, todo mundo formado no mesmo lugar, pensando as mesmas coisas, Roma permite esse universalismo.
Nesses 90 anos deu uma contribuição importante, e a Igreja ainda continua vendo como uma vocação importante do Colégio, dado que o cardeal Parolin, ele enviou uma carta ao presidente da CNBB, então dom Walmor, dizendo da importância de continuar formando os padres lá em Roma. O Colégio em seus 90 anos tem cumprido essa missão e tem futuro ainda para manter essa vocação do Colégio.
O Pío Brasileiro foi recebido pelo Papa Francisco recentemente, o que mais lhe impressionou desse encontro com o Santo Padre?
A proximidade do Papa. Comumente o Papa, ele disse ao longo do seu pontificado aos padres, batendo no clericalismo e outras posturas nossas pouco evangélicas. Uma árvore quando se balança para cair frutos podres, e o Papa fez muito isso, nesse encontro a percepção foi que o Papa é aquele pai sério e afável. Inclusive ele, em vez de um discurso, abriu para perguntas, e nos disse: “fazei-me perguntas corajosas”. Isso é de alguém que está ali como parceiro da nossa missão, um pai justo, eu me recordo do bispo que me ordenou, dom Carlos Alberto Navarro, então me fez pensar nele, justo, correto, um homem seguro, sem moleza, mas ao mesmo tempo próximo. Esse encontro do dia 4 de abril foi maravilhoso com o Papa.
A Assembleia da CNBB tem aprofundado na elaboração das Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja, onde a formação e formar os outros é fundamental. Como os estudantes do Pio Brasileiro contribuem nessa dimensão na Igreja do Brasil?
Essas diretrizes, quem está à frente do Colégio tem que fazer ressoar lá também, porque nós que estamos lá, estamos muito em sintonia. A gente participa do processo da Igreja do Brasil, esse pedacinho do Brasil em Roma é uma expressão da Igreja em Roma. Nós sentimos, e essa imagem da tenda que foi escolhida como metáfora do Sínodo, mas que dará um tom às nossas diretrizes, essa imagem da mobilidade, nossos padres que estão se preparando em Roma, eles estão procurando essa sensibilidade do momento presente, haja vista a proximidade com o Papa, um dos aspectos que mais se destaca na estadia lá em Roma. Os padres contribuem seja acolhendo esse espírito, seja também acolhendo a proximidade com o Papa e voltando para o Brasil, puderem enriquecer também aqui.
As Diretrizes para a Ação Evangelizadora estão em sintonia com a sinodalidade. Tem quem diz que os padres somos quem mais dificuldade temos com a sinodalidade. Como está sendo cultivada essa sinodalidade no Pio Brasileiro?
Essa desconstrução do clericalismo, porque o clericalismo, como alguém já disse, não está tanto no coleto que usa, mas na cabeça que tem. Essa proximidade com o Papa, essa escuta do Papa Francisco auxilia. Depois nós que estamos na direção, agora também com a chegada de dom Armando Bucciol, que é um bispo bem inserido na CNBB, leva este espírito para que esta sinodalidade possa ser vivida.
Esta sensibilidade do Papa acolhida lá em Roma ajuda a vivenciar. E essa dificuldade que nós temos, ela se deve mais por ignorância do que realmente quer dizer nesse momento da Igreja, do que por motivos teóricos e doutrinários. Ignorância ou medo em nossas inseguranças, de qual seria nosso lugar na Igreja, falando mais do genérico dos padres. Agora, se nós sentimos que dentro do povo fiel de Deus, como diz o Papa Francisco, a gente não precisa estar procurando cadeira porque tem espaço para todo mundo, é uma tenda muito larga e a gente não vai ficar precisando defender espaços de poder.
No Pio, são importantes a figura do reitor e do diretor espiritual para dar esse tom de proximidade com o Papa e com esse momento sinodal da Igreja. Feito isso, os padres também vão colhendo um pouco por osmose esse espírito novo que propõe a Igreja, que não tem que ter medo do Evangelho. O Evangelho não vai tirar nada da gente, se vai tirar alguma coisa é aquilo que deve ser tirado mesmo, aquelas cascas, aquela sujeira que a gente vê naqueles edifícios antigos de mármore de Roma, que precisa dar uma lavada. O Pio Brasileiro, a contribuição dele, a principal, é através do estudo, acolher esse momento novo que está sendo proposto na Igreja, teológico até, através do pontificado do Papa Francisco.
De volta ao Brasil, como pretende continuar colaborando, primeiro com sua diocese de Niterói, e depois com a Igreja do Brasil?
Como estive como missionário em Porto Velho antes de ir para Roma nessa missão de reitor, eu sinto muita falta dessa dimensão pastoral. Venho com total disponibilidade, mas a minha colaboração, ela será de voltar para um ambiente de paróquia, esse é o desejado, espero que seja isso também como o bispo me encaminha. Mas volto também para o ambiente acadêmico, tenho que voltar a lecionar na Pontifícia Universidade Católica do Rio e devo auxiliar também na direção espiritual dos seminaristas da minha diocese, no intuito de colaborar na formação dos futuros sacerdotes.
Não tenho ainda uma missão toda delineada, estou retornando com o coração bem disponível, mas desejoso de que a vontade de Deus através da Igreja seja a experiência de uma paróquia.
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